Por Victor Farinelli.
A insistência do mandatário vizinho em impulsar a polêmica proposta, cujo caráter ofensivo é reforçado pela promessa de que será o México quem arcará com os custos da obra, é um dos assuntos que mais tem causado inconformidade entre os mexicanos. A raiva acumulada em todos os meses de campanha eleitoral estadunidense, até a eleição e posse do empresário, poderá ser medida em diferentes marchas que se repetirão em dezenas de cidades em todo o país.
Diferentes organizações estão convocando as manifestações através das redes sociais, usando a hashtag #VibraMéxico, e também via meios de comunicação de diferentes tendências. Essa disparidade entre os organizadores leva a crer que os atos não serão homogêneos, e que talvez possam mostrar alguns ruídos.
Um dos grupos que está convocando manifestações é ligado ao partido do presidente mexicano Enrique Peña Nieto, embora defenda o caráter apartidário do evento, mas afirma abertamente que pretende realizar um ato de apoio ao governante durante a marcha. “A marcha deve servir como oportunidade para mostrarmos um México unido, e dizer ao mundo que somos um país que se faz respeitar”, afirmou Eduardo Sánchez Hernández, o porta-voz da presidência.
Porém, algumas organizações não governamentais e movimentos sociais e sindicais rechaçaram a possibilidade de um ato governista. Os grupos se dividiram entre os que adotam uma postura mais moderada, e outros que inclusive afirmam que a manifestação será também contra o presidente.
A ativista María Elena Morera – do coletivo Causa en Común, um dos organizadores dos atos deste domingo – afirma que a jornada será um grito “para defender o México e os mexicanos das ameaças do governo de Trump, reivindicar nossa soberania e exigir do nosso governo (de Peña Nieto) que assuma uma posição mais digna diante desta questão”.
Segundo os organizadores, os atos serão realizados em ao menos quinze cidades mexicanas, e também em algumas dos Estados Unidos e da Europa, especialmente da Alemanha – se espera uma grande convocatória em Berlim, em volta dos resquícios do muro que separou a cidade durante a grande parte da Guerra Fria. As versões internacionais do evento também deverão aproveitar a ocasião para protestar contra as medidas de restrição a imigrantes provenientes de alguns muçulmanos, adotadas por Donald Trump logo em sua primeira semana na Casa Branca, no final de janeiro, e que causaram polêmica em todo o mundo.
Na Cidade do México, a multidão marchará durante a tarde pelo centro histórico, até o monumento do Anjo da Independência, onde se realizará um breve ato final. “Não estão previstos discursos, simplesmente vamos cantar o Hino Nacional e talvez alguns refrões especiais contra Trump”, comentou Morera, em entrevista a uma emissora de rádio local.
Os movimentos sociais, estudantis e sindicais pretendem usar o evento para protestar contra os casos de corrupção envolvendo Peña Nieto, e lembrar da ocasião em que o presidente mexicano se reuniu com Trump durante a campanha eleitoral estadunidense, e que o candidato depois usou o encontro como garantia de que sua proposta de construção do muro com dinheiro mexicano era para valer – o episódio foi considerado um vexame histórico para o país, e afetou fortemente a imagem do mandatário latino. No final de janeiro, uma reunião marcada entre Trump e Peña Nieto foi cancelada após o governo mexicano se negar a anunciar que financiaria a construção do muro.
Entre as demandas apresentadas pelos movimentos sociais, está a formulação de uma agenda de transparência, visando também os casos de corrupção do atual governo, mas que no caso do muro consistiria em manter em conhecimento da população todos os termos referentes às negociações realizadas entre o México e os Estados Unidos a respeito da sua possível construção.
A última grande mobilização realizada no México aconteceu em setembro de 2016, quando dezenas de milhares de pessoas se reuniram na capital do país para manifestar sua insatisfação com o governo do presidente Enrique Peña Nieto.
A manifestação deste domingo, por sua vez, deve ser a primeira de uma série de iniciativas programadas pelas organizações contra o governo de Trump. O segundo ato deverá ocorrer na sexta-feira da próxima semana (17/2), quando um grupo de ativistas e alguns políticos mexicanos pretendem conformar, por algumas horas, e de forma simbólica, um muro humano nas proximidades da fronteira com os Estados Unidos.
Fonte: Portal Vermelho. /Rede LatinAmerica.