Por Vandré Fonseca.
O equivalente a 183 parques do Ibirapuera de florestas foi destruído, no bioma mais ameaçado do país, entre 2015 e 2016. Os novos dados do Atlas da Mata Atlântica, divulgados nesta segunda-feira (29), indicam que 29.075 hectares dessas florestas foram desmatados no período, contra 18.433 hectares no ano anterior, um aumento de 57,7%.
Atlas é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e apresenta as taxas de desmatamento no bioma registradas desde 1985. Ao longo desses 32 anos, foram perdidos mais de 1,9 milhões de hectares de florestas no bioma. Os novos dados indicam uma reversão na queda no desmatamento que vinha sendo registrada nos últimos anos.
Na avaliação do diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, a elevação nas taxas de desmatamento é resultado do avanço da agropecuária e silvicultura sobre a floresta, incentivada pelas mudanças impostas pelo Código Florestal e momento político do país. Os números do ano passado são os maiores desde o período entre 2005 e 2008, quando a taxa média anual de desmatamento foi pouco maior do que 34 mil hectares.
“Começou uma resistência, num momento muito crítico do governo, em que o Meio Ambiente passou a ser usado como moeda de troca de acordos com bancadas”, afirma Mantovani. “O ambiente institucional ficou vulnerável. Com a depressão econômica também fica mais vulnerável a questão dos recursos naturais, eles são mais demandados”, completa.
Mas, para Mantovani, o desmatamento na Mata Atlântica não tem se convertido em aumento na produção. Ele afirma que, graças a possibilidades abertas pelas mudanças no Código Florestal, pastos e silvicultura avançam sobre a floresta para consolidar o uso da terra, em vez melhorar a produtividade. Ele cita a Bahia, que triplicou a área de floresta derrubada em relação aos dados anteriores e ficou o triste título de estado campeão em área desmatada na Mata Atlântica.
No maior estado do Nordeste, foram desmatados 12.288 hectares entre 2015 e 2016, contra 3.997 hectares no período anterior, crescimento de 207%. A região mais afetada é o sul da Bahia, onde estão os municípios com a maior taxa de mata destruída, Santa Cruz Cabrália e Belmonte, com 3.058 hectares e 2.119 hectares, respectivamente.
“Os nove municípios dessa região tem 62% de área com pasto muito ruim, de baixa produtividade, tem 12% de silvicultura, no entanto, não teve gente melhorando pasto, melhorando a condição de uso do solo”, destaca. “Você tem uma corrida para a floresta, para a mata, com isso você tem um aumento do problema de água, o desmatamento sem controle, colocando em risco inclusive a produção nesta região.”
Minas Gerais, que liderou o ranking em sete das últimas nove edições, desta vez ficou na vice-liderança, com 7.410 hectares. A situação continua a preocupar na região que tem sido alvo do maior desmatamento na Mata Atlântica em anos mais recentes, o Vale do Jequitinhonha. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, a produção de carvão naquela região tem sido substituída pela silvicultura. Apesar da mudança na atividade, a floresta continua a ser derrubada.
No Estado de São Paulo, que registrou um aumento de mais de 1400% no desmatamento, o ser humano foi inocentado. As causas para esse incremento assustador, segundo os responsáveis pelo levantamento foram fenômenos da natureza, como vendavais e tornados que atingiram municípios de Jarinu, Atibaia, Mairinque, São Roque e Embu-Guaçu em junho do ano passado.
Mas no vizinho estado do Paraná, a situação é grave. Para Mantovani, as Araucárias estão entre as fisionomias mais ameaçadas da Mata Atlântica, com apenas 3% da área original. “No entanto tem dois ou três projetos no Congresso Nacional para manejar araucárias nativas. Isso não tem cabimento, você está conseguindo destruir o código genético desta espécie, que conseguiu atravessar eras geológicas”, lamenta.
Para o diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, ao aumentar a área desmatada, o Brasil está colocando em risco rios, justamente em um momento em que o país vive crise de água, e ameaçando também m29etas que o país assumiu em Paris, que prevêem entre outras coisas redução no desmatamento e recuperação de áreas degradadas.
Acesse o Atlas aqui.
Fonte: OECO