Por Julia Saggioratto, para Desacato.info.
Saúde da mulher no cenário brasileiro é pauta de Aula Pública em Palmeira das Missões-RS
Dia 8 de março é dia de luta e resistência em todo o Brasil. Não poderia ser diferente frente ao que vivemos atualmente, um contexto de retirada de direitos em face da manutenção de privilégios de uma minoria. Entendendo que a universidade pública, conquistada por trabalhadores e trabalhadoras, precisa estar incluída nas discussões e enfrentamentos aos retrocessos que nos são impostos, O Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gênero, Vulnerabilidade e Cultura (GENVULC), do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões, somado ao Movimento Regional de Defesa da Saúde Pública e à 15ª Coordenadoria Regional de Saúde promovem, nessa quarta-feira, dia 8 de março, a Aula Pública “Determinantes do Adoecimento Feminino no Cenário Brasileiro”.
A Aula, que tem por objetivo discutir a temática da saúde da mulher no entorno de seus determinantes sociais, econômicos e políticos, além dos indicadores regionais, acontecerá no auditório do prédio Finep no campus da UFSM, em Palmeira das Missões. As discussões iniciam às 13h30min e se prolongam até as 17 horas, explanando quatro eixos relacionados à temática, que são eles:
Eixo 1 – Processo de luta das mulheres para a efetivação do direito à saúde; indicadores regionais das doenças que mais acometem as mulheres; política da saúde da mulher e a luta pela manutenção do SUS – com Haiala Patrícia Frandalozzo, assistente social da 15ª CRS.
Eixo 2 – Determinantes econômicos que afetam a vida e a saúde das mulheres – com Thales Viegas, professor do curso de economia da UFSM-PM.
Eixo 3 – A questão previdenciária e suas consequências na vida e na saúde das mulheres – com Márcia Perpetua de Carvalho, assistente social do INSS.
Eixo 4 – Violência contra as mulheres – com Flávia Kreutz Berres, assistente social, Rafaela Scherer, psicóloga do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
Patrícia De Carli, advogada da 15ª Coordenadoria Regional de Saúde, integrante do Movimento Regional de Defesa da Saúde Pública fala que as mulheres são, atualmente, as maiores responsáveis pela luta do SUS. “Na primeira Conferência Nacional [de Saúde] de 1986, o Movimento Feminista foi fundamental nessa luta para que a gente tivesse um sistema de saúde hoje”, comenta Patrícia. Ela relata que as mulheres são a maioria dos usuários do SUS. “São as mulheres que cuidam de toda a família, elas acabam adoecendo muito, é a população que mais usa antidepressivo hoje”, reflete sobre como os fatores externos impactam na saúde das mulheres.
Sobre os eixos que serão apresentados durante a Aula Pública, De Carli resume que será feita uma explanação da história da construção do SUS, os determinantes regionais de saúde, além de como a Reforma da Previdência, por exemplo, irá atingir as mulheres, de forma mais intensa, com o aumento de idade superior em relação à dos homens. Ela ainda fala sobre a Previdência ser uma forma de subsistência de muitas famílias chefiadas por mulheres, as quais ocupam, historicamente, postos de trabalho com menor remuneração. Patrícia comenta também sobre a violência contra as mulheres em suas múltiplas formas, “não só a violência física, mas todas as formas de violência que a mulher passa”.
A advogada Patrícia comenta que os painéis serão apresentados e, posteriormente, abertos para discussão, para que o público possa contribuir. Ela ressalta que as pessoas que participarão da mesa são trabalhadores e trabalhadoras do serviço público e trazem o olhar da experiência cotidiana, uma troca que se consegue construir no coletivo. Patrícia relata que o evento tem o intuito de mobilizar os/as estudantes para que se apropriem das temáticas. “Participar agora até o mês de maio, todos os municípios do Brasil vão fazer as suas conferências sobre a saúde da mulher, vai ser a segunda nacional e a primeira do estado”, ressalta.
A professora do Departamento do curso de Enfermagem da UFSM, Fernanda Cabral, também integrante do Movimento Regional de Defesa da Saúde Pública e do GENVULC, comenta que desde o ano passado, em eventos e durante a ocupação que os estudantes protagonizaram na universidade, vêm sendo realizadas discussões com temáticas relacionadas a gênero e diversidade, de forma a fortalecer a mobilização social e a luta das mulheres em todo o Brasil. “O acordado é que as mulheres vão parar em todo o país, então se a gente não consegue parar, pelo menos movimentar um pouco as mulheres de Palmeira [das Missões] e os estudantes para discutir”, declara. Ela ressalta que os debates sobre tais temáticas tiveram resposta muito positiva dos/as estudantes e que a universidade precisa pautar estes assuntos. “A universidade pública trazer para sua pauta essas questões mais amplas que estão sendo, ou talvez, não estejam sendo tão bem discutidas na sociedade”, afirma.
A estudante de Enfermagem, integrante do GENVULC, Jaqueline Sganzerla, que também faz parte do Movimento Regional de Defesa da Saúde Pública, destaca que a universidade precisa estar intimamente ligada a tudo o que acontece na sociedade, promovendo debates e reflexões. “Uma das coisas que a gente busca fazer nesse evento é trazer um tema que está forte no debate com a sociedade, que é a questão da retirada de direitos da população, a retirada do direitos dos que menos tem. Então trazer esse debate para a universidade para que os/as estudantes, professores, trabalhadores da área da saúde se apropriem ainda mais de elementos para estar fomentando o debate no município e na região”, afirma.
A advogada Patrícia De Carli ainda comenta que é preciso alertar a população de que, historicamente, em tempos de crise se fala em retirar direitos da população. “Direitos que foram arduamente construídos por lutas históricas, com muito sangue, muito suor, muitas lágrimas”, destaca. Patrícia acredita que as discussões que acontecerão na Aula Pública possam ser uma chamamento para os/as estudantes que iniciam agora sua jornada acadêmica. “Que tenham a convicção que pelos direitos a gente luta todos os dias, eles não são dados, são construídos, e que a gente precisa estar engajado, participando desse debate, dessa luta”, ressalta. Ela destaca que o momento é de resistência. “Esses temas têm que ser debatidos, e nunca mais pode ser passivo o discurso de que a mulher tem que ser submissa na sociedade”, finaliza.