México: Explode o mercado de San Pablito em Tultepec

Por Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info.

Tradução: Elissandro dos Santos Santana.

Não é estranho que em pleno dezembro, mês natalino, um mercado de fogos de artifícios explodisse em chamas e essa não é a primeira vez que acontece algo assim. O problema é que não se tenha aprendido com as desgraças e se repita este tipo de tragédia.

O que vimos no dia 20 de dezembro de 2016 em Tultepec, no estado do México, resulta da negligência e da corrupção tanto dos três níveis de governo como dos inquilinos já que competia a todos, ao governo proporcionar as medidas de segurança e as licenças para a manutenção dos mercados de fogos pirotécnicos e aos locatários seguirem estas orientações.

De fato, existem políticas e, inclusive, uma instituição criada pelo mesmo governo para regular a produção e a venda de fogos pirotécnicos no México. Foi fundada em 2003 com o nome de Instituto Mexicano da Pirotecnia (Impedi) para fornecer capacitação, inovação, assessoria jurídica e supervisões em matéria pirotécnica, com o objetivo de evitar acidentes ocasionados pelo manejo equivocado. Ademais, recebe um orçamento de 11 milhões de pesos (R$ 1.652.750,00) por ano. Em teoria, com tantas medidas de segurança, espaços desenhados e inovações não teria que ocorrer algum tipo de acidente no mercado, porém, isto não é assim.

No dia 12 de setembro de 2006, um incêndio no mercado de San Pablito, símbolo da vida em Tultepec, e que se dedica à pirotecnia há mais de 200 anos virou cinza e tal incêndio voltou a acontecer em 2007. Naqueles tempos, nosso atual e bonito presidente Enrique Peña Nieto era o governador do estado do México e havia prometido que se reconstruiria o mercado e que, ademais, havia medidas de segurança mais estritas.

Reconstruiu-se o mercado que ocupa aproximadamente um hectare e hospeda 300 pessoas (os negócios se distribuíam ao longo de vários corredores, um atrás do outro em longas filas). Em teoria, perfeitamente desenhados com espaço suficiente para que não ocorresse uma conflagração em cadeia em caso de faísca, o projeto se conduziu sob o governo de Eruviel Ávila como governador do estado do México e o Impedi recebeu neste ano de 2016 um orçamento de 18 milhões e 266 mil pesos (R$ 2.744.466,50).

Este incêndio que causou a morte de 33 pessoas não é um número definitivo, mais de 70 feridos e desaparecidos traz à tona toda a corrupção e negligência já que o mercado de pirotecnia San Pablito, Tultepec, não contava com garantias de segurança para funcionar. Há hipóteses do que pode ter acendido o fusível do barril de pólvora que causou as explosões em cadeia; também já estão tentando encontrar os culpados, porém, quem pagará os custos das perdas tanto físicas como materiais?

O primeiro responsável é o atual diretor do Instituto Mexicano de Pirotecnia, Juan Ignacio Rodarte Cordero, já que ele é o encarregado por administrar o orçamento que lhe é concedido, orçamento que tem sido mal utilizado tendo em vista que dos 18 milhões e 266 mil pesos, 71 por cento, 13 milhões e 69 mil foram destinados à remuneração de pessoal. Ademais, deve-se verificar que o mercado de San Pablito, como outros espaços de venda de pirotecnia possuam funções de acordo com as políticas de segurança.

No dia 5 de agosto de 2016, quando Rodarte inaugurou a temporada de alta venda de fogos pirotécnicos em Tultepec, assegurou que o mercado de San Pablito era o mais seguro da América Latina.

Com esta lamentável tragédia, também vem à tona a falta de licenças para vender pirotecnia; é a Secretaria da defesa Nacional (Sedena) a responsável por entregar as licenças federais para a venda de pirotecnia.

“Para que uma pessoa física ou moral possa abrir uma fábrica de pirotecnia deverá realizar uma solicitação ao Presidente da República, através do Departamento de Defesa”, revela o artigo 35 do regulamento da Lei Federal de Armas de Fogos e Explosivos.

Enquanto se busca por culpados para eximir responsabilidades, os nativos buscam, desesperadamente, os corpos de seus familiares e conhecidos. O Serviço Médico Forense (Semefo) de Tlanepantla tem que se identificar e revisar vários corpos, completamente queimados; as pessoas que vem pedir informações por seus familiares devem deixar de sangue para poder obter o ADN.

As autoridades ainda estão ajudando a perícia que ajudará a compreender o que ocorreu já que os vizinhos e voluntários continuam se reunindo curiosos.

Testemunhas contam que na terça, 20 de dezembro de 2016, por volta das 15:00, foram ouvidas explosões em cadeias e os postos foram se incendiando um por um; os fogos voavam como mísseis de guerra; as pessoas correram em pânico, também os animais como cães sofreram queimaduras. Oito dias antes o governo de Eruviel Ávila determinou que a pirotecnia no mercado Tultepec era um lugar seguro.

Nosso bonito presidente Enrique Peña Nieto em sua visita aos feridos do incêndio, no Hospital de Alta Especialidade de Zumpango, prometeu a reconstrução pela terceira vez do mercado de San Pablito, já que grande parte da comunidade obtém sua renda com a venda dos brinquedos pirotécnicos.

A solidariedade nas redes sociais não se viu; todos culparam imediatamente os artesãos, dizendo que se não sabiam controlar a pirotecnia, então, não devem se dedicar a isso, que o incêndio é uma cortina de fumaça para distrair a população mexicana da forte crise que se avizinha.

Dezembro ruim para os mexicanos porque enquanto o Congresso disfruta bônus natalinos de quase meio milhão de pesos, o povo mexicano chora a perda de seus seres queridos no incêndio do mercado de San Pablito.

Familiares que participaram nas imediações, onde ontem, explodiu o Mercado de Pirotecnia San Pablito Tultepec. Foto: Cuartoscuro.
Familiares que participaram nas imediações, onde ontem, explodiu o Mercado de Pirotecnia San Pablito Tultepec. Foto: Cuartoscuro.

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