Feminismo Classista: “As proletárias do proletário”

    Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

    Estudar o Feminismo Classista significa compreender que não há possibilidade de construir uma sociedade diferente, com justiça e dignidade, se não for de maneira coletiva. É entender que somos trabalhadoras e trabalhadores em uma sociedade dividida em classes e que especialmente, as mulheres, além de sofrerem com o machismo em suas várias expressões na sociedade, são mulheres proletárias que dividem a vida com homens proletários e acabam sendo vítimas do machismo no próprio contexto do proletariado. Significa também que a transformação nas relações de gênero somente acontecerá se a luta for classista, se houver entendimento de que é necessário promover a ruptura do sistema capitalista, patriarcal e machista.

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    Foto: Julia Saggioratto.

    Esses e outros elementos foram trabalhados durante o encontro feminista realizado na última sexta-feira, dia 21 e sábado, dia 22 de abril, em São Miguel do Oeste/SC. Meninas/Mulheres do Coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), reuniram-se para fazer esse diálogo. Entendem, segundo elas, que é necessário construir essa prosa primeiro com as mulheres que fazem parte do coletivo, para que possam se compreender dentro desse processo e expor suas angústias, para posteriormente, realizar esse mesmo diálogo com os companheiros das organizações.

    Conforme a assessora e militante do coletivo, Jociani Pinheiro, algumas bibliografias fazem parte do estudo proposto por este coletivo e entre elas estão: Rosa Luxemburgo, Simone de Beruvoir, Alexandra Kollontai, Heleieth Saffioti, Clara Zetkin, Flora Tristan, entre outras. Flora Tristan é autora da frase: “A mulher é proletária do proletário”, que serviu de embasamento para as discussões no final de semana.

    De acordo com Jociani: “Flora Tristan (1803-1844) nasceu em Paris, foi uma das grandes Mulheres da história, forjou-se a partir da cultura patriarcal e opressora, contribuiu intelectualmente para as lutas operárias, foi a primeira Mulher a elevar o debate da organização dos proletários em nível internacional e colocou em pauta a opressão vivida pelas mulheres”.

    Jociani explica que em 1843 Flora publicou a obra “União Operária”. “A obra problematizava a urgência da unidade entre homens e mulheres como agentes de luta na transformação revolucionária da sociabilidade capitalista, considerando e reconhecendo a mulher como gênero igualmente capaz desta transformação, avançando no debate da emancipação da mulher, porque para ela“mesmo o homem mais oprimido pode oprimir outro ser, que é sua própria mulher. A mulher é a proletária do proletário”, explicou.

    A militante disse também que o coletivo feminista da PJMP e PJR entende que todos e todas fazem parte de uma construção de luta maior, que acredita na superação das classes sociais. “Essa se dará através da luta organizada partindo dos trabalhos de base, dos debates e enfrentamentos reais com o capital. Neste processo construiremos outra sociedade e também o feminismo que terá estreita ligação com a emancipação de toda a classe trabalhadora. Penso que o final de semana foi de intensa construção, entre as utopias singulares e coletivas reafirmamos que somos FEMINISTAS CLASSISTAS, somos parte na construção da igualdade de gênero, dos direitos e da emancipação das mulheres e que junto com nossos companheiros somaremos nas fileiras e trincheiras das ações revolucionárias em favor da classe trabalhadora”, afirmou ela.

     Possibilidade de construção coletiva

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    Foto: Julia Saggioratto.

    A militante do coletivo PJMP e PJR, Cláudia Baumgardt também falou sobre a importância dos encontros para o processo de transformação da sociedade. “Estudar a sociedade, a conjuntura, é sempre necessário e agora, perceber que o feminismo faz parte disso tudo, desse processo de construção e luta por transformação, tornou o encontro ainda mais importante. O projeto do grupo feminista classista nos dá a possibilidade de construir coletivamente esse estudo, de aprendermos juntas e depois construir esse debate com os companheiros”, disse Cláudia.

    A militante disse ainda que é importante que as jovens, mulheres, entendam o porquê são feministas e principalmente, porque identificam-se enquanto feministas classistas. “Lutamos pelo fim da sociedade de classes, queremos a transformação nas relações de gênero. Esse feminismo classista está engajado nas pautas do povo”.

    Durante a noite de sexta-feira, o grupo ocupou a praça central de São Miguel do Oeste, onde aconteceu um momento de mística, de resgate do nome de algumas lutadoras do povo e também, o grupo expressou em voz alta o seu desejo de “Fora Temer” – “Fora Golpistas” – “Fora Capital”, afinal, a construção do feminismo classista é isso, significa a ruptura de todo sistema que mata os povos do mundo, que explora trabalhadores e trabalhadoras. O feminismo debatido no final de semana e que há tempos vem se construindo em algumas realidades do Oeste Catarinense está enraizado no meio popular, no campo, nas favelas, nos espaços onde o proletário, a proletária estão.

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    Na praça, em São Miguel do Oeste.

    O feminismo e o neoliberalismo

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    Foto: Paulo Fortes.

    O grupo em questão compreende que o feminismo a ser construído nessas realidades, do campo, do meio urbano, das periferias, precisa estar comprometido com a emancipação dos trabalhadores e trabalhadoras, para que não seja apenas mais um meio construído para o fortalecimento das práticas neoliberais. Sobre isso, Nancy Fraser, faz uma reflexão sobre o feminismo que é “moda” e que vem disseminando-se. “Em uma cruel reviravolta, temo que o movimento para a libertação das mulheres tenha se enredado em uma ligação perigosa com esforços neoliberais para a construção de uma sociedade de livre-mercado. Isso explicaria como foi aceito que ideias feministas, que já fizeram parte de uma visão de mundo radical, são cada vez mais expressas em termos individualistas. Feministas que certa vez criticaram uma sociedade que promoveria o carreirismo agora aconselham mulheres a “aceitarem”. Um movimento que uma vez priorizou solidariedade social agora celebra empresárias. A perspectiva que certa vez valorizou o “carinho” e a interdepen ência agora encoraja avanços individuais e meritocracia”.

    Parte desses elementos explicam a identidade do grupo feminista do coletivo PJMP e PJR ao aprofundarem-se no contexto da discussão do feminismo classista, uma vez que, existe a compreensão de que não se pode emancipar apenas a mulher, não se pode emancipar apenas o homem, mas todos e todas na perspectiva de um processo coletivo de luta pela transformação da sociedade, das relações, da vida de todas as pessoas.

    Entrevista com Nancy Fraser, retirada de: Outras Palavras. 

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