Por Max Altman.
Abro o jornal na seção internacional e leio: “Atos anti-Maduro deixam 1 morto e feridos”. O que! A polícia de Maduro matou um manifestante? Nada disso. O morto foi um policial José Molina Ramirez, atacado a tiros por um bando violento no estado Miranda, governado pelo líder da oposição Henrique Capriles. Os feridos foram 120 e 147 os presos. A ação da polícia e das forças de segurança foi a de garantir que os atos fossem pacíficos e que as ações de violência e os violentos fossem contidos. Todas as ações violentas de que resultaram os feridos e os presos ocorreram nos estados. Em Caracas não houve qualquer problema. São os jornais oposicionistas, como o El Nacional, que informaram.
Vou ao editorial da Folha e leio “Sem acordo, a população venezuelana fica à mercê de um presidente [Maduro] fragilizado, sem condições de enfrentar problemas como o desabastecimento e a maior inflação do mundo – e incapaz de perceber que os 17 anos de regime chavista se transformaram numa catástrofe para o país.” A par o viés ideológico de não admitir um regime anticapitalista, Maduro está há três anos e meio na presidência, submetido a brutal campanha local e internacional para derrocá-lo, e se mantém firme à frente de seu país. Sem querer minimizar a gravidade da situação econômica, o desabastecimento está hoje melhor do que há dois ou três meses. O petróleo na faixa de 45 dólares o barril – e não mais em 22 dólares anteriores – permite ingressos suficientes para importar os produtos de primeira necessidade. Quanto à inflação, é em grande parte induzida pelos monopólios e oligopólios importadores que manipulam o câmbio.
O jornal anuncia a grande manifestação da oposição. Foi importante, mas abaixo das expectativas de seus dirigentes que, desta vez, não se aventuraram a divulgar números, quando na manifestação de 1º de setembro chegaram a falar de um milhão. A avenida Francisco Fajardo, local da concentração dos opositores na marcha “Tomada de Caracas” não teve sequer o fluxo de veículos interrompido. Enquanto isso – fato absolutamente ignorado pela nossa imprensa – simultaneamente estava ocorrendo uma grande manifestação de partidários do governo nas cercanias do palácio presidencial de Miraflores.
Já o colunista Clóvis Rossi, na mesma edição, em “Venezuela, a Síria das Américas” depois de desfilar alguns números alarmantes sobre a situação venezuelana, realça: “A crise no vizinho do Norte já não é apenas política ou ideológica; tem dimensões de catástrofe humanitária.”
Esta não é a opinião de Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal): “O país não está em uma crise humanitária, definitivamente não, temos que ter isso claro. Há escassez de certos produtos e tensão política, mas a Venezuela tem ainda muitos elementos para ser um país vibrante e economicamente pujante e está fazendo esforços para diversificar sua produção”, afirmou durante a XIII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e o Caribe,. Que começou nesta terça-feira, 25, em Montevidéu. “A Venezuela está realizando esforços para diversificar a economia, que depende quase exclusivamente da renda petroleira”, acrescentou.
Bárcena também explicou que na Venezuela houve numerosos avanços sociais, pois “não é possível esquecer que tiraram muita gente da pobreza”.
Desde outubro de 2014 o preço do petróleo começou a baixar, gerando perdas para a economia venezuelana. A estimativa da Cepal para o próximo ano, no entanto, é de um melhor crescimento.
Segundo dados do organismo, a economia vai registrar uma contração de 8% este ano, e de 4% em 2017, “devido à recuperação do preço do petróleo”, comentou.
Segundo a secretária-executiva da Cepal, o presidente venezuelano Nicolás Maduro tem realizado esforços para estabilizar os preços do petróleo “e isso é uma ação positiva”.
“A Venezuela está cumprindo com seus compromissos da dívida, com os pagamentos internacionais, portanto não está em default, continua recebendo financiamento e créditos, talvez a um alto custo, mas continua recebendo”, explicou.
Nos últimos 18 meses o país pagou US$40 bilhões em compromissos financeiros e internacionais.
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Fonte: Opera Mundi.