Por Osmarina de Oliveira.*
Cerca de 400 pessoas do povo Laklãnõ/Xokleng se manifestaram, na manhã do dia 26 de outubro, no centro da cidade de José Boiteux (SC), contra o preconceito que vêm sofrendo e as manifestações racistas por parte de moradores não indígenas do município.
A manifestação foi organizada por acadêmicos e acadêmicas indígenas e por professores e professoras da Escola Indígena de Educação Básica Laklãnõ e da Escola Indígena de Educação Básica Vanhecú Patté. Além dos estudantes, professores e caciques, a comunidade de forma geral também se fez presente.
Enquanto alguns comerciantes da cidade fechavam as portas das lojas para a manifestação pacífica, o povo Laklãnõ/Xokleng mostrava à cidade de José Boiteux sua força, união, comprometimento cultural e conhecimento de seus direitos, pedindo por algo fundamental e valioso para uma sociedade que se diz “evoluída”: respeito. Sem respeito não há dignidade, não há convivência, não é possível construir um mundo melhor. E é tudo isso que todos os povos têm direito.
A cidade de José Boiteux precisa querer ser melhor do que é hoje. O povo Laklãnõ/Xokleng vive neste território há centenas de anos. Desde a invasão de colonizadores este povo vem sendo obrigado a ser quem não quer ser. São criticados pelas suas especificidades culturais e são criticados quando assumem hábitos não indígenas.
O preconceito surge da falta de conhecimento. Uma população com falas preconceituosas demonstra que precisa conhecer mais e conhecer com qualidade, sair do senso comum. O povo Laklãnõ/Xokleng é único, o seu idioma é falado apenas nesta Terra Indígena, os conhecimentos específicos da Mata Atlântica, da medicina natural, do artesanato, dos valores, do modo de ser e de se organizar é algo que existe somente neste local. Grande parte dos moradores não indígenas da cidade nem sequer sabe o nome deste povo indígena, chamam apenas de “índios”. Estão distantes de reconhecer a riqueza cultural e milenar que o município possui.
O povo Laklãnõ/Xokleng, bastante politizado, com muitas lideranças, acadêmicos e professores indígenas, que continuamente estudam e se envolvem em movimentos nacionais, sabe o que é necessário para romper com tanta ignorância. Eles pedem à prefeitura do município o comprometimento sério com uma política de combate ao preconceito.
Eles pedem o ensino da história e cultura Laklãnõ/Xokleng nas escolas municipais e em outros espaços de reflexão que o município possa promover. O prefeito Jonas Pudewell, reeleito neste mês de outubro, recebeu a manifestação que finalizou em frente à prefeitura, afirmando que esta manifestação é legítima e que ele vai se comprometer em buscar meios para atender os pedidos do povo Laklãnõ/Xokleng.
Ao final da caminhada pacífica, as crianças Laklãnõ/Xokleng, estudantes das escolas indígenas, brincavam na praça da prefeitura, alegres e felizes, confiantes nos bons encaminhamentos dos adultos. Esperamos que elas tenham um presente e um futuro seguro, pleno de qualidade de vida, de direitos e de valorização de sua identidade.
*Cimi Regional Sul.
Fonte: CIMI.