Por Eliana Povoas Brito, de Porto Seguro, para Desacato.info
Hoje, a meninada das ocupações acordou com marcas invasivas deixadas nas portas de suas moradas. Para estranhamento da moçada, o INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) tinha estado em suas instituições, mas lamentavelmente tinha se recusado a abrir as portas para o necessário diálogo com a meninada que igualmente lamenta ter que ocupar para resistir as iminentes perdas dos direitos bravamente conquistados e fortemente ameaçados pela PEC 55 e demais dispositivos legais que vêm sendo colocados à serviço do total desmantelamento da educação brasileira.
Neste comunicado, colado anonimamente nas portas das instituições de ensino ocupadas por quem lhes é de direito, o INEP se dirige aos/às inscritos/inscritas no ENEM expressando seu lamento e colocando a mudança de datas e locais como um ato de responsabilidade e segurança provocado pelas ocupações estudantis em todo o território nacional.
Sabemos muito bem que a juventude não desconhece o peso que carrega cada uma das palavras que utilizamos para nos expressar e dizer dos nossos sentimentos. Sabemos também que os significados sociais, políticos e culturais corporificados pelas palavras emergem das condições históricas que lhes dão materialidade concreta. E por isso, as comunidades escolares e acadêmicas lamentam! E esse “lamento” tem cor, tem classe, tem gênero, tem corpo político. Não é uma palavra de praxe utilizada por documentos governistas que tem suas relações bem distantes dos significados políticos que vivamente vêm sendo construídos nas ocupações.
A meninada sabe, lamenta, causar prováveis frustrações a suas/seus colegas secundaristas e universitários, mas se entristece, julga “digno de dó”, a atitude daqueles e daquelas que se recusam ao diálogo franco e fraterno e optam pelo discurso frio, formal e distante dos anseios da juventude de todas as classes econômicas e culturais. De fato, nós lamentamos e no uso descontextualizado do vocábulo “lamentável”, conforme encontra-se dicionarizado, até podemos estar de acordo, pois de fato se trata de uma medida que “pelo seu caráter medíocre, desprezível, baixo; deplorável”, torna-se lamentável.
Imagem tomada de: Photo Jornalismo