Desempenho do ‘corujão’ de Doria é desmentido por documento da própria prefeitura de São Paulo

Por Cida de Oliveira.
Na propaganda do PSDB e em tantas outras, Doria diz que zerou a fila para exames. Mas seu Plano Plurianual, enviado à Câmara dos Vereadores, informa que o tempo médio de espera é de 72 dias
São Paulo – As afirmações do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), durante propaganda de seu partido, de que zerou a fila de exames, é desmentida por documento da própria gestão. Encaminhado à Câmara dos Vereadores no último dia 30 de setembro, o Plano Plurianual (PPA) 2018-2021 informa que a média atual de tempo de espera para a realização de exames é de 72 dias. O período é calculado entre a data da solicitação e a data da realização do exame.Baseado no cenário econômico atual, o documento estabelece ações, programas, valores e metas da administração pública para gastos nos próximos quatro anos, até 2021. O texto será apreciado pelos vereadores, que poderão apresentar.

No programa, que foi ao ar no começo do mês, Doria diz que em apenas nove meses de trabalho mostrou que é possível fazer diferente e fazer melhor – “Zeramos a fila para exames de imagem com o Programa Corujão da Saúde que já fez mais de um milhão de exames”. E que “está mudando a vida das pessoas que mais precisam”.

Fila de até 336 dias

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, com informações obtidas a partir da Lei de Acesso à Informação, publicada no último dia 2, mostra que um paciente com incontinência urinária pode ter de esperar até 336 dias para fazer um exame detalhado. A reportagem mostra o tempo de espera para os principais exames, por especialidade e por tipo de cirurgia.

A primeira vez que Doria afirmou ter zerado a fila para realização de exames foi no início de abril, menos de três meses após a implementação do programa Corujão da Saúde. Ele chegou a afirmar ter atendido 99,65% dos 485.300 exames em espera desde o ano anterior, praticamente “zerando” a fila. “Iniciado em 10 de janeiro, o programa realizou 342.741 procedimentos, o equivalente a um paciente atendido a cada 20 segundos”. Mas foi questionado pela imprensa.

Corujão em nova fase

Na última quinta-feira (5), em entrevista coletiva para anunciar a segunda etapa do Corujão, agora com o objetivo de zerar a fila de exames mais complexos, o prefeito paulistano afirmou que pretende atender 83 mil pessoas março que vem.

“Nessa fase dois do Corujão nós estamos baixando drasticamente para que nos próximos seis meses nós tenhamos esse ‘estoque’ colocado a praticamente zero até o início de março aqui na capital. Isso é gestão. Gestão de saúde. É o que nós estamos fazendo aqui na capital de São Paulo. Acelera, saúde”.

E disse ainda que os exames de imagem “estão sendo regularizados” e estão com atendimento “normal”: até 30 dias para exames de emergência e até 60 dias para outros, sem a mesma urgência.

O que é aceitável, segundo o prefeito, “mais ou menos o mesmo prazo que têm os planos de saúde pagos, no setor privado, para a realização de exames”.

No entanto, com base nas próprias metas estabelecidas pela gestão Doria, os 30 dias de prazo serão alcançados somente em 2020.

Ajuste fiscal

“A gestão Doria fala que fez o que não fez e o que está escrito no papel (Plano Plurianual) é bem diferente de tudo”, aponta a integrante da Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher, a vereadora Juliana Cardoso (PT).

As diretrizes apontadas pela gestão no PPA, segundo a parlamentar, são coerentes com o projeto de ajuste fiscal implementado desde os primeiros dias de governo, com cortes na saúde que totalizam, em números redondos, R$ 2.523.904.732 entre os meses de janeiro a agosto.

O prefeito dispunha de valores orçados em R$ 8.052.053.545, mas preferiu economizar com a saúde da população e usou só R$ 5.528.148.812,60. No mesmo período de 2016, o então prefeito Fernando Haddad (PT) tinha um total de R$ 7.677.738.415 e empenhou R$ 6.579.212.987,74. Na ponta do lápis, o petista empenhou R$ 1.051.064.175,14 a mais que o tucano.

“Pelo que vem insinuando a gestão, está em curso uma reestruturação da rede que prevê o fechamento de AMAs, sem a previsão de abertura de novos serviços para dar suporte. A gestão fala em valorização da atenção básica, com fortalecimento da saúde da família, mas prevê abrir pouquíssimas novas equipes em seu plano plurianual. Fico muito preocupada com o que esse projeto de reestruturação da rede, ainda não detalhada, possa trazer”.

Assista à produção que confronta declarações de Doria em programa do PSDB

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