O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou no último dia 22, o seminário “Grupos Vulneráveis e Violações de Direitos Humanos com a chegada dos Grandes Projetos na Região do Tapajós”, em Itaituba (PA). A atividade integra o projeto “Direitos das Mulheres Atingidas por Barragens”, realizado com apoio da Christian Aid e União Europeia.
O objetivo da atividade foi trabalhar o tema da violência contra mulheres, crianças e adolescentes no contexto das grandes obras na Amazônia, em especial na região do Tapajós, última fronteira da expansão desses projetos. A atividade foi feita em parceira com o Sindicato dos Professores (Sintepp). O objetivo é que as professoras e professores que participaram da atividade possam trabalhar o tema nas escolas através de oficinas, teatro e outras formas didáticas. Estiveram presentes no seminário 70 professores, sendo 63 mulheres e sete homens.
A mesa de abertura foi composta por MAB, Sintepp e Faculdade de Itaituba (FAT). As organizações fizeram um pequeno relato sobre a importância do seminário e como a região já vem sofrendo, pois, apesar das hidrelétricas ainda não estarem construídas no rio Tapajós, o município e a região sofrem com as construção dos portos para o escoamento da soja do Mato Grosso.
Em seguida, iniciou o debate do tema com a presença de Assis Oliveira, professor em direitos humanos na UFPA, Edizângela Barros, ex-conselheira tutelar do município de Altamira e integrante da coordenação do MAB no Xingu, e Lucielle Sousa Viana, do MAB no Tapajós.
Edizângela trouxe a experiência de trabalho como conselheira tutelar no auge da construção de Belo Monte e experiência como militante do MAB. Segundo seu relato, o período como conselheira tutelar foi muito desafiante, pois com a construção da hidrelétrica de Belo Monte aumentaram muito as violações de direitos das crianças e adolescentes em Altamira, com o aumento do tráfico de drogas, da prostituição e a destruição das famílias e das comunidades.
Por outro lado, não houve medidas efetivas para mitigar esses problemas por parte da empresa construtora da barragem e do Estado. Para os atingidos por Belo Monte, não restou outra alternativa a não ser se organizar no MAB para denunciar essas violações e lutar por direitos. “Ser militante do MAB contribuiu bastante para que eu pudesse ter feito um bom trabalho dentro do conselho tutelar e também na comunidade”, afirmou.
Assis Oliveira socializou experiência do trabalho com os grupos vulneráveis na região do Xingu, que se tornou referência nacional para o tema. Segundo ele, a região atingida deveria ter o “direito ao desenvolvimento”, no entanto, quando não há políticas específicas para isso, esse direito fica restrito apenas às empresas internacionais, que visam lucrar com essas obras. “Com todo esse ‘desenvolvimento’ vêm as mazelas como o crescimento da migração populacional, sobrecarga das políticas públicas e as riquezas sendo exploradas e exportadas enquanto os impactos são invisibilizados ou desconsiderados”, disse.
Segundo Assis, a escola tem um papel fundamental e deve se envolver nesses debates, também como forma de prevenção e conscientização, discutindo os temas relevantes, socializando informações para a formação dos sujeitos e também obtendo as opiniões das crianças e adolescentes e da comunidade em geral.
Lucielle Viana falou sobre o trabalho que o MAB tem realizado no último período na região do Tapajós através do Projeto apoiado pela Christian Aid e União Europeia. “Esse trabalho tem sido muito importante para fortalecer a participação das mulheres na vida política das comunidades ameaçadas e atingidas por esses projetos em nossa região e tem mostrado como a participação das mulheres é decisiva”, disse.
Após o painel expositivo, os participantes se dividiram em grupos para fazer o debate. Como encaminhamento, os participantes construíram uma agenda de debates sobre o tem nas escolas da região.
Fonte: MAB.