Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Chico Buarque expressa-se em uma canção chamada “Construção”. Ouvi diversas vezes. Não a tinha percebido ainda até meu companheiro falar de sua relação com uma situação triste que aconteceu em São Miguel do Oeste/SC, faz alguns poucos dias.
Um rapaz, muito jovem, perdeu a vida ao ser eletrocutado enquanto trabalhava no alto de um prédio. Profissão: Pintor. Recebi uma mensagem logo que o acidente aconteceu, de uma pessoa próxima que passava pelo local e presenciou uma gleba de gente ao redor. Alguns fotografavam, filmavam, disputavam a melhor “cena”, o tirar de vantagem da situação. Sem nenhuma lágrima, sensibilidade com a situação quase nada. Não era dos seus. Não passava de notícia.
Continuei a ouvir a canção. Sabe aquela melodia que te incomoda bastante quando tu ouve? Como se atravessasse o peito e provocasse dor.
“Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado”.
Era um trabalhador que perdeu a vida na labuta. Não se tratava de um estranho, mas um trabalhador semelhante a tantos aqui perto, lá mais longe, um trabalhador.
“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”.
Como ele, outros tantos foram noticiados como se fossem fantoches caídos no chão, no alto do prédio, como se a informação fosse o sangue, mas era uma vida. Não posso aqui usar das imagens que foram expostas para explicar o que vimos estampado nos sites da desinformação, estaria sendo igual a esses, que parasitam, caminham sobre as ruas da cidade procurando mortes, todos os dias.
Cheguei de imediato escrever um trecho de indignação na rede social no dia dessa tragédia, logo, os covardes que interrogaram excluíram suas próprias observações falidas de sensibilidade. Pois agora, a gente segue com a indignação, como velhos, jovens vigiantes da palavra, compreendendo a necessidade da efetivação da Outra Informação. A que ai está cumpre seu papel de desinformar e atacar a nossa vida, os nossos sonhos. Para isso foi criada, mesmo assim, não podemos deixar de denunciá-la.
“Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu”…
…Um trabalhador.