Por Raul Longo.
Para Edson Braga, o Anjo Provocador
O racismo tem pai e mãe: o Medo e a Ignorância.
Não é filho único, mas irmão gêmeo de todos os demais preconceitos. A cara de um é o focinho do outro.
Isso das vaidades dos conhecimentos adquiridos é bobagem. Se leu mil livros, não leu uma biblioteca. Se leu uma biblioteca, não leu nada perto de todas as bibliotecas do mundo. De tudo o que se sabe, o certo é que muito mais se ignora.
Ignorar é inevitável. Mas ignorância é outra coisa. Ignorância é a prepotência pelo que não se é nem se tem, e ainda menos se compreende.
Ninguém é ignorante por desconhecer seja o que for. O sujeito pode não saber ler e ser dotado de inteligência extraordinária, enquanto outros que leram muito não superam a estupidez seja em quantos idiomas se expressem.
Ignorante é o que acusa, marginaliza, despreza o que sequer conhece e, por total ausência de qualquer resquício de inteligência, não é capaz de enxergar o valor que há além da cor, da forma, do supérfluo, do desnecessário, da eventualidade.
Omitir a informação, negar a realidade, evitar as evidências são formas de promover a Ignorância. De estimular suas prepotências.
E para quê? Por quê? Porque o ignorante é fácil de ser manobrado, de ser conduzido, controlado.
É só estimular seu medo. Todo ignorante é amante do medo. E quando emprenhado de medo, o ignorante se torna preconceituoso contra aquilo que ignora.
Através desse medo ele se deixa escravizar, permite que se o induza a agir contra si próprio.
Na tragicomédia “O Lado Negro da História”, finalizo a fala de um personagem que se nega às propostas de hipócrita irmandade de outro, com este verso:
Branco estúpido e sem memória…
Dizendo não, aguardo tua abolição
do ridículo de se querer branco
em mestiça nação.
Branco estúpido e sem memória…
Aguardo o dia da glória
de tua abolição
pra poder dizer:
– É branco… Sou teu irmão!
Na América o último país a abolir a escravatura foi o Brasil em maio de 1888. Mas através da ignorância imposta pelas empresas de produção cultural e do medo difundido por nossos meios de comunicação e formação de opinião pública, a grande maioria branca desse país continua escrava.