Por Eliana Povoas Brito, para Desacato.info.
Os movimentos de ocupação que crescentemente vêm tomando as instituições formadoras (escolas, institutos e universidades) vêm deixando muitos professores e muitas professoras de cabelos em pé! A meninada tem mostrado que toda a discursividade disseminada nos documentos oficiais dos últimos anos, não é assim tão desprovida de sentidos. Sim, é possível fazer interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, multidisciplinaridade para além dos ranços teóricos e das históricas confusões conceituais que habitam os dispositivos legais à serviço da formação de professores/as.
Na prática, no dia a dia do trabalho coletivo e distantes das práticas normalizadoras de seus/suas mestres, a meninada das ocupações não tem feito outra coisa senão atividades que colocam em xeque as tentativas mirabolantes de seus/suas mestres em promover um ensino inter/trans/metadisciplinar que dê conta do arsenal discursivo corporificado nos projetos pedagógicos dos cursos.
Sim, a meninada, para desespero de seus/suas mestres, vem nos ensinando que os espaços das práticas interdisciplinares não se dão por uma justaposição de conhecimentos previamente selecionados, hierarquizados e homeopaticamente distribuídos. Sem preocupações com as “caixinhas” que habitam os currículos de formação, a garotada das ocupações cria, inovam, reinventam modos de aprendizagens que mostram com clareza que outras formas de existências nas instituições formativas são possíveis, necessárias e urgentes.
Para desespero dos/das docentes que insistem em querer “contribuir” quadriculando o cotidiano das ocupações com seus saberes e poderes doutorais, a meninada dança, canta, discute, organiza, se informam, estudam, auto organizam os seus cotidianos nas instituições que lhes pertencem. Manifestam-se pública e politicamente dando materialidade a uma das utopias docentes historicamente perseguidas e até então distantes dos chãos das escolas e das instituições universitárias: a práxis enquanto uma conceito-ação cunhado por Paulo Freire!
A lição que fica da primavera estudantil diz da necessidade de aproveitarmos esses espaços vivamente esculpidos pelas ocupações para, quem sabe, junto com eles/elas, reiventarmos práticas pedagógicas que de fato sirvam como ferramentas à outras formas éticas e estéticas de habitação de nossas instituições educacionais.