Conselho pede que MP acompanhe investigação de desaparecimento de jovens em SP

Por Elaine Patrícia Cruz.

Após ouvir ontem (1º) o depoimento de duas das mães de cinco jovens que estão desaparecidos em São Paulo desde o dia 21 de setembro, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) decidiu encaminhar um pedido ao Procurador-Geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, para que determine que o Ministério Público acompanhe as investigações sobre esse caso.

O Condepe também pretende pedir uma reunião com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, ainda esta semana.

Os cinco jovens estavam indo de carro a uma festa em um sítio em Ribeirão Pires, no Grande ABC, no dia 21 de outubro e, desde então, as famílias não tiveram mais notícia deles. A última informação que eles receberam foi uma mensagem de um dos jovens no celular dizendo ter sido parado em uma blitz policial. Como há a suspeita de participação de policiais no desaparecimento dos garotos, a Corregedoria da Polícia Militar está acompanhando o caso e também já começou a ouvir o depoimento das mães.

Os nomes e fotos de quatro dos cinco estão no site da Polícia Civil, no registro de pessoas desaparecidas. São eles: Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos; César Augusto Gomes Silva, 20 anos; Caique Henrique Machado Silva, 18 anos; e Robson Fernando Donato de Paula, 17, que é cadeirante. O quinto, que dirigia o carro, era Jonas Ferreira Januário, 30 anos.

A mãe de Jonathan, Adriana Nogueira Moreira, 44 anos, disse que não sabia para onde o filho estava indo naquela noite, mas desde então, a família não teve notícias sobre ele. “Nenhuma, nenhuma, nenhuma [notícia], desde o dia 21”, ressaltou. Para ela, o desaparecimento dos jovens é muito estranho. “Nenhum dos meninos tinha costume de sumir assim não.”

Quatro dos cinco desaparecidos, com exceção de Jonas, tinham passagem pela polícia. Em entrevista, o ouvidor da Polícia Militar, Julio Cesar Fernandes Neves, disse que alguns familiares relataram que os jovens estavam sofrendo retaliações após a morte de um policial na região onde moram.

A mãe de Jonathan negou hoje que seu filho estivesse sendo ameaçado pela polícia, mas ressaltou que “tudo indica” que policiais possam ter participado do desaparecimento de seu filho. “A gente só quer uma resposta. Só queremos saber o que aconteceu porque não dá para viver desse jeito, com essa dúvida se ele está vivo ou se está morto, onde ele está, o que fizeram.”

Ao participar de um evento em outro ponto da cidade, o secretário estadual de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, disse que o caso está sendo investigado. “Não há, até agora, nenhum indício concreto de que eles tenham sido abordados pela polícia. A abordagem que foi mencionada pela namorada de um deles se deu em um momento anterior e o namorado chegou, inclusive, a mencionar que havia sido abordado. Ou seja, esses rapazes não sumiram durante uma abordagem policial. Mas isso está sendo investigado tanto no DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] quanto na Corregedoria da Polícia Militar em virtude dessa informação inicial.”

Prisão de ator em Santos

Mágino Alves também comentou a prisão pela PM, no último domingo (30), de um ator da peça Blitz – O Império que Nunca Dorme, da companhia Trupe Olho da Rua, que estava sendo apresentada em uma praça de Santos, no litoral paulista. A peça faz críticas aos abusos e violência cometidos por policiais militares.

“O caso está sendo apurado. Vamos ter que sopesar o que é desrespeito a símbolos nacionais [em um momento da peça a bandeira nacional é hasteada de ponta cabeça] e se isso justifica evidentemente uma ação mais drástica como o encaminhamento à Polícia.”

Perguntado se a cena da bandeira não fazia parte do contexto ficcional ou de uma crítica artística, o secretário disse que o símbolo nacional “estava sendo mostrado de forma jocosa” na apresentação. “E o hino nacional estava sendo entoado também com sobreposição de outra música. Mas o que quero dizer é que precisamos apurar com a maior cautela se não houve excesso na condução dessas pessoas. Não vou fazer julgamento porque é muito cedo para a gente analisar os fatos. Quero ter noção exatamente do que os atores relataram e do que os policiais que participaram da ocorrência relataram.”

Fonte: Agência Brasil

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