“Jornal Nacional” invade a privacidade de parentes das vítimas da tragédia

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    Por Mauricio Stycer.

    Na cobertura de uma tragédia do tamanho da que ocorreu com o avião da Chapecoense, com tantos elementos dramáticos envolvidos, o jornalismo da TV não precisou recorrer a truques baixos para fazer o espectador se emocionar.

    Este foi o tema de um texto publicado na “Folha” neste domingo (4), mas escrito antes que eu tivesse visto a edição de sábado (3) do “Jornal Nacional”. Queimei a língua. O principal telejornal da Globo, em que pese a extensa e boa cobertura dada aos acontecimentos, brindou o espectador com um momento de exploração grosseira do drama das famílias enlutadas.

    Uma repórter registrou com o seu telefone imagens de áreas reservadas do velório, incluindo o interior do ônibus que levou parentes ao aeroporto de Chapecó e a tenda onde velaram os corpos, dentro do estádio.

    Consciente da invasão de privacidade que estava prestes a cometer, a repórter Kiria Meurer ainda informou: “A partir deste momento, a nossa câmera, com cinegrafista, não pode entrar. Então eu vou gravando com o meu celular”.

    No momento mais constrangedor, ela abordou uma mulher e perguntou: “Você é parente de quem?” A moça informou: “Sou esposa do fisioterapeuta, Rafael Lobato”. A repórter, então, fez a observação cretina: “Finalmente, então, acabou a espera”. Ao que ouviu: “Não. O pior vem agora”.

    Diante da imagem de uma moça chorando, Kiria disse: “Do lado de fora, encontramos a namorada de uma das vítimas, que recebeu atendimento médico”. Em seguida, ouvimos o depoimento da jovem, entre lágrimas, dizendo que havia prometido buscar o namorado no aeroporto, mas não imaginava que seria desta forma.

    Filmando a si mesma enquanto percorria a área do velório (imagem no alto), Kiria descreveu os bastidores do ambiente como se estivesse visitando um ponto turístico de Chapecó.

    Foi uma reportagem de seis minutos que destoou bastante do tom informativo e respeitoso, apesar de extenso demais, da cobertura do telejornal. Difícil entender por que foi ao ar.

    Fonte: Blog do Maurício Stycer.

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