Na edição desse final de semana, a Zero Hora divulgou uma reportagem extensa sobre as ocupações de escolas e universidades. Foram entrevistados estudantes de diversas ocupações e representantes do movimento Desocupa, além do Prof. Bruno Lima Rocha. A página Ocupa Tudo Brasil também foi procurada e respondeu alguns questionamentos a partir de um dos administradores da página no RS, Matheus Gomes, estudante de História da UFRGS.
Consideramos problemática a parte que fala sobre o papel das lideranças nas ocupações. Ao alçar três estudantes a esse posto, a matéria estabelece uma contradição com o próprio conteúdo apresentado em seu decorrer, que relata uma nova forma de organização do movimento estudantil, que em parte é reflexo das mudanças ocorridas após Junho de 2013.
As ocupações na UFRGS e em todo o Brasil demonstram que estamos cansados das antigas formas de organização estudantil, coordenadas por lideranças afastadas da base, legitimadas por cargos escolhidos de forma burocrática.
Por isso ocupamos o nosso próprio local de estudo e a partir daí criamos uma rotina de assembleias diárias e um conjunto de comissões que estabelecem uma divisão de tarefas inclusiva, distinta dos mecanismos burocráticos das entidades estudantis (UNE, UGES, UMESPA e muitos DCE’s) e em contraposição a democracia representativa, amplamente questionada nas ocupações, principalmente depois do golpe institucional que levou Temer ao poder.
Essa forma de organização só permite compreender lideranças num sentido coletivo e não individual. Lutamos por uma causa comum e queremos a ampliação da participação política dos estudantes e trabalhadores nas decisões do país, por isso defendemos o método das ocupações e a auto-organização dos debaixo.
Por fim, lutamos pelo fortalecimento da mídia alternativa a partir das redes sociais. Hoje atuamos no Facebook e no Instagram. A Ocupa Tudo Brasil começou no RS e criou a menos de um mês uma rede nacional com o objetivo de furar o bloqueio da mídia tradicional, como o Grupo RBS, que tem relação estreita com movimentos neoliberais como o MBL, que hoje impulsiona o “Desocupa” em todo o país. Não negamos a relação com a grande mídia, mas lutamos em primeiro lugar para fortalecer os nossos instrumentos com lado bem definido na luta. Por isso, a Zero Hora não tem legitimidade para dizer quem lidera as ocupações. São os estudantes em luta que definem com suas próprias mãos o seu destino, ao lado do povo trabalhador e é isso que os incomoda!
Editorial Ocupa Tudo Brasil, 12 de novembro de 2016.
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Fonte: Ocupa Tudo BR.