Por Max Ajl*.
Este recente artigo, publicado pelo The Washington Post, refere-se às “alianças de conveniência” no Médio-Oriente entre os estados Árabes do Golfo e Israel. Todas as alianças são “alianças de conveniência”, mas o que o autor desse artigo não entende é que os estados do Golfo Árabe ficariam muito satisfeitos de normalizarem as relações com Israel. Este foi um dos tópicos da Iniciativa Árabe pela Paz de 2002. A normalização de relações com Israel significa o fim dos boicotes primários, secundários e terciários – que de qualquer forma não são cumpridos atualmente – e visto que Arábia Saudita e estados satélites do Golfo são os principais detentores de capital da região, com participações muito superiores a Israel, normalização de relações significa vendas de produtos petroquímicos e metal a Israel, e menos subterfúgios para contornar os diversos boicotes. Israel poderia assumir o papel de principal plataforma de produção de alta tecnologia. A “resolução” da questão palestiniana permitiria que isso acontecesse abertamente, sem – esperam eles – transmitir uma sensação de traição do Golfo, símbolo forte da luta contra o colonialismo ocidental.
E claro, nenhum deles como o Irão (br. Irã), porque o Irão é obstinadamente independente, tem uma política externa própria, uma população altamente politizada, com um elevado nível cultural. Evidentemente que os países do Golfo, com o extravagante consumismo no exterior das suas populações – uma tentativa de evitar o confronto social, em vez da solução da revolução social, como o estado social iraniano pós 1979 – odeiam o Irão (br. Irã). Além de que é um dos maiores centros populacionais da região. A fanfarronice israelita (br. israelense) também reflete igual ódio ao Irão: Israel prefere estados fracos, fragmentados ou totalitários no Médio-Oriente para manter a sua segurança; estados debilitados e divididos que se possam organizar internamente segundo o esquema do neo-liberalismo e externamente comprar armas ao Ocidente.
Israel e o GCC (The Cooperation Council For The Arab States of The Gulf) colaboram discretamente entre si: “Ficaria surpreendido se não se conhecessem os posicionamentos sauditas (em Israel) ou os pontos de vista de Israel na Arábia Saudita”, afirmou David Menashri, diretor do Centro de Estudos Iranianos na Universidade de Telavive. ”Eu diria o seguinte: alguns dos estados do Golfo gostariam que Israel demonstrasse uma posição mais ativa em relação ao Irão (br. Irã), embora eles jamais o confessariam publicamente”, declarou Meir Litvak, especialista em assuntos do Médio Oriente no Dayan Center think tank da Universidade de Telavive. Tudo isso acontece sob a égide da “estratégia de defesa” norte-americana na região, no âmbito dos exercícios militares que mantêm no Iraque e no Golfo, de modo a contrair o fornecimento de petróleo e justificar os gastos anuais com aquisição de armamento no valor de 700 biliões de dólares.
Como o NYT informou na semana passada, “Atenta à ameaça de um Irão beligerante, a administração norte-americana está tentando expandir laços militares com as seis nações do Conselho de Cooperação do Golfo – Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos e Omã”. Apesar dos EUA terem relações de cooperação militar bilateral com cada um desses estados, a administração e os militares estão tentando promover uma nova “arquitetura de segurança” para o Golfo Persa que iria integrar patrulhas aéreas e navais e defesa antimíssil. O tamanho da força de combate americana estacionada no Kuwait continua sendo objeto de negociações, esperando-se uma decisão nos próximos dias.
A permanente ameaça do Irão (br. Irã) justifica as compras militares em curso e que as famílias dominantes desses xerifados recebam um corte orçamental e patrimonial enorme, em alguns casos de até 30%, enquanto os pobres desses países – a maior parte estrangeiros da Índia ou do Bangladesh – vivem na penúria. Tudo isso deverá ser mantido em mente quando os Estados do Golfo fazem gestos rituais de paz com Israel, como em 2002, quando sabiam que seria rejeitado, o que hes permitiu assumirem-se como paladinos da causa palestiniana (br. palestina) apesar de não terem feito nada pelos palestinos; uma encenação que Ahmadinejad e Erdogan adotaram recentemente. Atualmente, existem forças dentro de cada país do Golfo empurrando para a “paz” com Israel, no contexto de um Estado palestiniano (br. palestino) desmilitarizado. Desconhece-se quem vai lucrar com isso, mas por agora o saqueio está indo muito bem.
(1) O judeu norte-americano Max Ajl, que se auto-define como ensaísta e agitador, é doutorando em sociologia do desenvolvimento em Cornell. O seu blog Jewbonics é um site de referência no estudo e análise da questão da ocupação israelita da Faixa de Gaza.
*Max Ajl em http://www.maxajl.com/alliance-of-convenience/
Tradução: sionismo.net
Fonte da Imagem: http://sionismo.net/wp-content/uploads/2011/11/rei-Abdullah-e-Obama.jpg