Por Lilian Venturini.
No dia em que assumiu a Presidência, em 12 de maio, Michel Temer anunciou seus ministros e os integrantes dos cargos mais importantes do governo federal. Entre eles, havia um grupo considerado seu “núcleo político”, composto pelos aliados mais próximos.
Sete meses depois, mais da metade desses nomes já deixaram o governo. E os que ficaram estão em situação delicada por causa de depoimentos de ex-executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.
Ao todo, em sete meses de governo, sete auxiliares diretos de Temer (seis com status de ministro) pediram demissão ou foram demitidos. Deles, três integravam o “núcleo político” do presidente.
Quem deixou o governo
ROMERO JUCÁ (PMDB-RN)
O senador foi a primeira baixa em apenas 11 dias de governo. Ele era o ministro do Planejamento e importante interlocutor com o Congresso. Ele caiu quando o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado revelou gravações de diálogos em que sugeria que o impeachment de Dilma Rousseff era um “pacto” para estancar a “sangria” causada pela Lava Jato. Seis meses depois, o presidente o escolheu para ser o novo líder do governo no Congresso.
GEDDEL VIEIRA DE LIMA (PMDB-BA)
O responsável pela relação entre o Planalto e os partidos políticos pediu demissão em 25 de novembro. Geddel deixou o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de pressionar pela liberação da obra de um prédio em Salvador, onde tinha um apartamento comprado na planta. Até agora o cargo está vago e o anúncio do substituto deve ficar para fevereiro de 2017.
JOSÉ YUNES
O advogado e amigo de Temer há pelo menos 50 anos foi a primeira demissão por causa das delações da Odebrecht. Yunes era assessor especial da Presidência da República. Ele foi citado pelo ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho. Segundo ele, a construtora pagou R$ 10 milhões a pedido de Temer ao PMDB em 2014, parte deles entregue em dinheiro no escritório de Yunes. A versão do relato foi confirmada pelo ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht, mas ainda não há detalhes do depoimento.
Delações da Odebrecht deixam cenário incerto
Até agora há informações somente sobre o conteúdo de duas das 77 delações previstas de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Mas elas já foram o bastante para provocar mudanças no governo Temer.
Além de custar o cargo de um de seus aliados, as acusações fizeram com que o Planalto antecipasse ações na área econômica, com o anúncio de um minipacote na quinta-feira (15). Objetivo era evitar que os depoimentos afetem o governo, cuja popularidade está em queda.
O próprio Temer foi citado diretamente em uma delas, segundo a qual ele pediu dinheiro para campanhas do PMDB em 2010 e 2014. Em respostas oficiais, o peemedebista disse ter tratado de doações ao partido, uma vez que era presidente da legenda, mas negou ter pedido ou recebido recursos ilegais.
Neste mesmo depoimento, Melo Filho afirma que os dois integrantes do “núcleo político” de Temer que restam – Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, e Moreira Franco, secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) – eram figuras essenciais na interlocução entre a empreiteira e o PMDB, partido presidido por Temer por 15 anos.
“Para fazer chegar a Michel Temer os meus pleitos, eu me valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, que o representavam. Essa era uma via de mão dupla, pois o atual presidente da República também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que participei, operacionalizados via Eliseu Padilha”. – Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, em delação.
Até o momento, são essas as informações sobre eles:
Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil
A Casa Civil é o ministério mais importante da Esplanada por ser a pasta responsável por avaliar e articular todos os projetos considerados estratégicos pelo presidente da República. Padilha não é investigado pela Lava Jato, mas seu nome foi citado 37 vezes na delação de Melo Filho.
“Ele [Eliseu Padilha] atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”. Cláudio Melo Filho
O delator afirmou ainda que Padilha recebeu R$ 4 milhões dos R$ 10 milhões prometidos pela Odebrecht a Temer em 2014. O ministro afirmou nunca ter tratado sobre arrecadação de doações e que a declaração é mentirosa. Fora da operação da PF, o ministro é alvo de acusações envolvendo crimes ambientais e grilagem em fazendas que tem em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul.
Moreira Franco, Secretaria de Aviação Civil
O secretário-executivo ocupa área importante para a política econômica de Temer, já que é a secretaria responsável pelo programa de concessões e privatizações do governo – uma das apostas para a retomada da economia. Na delação de Melo Filho o nome de Moreira Franco aparece 29 vezes.
“Acredito que há uma interação orquestrada entre ele [Moreira Franco] e Eliseu Padilha para captação de recursos para o seu grupo do PMDB, pois Moreira Franco me solicitou um apoio de contribuição financeira (…), mas transferiu a responsabilidade pelo recebimento do apoio financeiro para Eliseu Padilha”. Cláudio Melo Filho.
O delator conta que Moreira Franco pediu, durante uma reunião de trabalho, recursos para o PMDB. Moreira Franco era ministro da Secretaria de Aviação Civil do governo Dilma e recebeu os executivos da Odebrecht para falar da concessão do aeroporto do Galeão. O peemedebista disse que “jamais” falou sobre política ou de dinheiro para o PMDB com o ex-executivo.
Instabilidade e reforma ministerial em estudo
As delações tornam incerta a permanência de Padilha e Moreira Franco em 2017. Uma reforma ministerial já está em estudo pelo Planalto e alterações na Casa Civil, por exemplo, não estão descartadas, conforme reportagem de “O Estado de S.Paulo”. Nos últimos dias, ambos precisaram desmentir publicamente boatos de que deixariam o governo. A possibilidade que novas revelações venham a público, porém, deixa a situação de Temer delicada. De um lado, ao manter aliados, ele pode ficar desgastado perante à opinião pública, no momento em que registra altos índices de rejeição e má fase econômica. De outro, ao perdê-los, fica sem figuras de confiança no núcleo decisório do governo.
Fonte: Nexo.