As bancas de jornal estão se tornando parte da memória das cidades brasileiras

‘Meninos vendedores de jornais’. Rio de Janeiro, 1899 (Foto: Marc Ferrez).
‘Meninos vendedores de jornais’. Rio de Janeiro, 1899 (Foto: Marc Ferrez).

Por Natania Nogueira.

As bancas de jornal, também chamadas de quiosques, começaram a se popularizar no nosso país no início do século XX. No Brasil, a impressão de jornais só teve início com a vinda de Dom João VI, em 1808, quando começam a circular os primeiros jornais impressos. Em 10 de setembro daquele ano, começou a ser distribuída a “Gazeta do Rio de Janeiro”, o primeiro jornal impresso no país.

Daí em diante, os jornais foram se multiplicando, saindo das capitais e chegando ao interior do Brasil. Eles eram entregues nas casas ou vendidos nas ruas por escravos africanos vindos da Costa do Ouro[1]. Eram os escravos de ganho que atuavam, entre outras coisas, como vendedores ambulantes. Eles foram, também, os primeiros gazeteiros (vendedores de jornais). Após a abolição, os escravos foram substituídos por crianças e jovens que recebiam alguns trocados pelo trabalho.

As bancas de jornal teriam surgido no Brasil por volta de 1860, depois dos jornais começarem a ser vendidos de forma avulsa. O primeiro jornal com venda avulsa começou a circular em 1859, era o “A Actualidade: jornal político, litterario e noticioso”. O jornal era publicado aos sábados, na Rua da Alfândega, 42 e, em seu cabeçalho anunciava: vendem-se números avulsos a 240 rs.[2]

Acredita-se que primeiro jornaleiro a ter montado um ponto fixo de venda de jornais na cidade do Rio de Janeiro foi o imigrante italiano Carmine Labanca (daí a denominação “banca”). A primeira banca consistia em tábuas sustentadas por caixotes onde os jornais eram vendidos. Na década de 1910, estas bancas rústicas toraram-se pequenos barracos de madeira e, em meados do século XX, começaram a ser substituídas pelas de metal.

Se no início as bancas vendiam apenas jornais, com o surgimento das revistas em quadrinhos elas começaram a diversificar seu material impresso, deixando de ser local frequentado apenas por adultos e passando a atrair também a atenção das crianças. Meninos e meninas corriam às bancas com trocados que sobravam da merenda da escola ou economizados durante o mês para trocarem por gibis, figurinhas, livros de colorir e as populares bonecas de papel.

Atualmente, com o advento da internet, as bancas têm assumido novas atribuições, dada a diminuição da venda de revistas e jornais impressos. Muitos jornaleiros têm sobrevivido da venda de balas, doces, lembrancinhas, da recarga de celulares. Elas estão se tornando mais parecidas a cada dia com lojas de conveniência. Segundo pesquisas recentes, o número de bancas de jornal vem diminuindo a cada ano nas cidades grandes e, no interior, podemos encontrar localidades onde elas estão em vias de extinção ou não já não existem mais.

Consequência da evolução dos meios de comunicação, as bancas de jornal que durante a ditadura foram símbolos de resistência ao regime, vendendo material subversivo, hoje estão cada vez mais descaracterizadas da sua função original e se tornando parte da memória do jornalismo e das cidades brasileiras. E não apenas no Brasil.

Trata-se de uma tendência mundial. Jornais e revisas impressos têm migrado para a forma digital ou simplesmente encerrando suas edições. Há quem preconize que na próxima década não haverá mais livros impressos e, portanto, será a vez das livrarias seguirem o caminho das bancas de jornal e deixarem de cumprir sua função original para sobreviver e atender as novas tendências do mercado.

Sugestão de leitura:

COUTO, Mayara. Bancas de revistas resistem numa metrópole que lê cada vez menos. Disponível em: http://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/bancas-de-revistas-resistem-numa-metropole-que-le-cada-vez-menos/, acesso em 15 jun. 2017.

GOUVEIA, Indinayara Francielle Batista, BRAGA, Brunon Braga, FONSECA, Luciana Silva, NETO Elpidio Rodrigues da Rocha. De bancas de jornal à loja de conveniência: análise da adaptação às perspectivas do mercado. Revista Humanidades. Disponível em: http://www.revistahumanidades.com.br/arquivos_up/artigos/a108.pdf, 15 jun. 2017.

[1] BAHIA, Juarez. Dicionário de jornalismo: século XX. Rio de Janeiro: Ed. Mauad, 2010.

[2] HEMEROTECA Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, acesso em 15 jun. 2017.

Fonte: História Hoje.

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