Estado de emergência declarado no Peru devido a protestos contra empresa mineira

Foto: Enrique Castro-Mendivi/Reuters

O estado de emergência pretende pôr fim aos protestos que já se prolongam há 11 dias. Milhares de manifestantes iniciaram uma greve e saíram à rua para tentar impedir o Governo peruano e a empresa de exploração mineira Newmont de avançar com o maior projecto de construção de uma mina no Peru, que representa um investimento de 4800 milhões de dólares. A mina de Conga obrigará à destruição de quatro lagos que abastecem de água a região de Cajamarca, e para além da falta de água a população teme também um aumento da poluição e a destruição de recursos naturais.

“Recorrendo aos meus poderes constitucionais, decretei o estado de emergência para as províncias de Cajamarca, Celendín, Hualgayoc e Contumazá”, anunciou nesta segunda-feira Ollanta Humala, que enfrenta com estes protestos o seu principal desafio desde que assumiu a presidência, em Junho. “Foram esgotadas todas as formas de estabelecer diálogo e resolver este conflito democraticamente”, adiantou. “A intransigência dos líderes locais e regionais levou a que nem o acordo mais elementar tivesse sido alcançado para garantir a paz social e o restabelecimento dos serviços públicos”.

Os protestos contra a mina, cuja entrada em funcionamento está prevista para 2014, resultaram em confrontos com a polícia. Na semana passada chegou a ser anunciada a suspensão do projecto, mas os manifestantes apelaram ao cancelamento da construção da mina e mantiveram os protestos.

A Newmont, empresa norte-americana com sede em Denver, no Colorado, prometeu construir reservatórios de água que substituam os lagos que abastecem a região, mas os manifestantes rejeitam essa proposta por considerarem que o fornecimento de água irá tornar-se mais escasso e isso prejudicará a agricultura na região. Os responsáveis pelo projecto defendem, por outro lado, que a mina criará milhares de postos de trabalho e prometem que serão cumpridas as normas ambientais. Mas nas ruas de Cajamarca os manifestantes lutam contra a mina e ouve-se gritar “sem ouro vivemos, sem água morreremos”.

O estado de emergência irá prolongar-se por 60 dias e tem como objectivo “restabelecer a paz e a ordem interna”, adiantou Humala. Militares e polícias irão manter-se nas regiões abrangidas, fica restringido o direito de manifestação.

Na semana passada algumas estradas de Cajamarca foram bloqueadas pelos protestos e o aeroporto teve de ser encerrado, bem como algumas escolas. E neste domingo, durante cerca de 10 horas, uma delegação de cinco ministros, liderada pelo primeiro-ministro Salomón Lerner, encontrou-se com os líderes locais mas não se chegou a qualquer acordo.

“Agora as pessoas estão a voltar ao trabalho e à escola, as lojas reabriram”, disse à rádio peruana RPP o ministro do Interior peruano, Óscar Valdez. “O problema da água e da mina tem de ser resolvido. O Governo está aberto ao diálogo, este decreto constitucional não deve alarmar ninguém”, adiantou.

Os protestos em Cajamarca têm sido liderados pelo próprio governador local, Gregório Santos, que acusou o Governo de não ter argumentos para convencer a população. “O Presidente tem falta de poder de persuasão por isso tem de recorrer ao poder das armas”, disse Santos à Reuters. “Quando não se consegue convencer com palavras, recorre-se às armas”.

Humala foi eleito pela esquerda peruana e prometeu durante a campanha um maior investimento nas zonas rurais para travar os conflitos sociais, muitos deles relacionados com a exploração de recursos. Estes protestos são o primeiro desafio da sua presidência, dos confrontos entre os manifestantes e a polícia já resultaram pelo menos 20 feridos.

Fonte: publico.pt

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.