Por John Hellmer, Dances with Bears, Moscou.
Tradução: Coletivo Vila Vudu.
Para que os Impérios imperem, seus agentes têm de ter o monopólio da força, da fraude e da subversão, dentro do país imperial e também nos mais distantes domínios do Império. Subversão significa capacidade para persuadir o povo do que seria verdadeiro e bom, e do que seria falso e mau para o mesmo povo. Em resumo: não há império sem monopólio da propaganda.
Era assunto corriqueiro na Rússia no tempo de Boris Yeltsin e da família Clinton. Mas atualmente no front da Ucrânia e no front da Síria, a força russa domina completamente. Em todos demais fronts de guerra dos EUA os agentes Washington estão sendo derrotados; o que inclui de pequenas ilhas como Chipre, a grandes ilhas como as Filipinas.
Os britânicos votaram a favor do Brexit; os franceses, a favor de François Fillon e Marine LePen; e os norte-americanos, a favor de Donald Trump, porque a fraude que enriquece as respectivas elites governantes tornou-se gigantesca demais, óbvia demais para que os meios e técnicas ‘midiáticas’ de subverter a opinião pública continuassem a poder explicar tudo ou tudo esconder.
As sanções de EUA e Europa contra a Rússia foram colossal erro de cálculo, porque deram aos russos o parâmetro que antes não tinham para calcular a miséria em que foram jogados, não só pela desvalorização do rublo e a perda da renda do petróleo e gás, mas também pela brutal desigualdade infligida aos russos pelo sistema dos oligarcas que substituíram o sistema comunista.
Ao cortar os oligarcas e bancos estatais separando-os do capital internacional que eles regularmente roubavam e convertiam em patrimônio fora do território russo, as sanções forçaram um Kremlin sempre relutante a correr na direção da autossuficiência; e isso neutralizou, pelo menos por hora, o mais poderoso lobby russo a favor a ‘americanização’ da Rússia e – o que vem a dar no mesmo – a favor da globalização. O que restou do lobby da fraude e da conversão em Moscou – Anatoly Chubais, Alexei Kudrin, Alexei Ulyukaev – vive hoje sob uma ou outra modalidade de prisão domiciliar.
Se o primeiro assalto contra a Rússia, por jornalistas ocidentais, há um quarto de século, foi sinal do colapso da resistência russa, dessa vez acontece o contrário – o ataque agora é sinal do colapso dos EUA e anglo-europeu, e do renascimento da Rússia. Muito tempo passará, antes de conseguirmos saber de que lado ficam os civilizados, de que lado os bárbaros. Incerteza como essa foi chamada, há tempos, de “Idade das Trevas”.
O modelo de mídia digital desenvolvido pela Agência Central de Inteligência (CIA) e pelo Departamento de Estado dos EUA para mudar regimes no Egito, Tunísia, Líbia e Ucrânia já falhou absoluta e completamente – produziu contrarrevolução, guerra civil, anti-norte-americanismo, terrorismo, refugiados e caos. Os únicos casos de sucesso da CIA no serviço de subverter opinião pública, mídia-empresas, partidos, parlamentos – Lituânia, Letônia, Estônia, Montenegro, Macedônia, Kosovo, Canadá, Austrália – também são completos fracassos: são estados fantoches, fracos demais como aliados em armas, pobres demais como aliados em capitais, absolutamente irrelevantes fora das próprias fronteiras.
Em áreas mais sérias, o modelo digital de negócio para veículos como Guardian, Financial Times, Washington Post e New York Times é insistente fracasso e não sustenta números de audiência ou a solvência, o que obriga essas empresas a se converterem em aplicativos para empresas de telefonia, varejistas de internet ou orçamentos governamentais.
O colapso do modelo digital seja na política seja no comércio ainda não convenceu os pregadores apóstolos do modelo digital de que o produto deles absolutamente não presta. Em vez de concluírem pelo óbvio, que todos vemos, inventaram que o modelo deles teria sido superado ou completamente derrotado por uma versão russa do mesmo modelo. Na avaliação dos caixeiros viajantes norte-americanos do modelo digital, os norte-americanos revelaram-se mais otários e fáceis de enganar que os egípcios (e mais otários que isso, só australianos e estonianos).
Soa como perfeitamente claro e racional para os caixeiros viajantes norte-americanos promotores do modelo digital, que há alto ganho político e muito lucro comercial a ser capturado do orçamento do Estado e do mercado da Internet, desde que consigam fazer os norte-americanos morderem a isca “inimigo russo”, para, com isso, assustar suficientemente os próprios cidadãos a ponto de eles passarem a crer no que quer que lhe digam. Assim se faz a subversão da opinião pública, em outra palavra, “propaganda”.
Pois foi precisamente o que o Washington Post tentou fazer numa edição especial do Dia de Ação de Graças intitulada “Esforço de propaganda russa ajudou a disseminação em grande escala de ‘falsas notícias’ durante a eleição, diz especialista”. O jornalista chama-se Craig Timberg [sobre ele, em Counterpunch (NTs)].
Quando os especialistas começaram a desqualificar a matéria de Timberg por absoluta falta de provas ou testemunhas, o jornal agarrou-se às próprias pistolas (sem balas). “Lastimo” – o repórter escreveu por e-mail –, “mas não posso comentar matérias que escrevi para o Post.”
Até que o Washington Post pôs-se a repetir que um website novinho em folha, de nome PropOrNot.com, seria especialista renomado na análise da guerra das civilizações – quer dizer, EUA x Rússia –, com audiência mínima demais para ser registrada nas máquinas padrão de monitoramento da Internet.
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Fonte: Blog do Alok.