Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Há um ano e três dias, o Portal Desacato denunciava a retirada dos indígenas da rodoviária de São Miguel do Oeste/SC, do “cartão postal da cidade”. “Colocamos todos eles dentro de um caminhão e levamos eles até uma nova área. Todos os dias estamos recebendo denúncias. Agora o encaminhamento é de que se não quiserem ir até a área que a gente arrumou, até a polícia pode ser acionada. Não podem mais ficar naquele local”, afirmou a secretária de Assistência Social na época.
Um ano depois, o “sonho da pureza” citado por Zygmunt Bauman também se concretiza na cidade. Agora, uma cerca foi construída para que nenhum indígena, nenhum morador de rua interfira na “ordem” do Capital. A data que marca o renascimento, a esperança, é também o Natal da indiferença, do medo da alteridade.
Jesus, Camponês e Operário de Nazaré era um menino pobre, com traços mestiços. Seu berço não foi de ouro, seu nascimento não foi celebrado com o esquecimento político e social da época em que seus pais viviam e sua vida representou um grande enfrentamento ao Império.
Jesus renasce nesse dia 25 de dezembro apenas no coração de quem o acolhe. Jesus é presença naquela casinha de lona, onde a chaleira barulha no fogo, no lugar onde o Sol nasce todos os dias e recebe agradecimento. Ali Jesus está, na roda dos inocentes, no andar cansado que pesa os 96 da senhora dona Rosa Kaingang que conversa e sorri, segura a casinha do passarinho e agradece a vida. Jesus é esse menino que nasceu na estrebaria porque portas foram fechadas para ele e cercas foram construídas para afastá-lo do convívio dos ‘iguais’.
Menino Jesus, quanta luta fizeste. Quanto disso continua…Rosa, menina, faz mais uma casinha por favor? Dessas que tu ainda faz em plenos 96!
Ninguém quer viver sem casa, ninguém sonha em ficar sozinho. Logo desço te encontrar, para ficar com uma casinha tua e dar um lar a um passarinho.
Fotos: Claudia Weinman.