Por Susan de Oliveira.
A violência que mata nem sempre é um tiro ou 18 facadas. E a mesma humilhação, desespero e injustiça que leva alguém ao suicídio pode levar também a adoecer ou agravar uma doença. E esse alguém aqui é mais uma mulher, Marisa Letícia. Amargurada por acusações jamais provadas de corrupção, viveu no último ano o inferno da maledicência e teve uma conversa íntima com o filho exposta em rede nacional onde um palavrãozinho sem dolo foi fator de escândalo e regozijo hipócrita e misógino. A empregada doméstica comunista e mal-educada afinal estava lá, não era uma ex-primeira-dama recatada, estudada e fina.
Foi tratada como criminosa porque afinal era isso que a “mulher do Lula” devia ser. Não que uma opinião preconceituosa importasse, mas a injustiça, a mentira e a ingratidão, essas cavam um poço de dores subjetivas e danos irreversíveis, inclusive físicos. Escândalo forjado, dignidade atacada, a discreta Marisa, o suporte emocional de Lula, engoliu as acusações, assimilou o golpe e continuou. O desabafo com o filho foi a única queixa que dela se ouviu. Nenhum veículo de imprensa repercutiu um desagravo da própria Marisa. O silêncio, a impossibilidade da defesa, a vida revirada, a angústia, um AVC.
No hospital, a mulher fragilizada continuava a ter sua intimidade devassada. Exames pessoais publicados, manifestações de ódio, desejos de vingança e o horror post mortem da divulgação de conversas entre os médicos que lhe atenderam. Cogitaram aplicar procedimentos assassinos na mesa de cirurgia. Marisa morreu e foi morta de várias formas. Fazer morrer uma mulher usando contra ela a própria dor moral e a própria doença é um crime culturalmente aceito. A culpa é dela. Marisa morreu.