Por Edinaldo Enoque, para Desacato. info.
Vivemos momentos de desespero. Uma sociedade na qual a diferença é vista com indiferença. Na qual o modelo homogenizador prevalece sobre a ideia de heterogeneidade. Um cenário no qual o “nós” prevalece sobre o “eles”, e no qual um modelo de “nós” ‘melhor’, ‘mais evoluído’ e ‘correto’ deve prevalecer.
Uma sociedade com medo, arrogante e hipócrita. Não reconhece a si mesmo como diferente, tem medo do estranho, do estrangeiro e daquilo que foge a seu hermetismo seco e árido. O medo, a ignorância e a covardia, são os sinônimos da xenofobia e do preconceito. E agora isso está sendo levado ao plano da ciência.
A ciência usada como recurso para afirmar o ódio ao diferente? Não! A ciência não deve ser usada para separar, mas sim para compreender, como já dizia Max Weber. Não se deve utilizar do método científico para criar um modelo de comportamento no qual deve ser seguido, a ciência deve compreender os modelos de comportamento, e em se tratando das ciências humanas e sociais, seguir a lógica nietzschiana, na qual diz que não há verdades absolutas.
O que se pretende? Um dualismo religioso, mau e bem? A criação de uma “verdade” patriarcal de normalidade e a anormalidade, no qual o “mau” deve ser tratado. Que arrogância, que pretensão! Quem é o doente nessa sociedade? Na qual o dinheiro se sobrepõe a liberdade de escolha e ao amor? Não devemos aceitar nenhum tipo de dicotomia, o mundo é muito mais complexo do que esse dualismo “homem” e “mulher” que se quer estabelecer.
Quantos jovens vão sofrer ainda mais vergonha ou receio de assumirem a sua homeafetividade, com medo de seus pais os internarem em clínicas para reabilitação (reabilitação do quê?) ou os medicarem (contra qual doença?), ou os enfiarem em terapias para curarem-se de sua natureza? ou ter que ouvir intermináveis piadas e violências de todos os tipos? Percebe onde isso vai parar? Isso está cheirando mal… muito mal… Você conhece o fim do filme Jogo da imitação? Quem são eles? Quem eles pensam que são?