Pobre Chico do Brasil doente

Por Carlos Motta.

“Acabaram as boquinhas no MINC. Hora de trabalhar!”

“Quantas dessas músicas ele comprou?! Todas?!”

“Será que vai ser via Lei Rouanet?”

“Fez tanta falta q nem notei”

“Petista desgraçado”

“Inútil”

“Chato pra caralho”

“Tá magro, ein? Tá parecendo um cubano”

“PQP. Vamos ter que aturar essa mala com aquelas músicas de merda.”

“Grande merda.”

“Um grande lixo”

“Como ele lança um disco de 6 em 6 anos. No próximo, depois desse, pode ter uma parceria inédita com FIDEL CASTRO.”

“Vai lançar lá na corja do PT seu vagabundo.”

“Vai ficar encalhado pois ninguém compra nada de corruptos!”

“Algum hino à corrupção?”

“Esperando o tiro”

“Envelheceu mal, puta nariz de Bozo, cara de velho mafioso nojentao.”

“Cantor de merda… Esse esquerdista!”

“Recolha-se a sua insignificância seu pau dágua.”

Os comentários acima, no Twitter, são a respeito da notícia da Folha de S.Paulo de que Chico Buarque vai lançar, depois de seis anos, um álbum com músicas inéditas.

Eles dão uma ideia do que se transformou o Brasil, ou ao menos parte dele, depois de anos de lavagem cerebral feita na população pelos meios de comunicação, ao mesmo tempo criminalizando uma organização política e reforçando a ideologia das classes dominantes.

Em qualquer país civilizado um artista como Chico Buarque está acima de disputas partidárias – um gênio como ele é tratado como tal, como uma instituição cultural que tem de ser louvada e preservada.

A obra de Chico Buarque, não só na música popular, mas na literatura, é imensa, atemporal e imorredoura.

Poucos artistas, talvez mesmo nenhum, tem sido capaz de expressar com tanta paixão e brilho a alma do povo brasileiro.

As manifestações de ódio de que ele é vítima não o desmerecem, pois são apenas isso, sintomas evidentes de uma patologia que parece atingir cada vez mais pessoas com o passar do tempo.

São também a prova de que o Brasil está se afastando, irremediavelmente, do caminho que leva à consolidação de uma autêntica nação: tudo aquilo que deveria ser motivo de orgulho para seu povo, por representá-lo, das mais variadas formas, é desprezado.

Fico imaginando, só para ficar no campo da música popular, o que seria do Brasil sem um Chico Buarque, um Tom Jobim, um Dorival Caymmi, um João Gilberto, um Gilberto Gil, um Caetano Veloso, um Ary Barroso, um Noel Rosa, um Cartola, um Lamartine Babo, um Adoniran Barbosa, um João Bosco, um Hermeto Pachoal, um Egberto Gismonti, um Baden Powell, uma Elis Regina, uma Elizeth Cardoso, uma Ivone Lara…

Ou se artistas de tal nível tivessem sido execrados por suas posições políticas, partidárias, e mesmo pela sua vida pessoal.

Está difícil suportar este Brasil Novo.

 

Fonte: Jornal GGN.

 

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