Por Joaquim de Carvalho.
O advogado do homem acusado de tentar extorquir R$ 300 mil de Marcela Temer para não vazar fotos íntimas e mensagens comprometedoras hackeadas de seu telefone celular diz que o cliente recebeu pena excessiva e tratamento judicial fora do padrão por conta das circunstâncias políticas que envolvem o caso.
“Quando ele foi preso, Michel Temer estava para assumir a presidência, por conta da votação do impeachment, e tudo o que ele queria era evitar um escândalo envolvendo o nome da Marcela Temer às vésperas de se tornar primeira dama”, afirma Marlon Heghys Giorgy Milanetto.
O cliente de Marlon, Silvonei José de Jesus Souza, nunca tinha sido preso antes e trabalhava regularmente como telhadista, mas foi preso numa operação de cinema em maio do ano passado: 40 policiais à paisana cercaram sua casa, na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, e prenderam a mulher dele quando levava o filho para a creche.
Silvonei foi preso logo depois, ao responder a uma mensagem da mulher – mensagem que possivelmente foi a própria polícia quem enviou do celular dela – e ter sua localização identificada.
Os dois foram levados para a cadeia, numa decisão do juiz que coordena o Departamento de Inquéritos Pliciais (Dipo), Antônio Carlos Patiños Zorz.
No mandado de prisão, o juiz escreveu que eles mantinham uma “organização notável” e destacou que agia em defesa dos “cidadãos de bem”, numa cidade que se tornou “fértil campo para que marginais da pior espécie disseminem o terror, a violência e a maldade”.
Alguns dias depois, a juíza que assumiu o caso mandou soltar a mulher de Silvonei, pois o inquérito policial não provou nada além do fato de que o celular dela foi usado pelo marido para tentar extorquir dinheiro de Marcela.
Silvonei confessou o crime. Ele disse que comprou na rua Santa Efigênia, centro de comércio eletrônico de São Paulo, um CD com informações sigilosas – inclusive com cadastro da Receita Federal – de centenas de pessoas, entre as quais aparecia o nome de Marcela.
Silvonei disse que, sem saber se tratar da esposa do então vice-presidente, conseguiu acessar o celular dela, através de um arquivo que ela baixou numa mensagem de e-mail, e encontrou entre seus contatos o celular do irmão, com quem passou a conversar como se fosse Marcela.
“Ele se fez passar por Marcela e pediu dinheiro emprestado ao irmão para fechar um negócio. Ele disse que não tinha todo o dinheiro, mas poderia transferir R$ 15 mil. O hacker, fazendo-se passar por Marcela, aceitou e o irmão fez a transferência”, conta o advogado.
Quando o telhadista-hacker descobriu que Marcela era a mulher de Temer, passou a fazer contato diretamente com ela, e pediu R$ 300 mil para não divulgar fotos e mensagens comprometedoras.
Que fotos são estas?
“São fotos de Marcela de lingerie”, diz o advogado.
E as mensagens?
“São mensagens de áudio que ela enviou ao irmão, mas não posso falar sobre o conteúdo porque o processo está em segredo de justiça.”
O advogado descarta que as tais “mensagens comprometedoras” sejam aquelas que foram vazadas pela polícia, a de que Marcela aconselhava o irmão, candidato a vereador na cidade de Paulínia, a seguir o exemplo do marido e se aproximar dos pobres…
“A mensagem tem a ver com assunto político na região deles, mas não é nada disso, não”, afirmou Marlon Milanetto.
Para ele, o mais grave é o rigor da sentença e a tramitação em velocidade anormal do processo.
Em outro caso de repercussão, o de hackers que tentaram extorquir dinheiro da atriz Carolina Dieckman e depois vazaram nudes dela na internet, os acusados estão soltos e ainda nem foram julgados, mais de quatro anos depois do crime.
Silvonei foi condenados a quase seis anos de prisão em regime fechado – sem benefício nenhum — e se encontra no presídio de Tremembé, onde também estão presos acusados de crime hediondo, como Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha.
“Quando foi preso, Silvonei já tinha desistido da extorsão, como prova uma troca de mensagem entre ele e Marcela, quando ela disse que procuraria a polícia. Onde está a grave ameaça?”
Outro advogado, Ivan Carlos de Campos Claro, entrou com pedido de habeas corpus para o telhadista-hacker e argumentou em sua defesa a falta de antecedentes e o exagero da pena.
Para o advogado, Silvonei foi preso e transferido para Tremembé, longe de São Paulo, para dificultar o acesso da imprensa.
No início, havia a suspeita de que Silvonei tivesse alguma ligação política – estaria a serviço de algum grupo ou partido (leia-se PT) com interesse de atingir Temer.
A justiça reconheceu que era delírio de alguma autoridade envolvida no caso.
Mas Silvonei, de certa forma, está pagando um preço político por um crime que, de fato, cometeu. Mas que não tem nada de político. O que ele queria era dinheiro, mas deu azar de cruzar com Alexandre de Moraes, que fez o que pôde para atender a Michel Temer e dar uma lição no telhadista-hacker.
A Justiça tem como símbolos a mulher que não vê e a balança com uma só medida. Mas, como prova a ação de Moraes no caso de Marcela Temer, a imparcialidade é relativa. Com um empurrãozinho, tudo se resolve mais rápido. Ou não.
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Fonte: DCM.