Por João Paulo Charleaux.
O presidente dos EUA, Donald Trump, recebeu ontem, segunda-feira (13), na Casa Branca, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. A cerimônia reuniu por algumas horas dois líderes tidos como representantes de polos opostos na política internacional.
Trump, empresário de 70 anos cujo mandato teve início em janeiro de 2017, adota um discurso agressivo. Fechou as fronteiras a cidadãos de sete países muçulmanos, ordenou a construção de um muro na fronteiracom o México e entrou em guerra contra a imprensa o Poder Judiciário para fazer valer suas promessas de campanha. Trudeau, educador de 45 anos cujo mandato teve início em novembro de 2015, encarna o bom mocismo. Adotou políticas generosas de acolhida a imigrantes, é celebrado por seus discursos públicos e ações em defesa dos direitos das mulheres e do meio ambiente e prega o respeito entre os opostos, elogiando seus adversários, apesar dos pontos de vista divergentes.
Entre a imagem que projetam e a realidade que implementam pode até haver alguma distância, pois Trudeau não é visto unanimemente como bom moço, e, no caso de Trump, ainda é preciso que passe algum tempo até saber quantas das promessas agressivas serão realmente implementadas. Mas não há como negar que Trudeau e Trump são políticos que investem pesado na construção de personagens completamente antagônicos, cada um a seu modo.
Choques recentes entre líderes
Apesar dos estilos – e da essência – dos dois serem diferentes, o encontro em Washington se deu em tom amistoso. Pelo menos com base nas informações que vieram a público. No passado, Trump já havia batido de frente contra líderes internacionais dos quais discorda. O caso mais rumoroso envolveu o primeiro-ministro da Austrália, Malcom Turnbull. Trump “desligou o telefone abruptamente” quando conversava com Turnbull sobre acordos de recepção a imigrantes.
O episódio ocorreu dias antes de o presidente americano cancelar a visita que o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, faria a Washington. Nesse caso, o problema foi a decisão de Trump de fazer com que o México pagasse pela construção de um muro na fronteira entre os dois países.
Quem é Trump
O magnata foi apontado pela revista “Forbes” como um dos homens mais ricos do mundo. Antes de entrar para a política, foi astro de um reality show da TV americana (“O Aprendiz”) em que, de maneira franca, ou cruel, despedia sumariamente os jovens candidatos a vagas abertas em suas empresas, gritando o slogan: “você está despedido!”
Trump venceu as primárias nos EUA contra a vontade dos caciques do Partido Republicano e, apoiado pelo voto de cidadãos que apostaram no slogan “tornar a América grande novamente”, chegou à Casa Branca prometendo fechar fronteiras, cancelar acordos comerciais e devolver empregos aos americanos.
Quem é Trudeau
Trudeu assumiu como primeiro-ministro em novembro de 2015. Ele é filho de Pierre Trudeau, que também foi premiê do Canadá, em dois períodos: 1968-1979 e 1980-1984. Antes de chegar ao governo central, foi parlamentar pelo Partido Liberal, onde liderou um movimento de renovação com forte apelo juvenil, a partir de 2006. Se Trump fez das declarações assertivas e por vezes grosseiras uma marca pessoal, Trudeau segue a linha oposta: opta pelo constante aceno a minorias, às mulheres e a outros movimentos da sociedade civil, sempre com tom professoral e militante.
Relação com adversários políticos
TRUDEAU
Quando assumiu o governo, em 2015, Trudeau foi elogioso em relação a seu antecessor e adversário de campanha, o conservador Stephen Harper. “Stephen Harper serviu nosso país por uma década e como com qualquer um que tenha devotado sua vida ao país nós o agradecemos por seus serviços. Os conservadores não são nossos inimigos. Eles são nossos vizinhos”, disse em discurso.
TRUMP
Trump, ao contrário, acirrou ao máximo a disputa pela Casa Branca. Ele fez declarações sempre duras em relação ao seu antecessor, o democrata Barack Obama e à sua rival, derrotada nas eleições de 2016, a também democrata Hillary Clinton: “Nós temos hoje provavelmente o pior líder de todos os tempos”, disse em referência a Obama. E declarou que “Hillary Clinton foi a pior secretária de Estado da história do nosso país”, em referência ao cargo que ela ocupou de 2009 a 2013.
Migração
TRUDEAU
O primeiro-ministro canadense mandou que aviões custeados pelo governo levassem refugiados sírios ao Canadá. Ele também foi pessoalmente ao aeroporto receber os refugiados. “Não se trata apenas de receber 25 mil refugiados sírios, mas de dar as boas vindas a 25 mil novos cidadãos canadenses”, declarou Trudeau.
TRUMP
“Eu não quero que as pessoas da Síria entrem [nos EUA], porque nós não sabemos quem elas são”, disse Trump ainda em campanha. Uma vez no cargo, ele proibiu a entrada no país de cidadãos da Síria e de outros seis países muçulmanos. A medida foi declarada ilegal e deu início a um debate jurídico que foi parar na Suprema Corte. “Se eu vencer, eles vão voltar [para a Síria]. Não podemos tê-los [nos EUA]”, já prometia o então candidato, em 2016.
Ameaças
TRUDEAU
Uma das primeiras medidas tomadas pelo premiê canadense foi a de mudar o perfil do engajamento das tropas do país no enfrentamento militar ao Estado Islâmico. Trudeu manteve a participação na coalizão liderada pelos EUA na Síria, mas não com bombardeios aéreos. “Eu me manterei firme contra a política divisionista, contra a política do medo, a política da intolerância, a retórica do ódio”, anunciou.
TRUMP
Trump, ao contrário, não apenas prometeu acabar militarmente com os terroristas do Estado Islâmico como anunciou que pretendia voltar a usar métodos de interrogatório que já haviam sido condenados como métodos de tortura nos EUA – o principal deles, o “waterboarding”, que simula o afogamento do interrogado. “Deveríamos usar waterboarding e deveríamos usar medidas ainda mais duras que essa”, defendeu.
Fonte: Nexo.