Por Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info.
Como leitor ou leitora de notícias é necessário não acreditar no que dizem os meios oficiais ou meios de prestígio social porque muitas vezes eles respondem a interesses de Estado ou de particulares com peso econômico e/ou político. Se cairmos na narrativa da mídia comprada, corremos o risco de sermos controlados, crer em tudo o que nos falarem e apoiar as suas guerras.
O objetivo deste artigo não é ferir os sentimentos de ninguém e espero ser imparcial, mas tendo em contra que determinado pseudo país tem um super armamento, armas nucleares, o apoio da comunidade internacional (chefes de Estados) e muito dinheiro que lhe dá capacidade de compra que se traduz basicamente em que eles impõem as regras e cometem crimes de lesa humanidade contra um povo que quase não tem como se defender. É isso mesmo, me refiro ao regime sionista contra o povo palestino. E algo que sempre destaco é que não se trata de um conflito; é mais um caso de colonização que começou no século XX e ainda continua vigente. O povo palestino foi expulso de seu território histórico por um grupo de pessoas que nem sequer nasceram lá, que se basearam em supostos bíblicos para dizer que toda Palestina é deles e para atingir seu objetivo utilizam a limpeza étnica, a ocupação, a destruição de aldeias e cidades e de construções históricas, para justificar a ideia de “uma terra sem povo para um povo sem terra”. O exemplo mais notável é a “judaização” de Jerusalém e com isso a demolição das mesquitas e o sonho maluco dos sionistas de reconstruir o templo de David do qual, supõe-se faz parte o Muro das Lamentações.
E você, leitor, leitora, perguntará porque apresento este assunto no meu espaço que cobre assuntos sobre o México? Porque na semana retrasada o México foi um dos 24 países que votou a favor de uma resolução da UNESCO que busca garantir a salvaguarda da autenticidade, a integridade e o patrimônio cultural da Cidade Velha de Jerusalém. Porém, a verdadeira mensagem, se perdeu e a mídia se fundamentou nos argumentos do governo israelense que interpretou a resolução como quis, dizendo que a votação procurava eliminar o vínculo dos judeus com o Muro das Lamentações e com Jerusalém.
As manchetes da mídia mais influente internacional e mexicana foram: “A UNESCO vota a favor de eliminar vínculo judeu com o Muro das Lamentações e a Esplanadas das Mesquitas pertence à comunidade muçulmana”. A comunidade judaica mexicana ficou brava e rejeitou energicamente a posição do México ante a votação. De fato, considera que o país não tem nada a ver com temas inter-religiosos e porque como não estamos no Oriente Médio não nos afeta nem nos privilegia apoiar os palestinos. O seja, o México não pode enfiar o nariz se ele vê como um homem bate em uma criança só porque não é parente ou conhecido da criança.
“Lamentamos que o México tenha sido um dos 24 países que votou a favor desta resolução de um total de 58, se somando assim a um grupo que praticamente faz um revisionismo histórico do local sagrado para as três principais religiões monoteístas do mundo ocidental, o judaísmo, o cristianismo e o islã”, indicou a comunidade judaica.
Como parte da desinformação midiática para causar controvérsias, uma jornalista mexicana de religião judaica, se atreveu a dizer que a resolução, além de negar o vínculo judeu, também nega o vínculo cristão, algo assim para que os católicos mexicanos e do mundo pulassem indignados e ofendidos, o que não aconteceu. De fato, não vi o Papa Francisco dar declarações em relação a este fato.
A iniciativa foi iniciativa dos palestinos junto com o Egito, Líbano, Argélia, Marrocos, Omã, Catar e Sudão. O documento final em inglês pode ser encontrado na página oficial da UNESCO como “Decision: 39 COM 7A.27 Old City of Jerusalem and its Walls (site proposed by Jordan) (C 148 rev)” e destaca a preocupação com as escavações ilegais e obras realizadas pelas autoridades de ocupação israelenses, a ação violenta dos grupos de colonos radicais na Cidade Velha de Jerusalém e o fracasso de Israel para que cesse este tipo de intervenções nocivas. O bloqueio de Israel e a proibição da renovação da construção da Porta de Al-Rahma, uma das Portas de Al-Aqsa / Al-Haram Al-Sharif (construções danificadas pelo exército israelense em o 2014), e insta a Israel a deter a obstrução dos trabalhos de restauração necessários, com o fim de reparar o dano causado. Expressa a sua negativa à construção de um teleférico e do “Centro Kedem” e de mais 19 projetos que prejudicam a imagem da Esplanada das Mesquitas. Expressa sua crescente preocupação em relação às demolições e excavações ilegais nos arredores da ladeira da Porta Mughrabi e os últimos trabalhos de excavação levadas a cabo no início de maio de 2015 na Praça Buraq (Muro Ocidental) de Al-Aqsa / Al-Haram al-Sharif, e pede a Israel, a potência ocupante finalizar tais violações, respeitar o status quo, e permitir que os especialistas competentes mantenham e salvaguardem o lugar conforme as disposições pertinentes dos convênios da UNESCO e recomendações, em particular o Convenção da Haia para a Proteção dos Bens Culturais.
A diretora geral da UNESCO, Irina Bokova frisou que a mesquita Al Aqsa/Al-Haram-al-Sharif é um santuário sagrado para os muçulmanos, e é também o Monte do Templo, cujo Muro das Lamentações é um local sagrado para o judaísmo. Ainda, faz um chamado ao diálogo, não à confrontação, para fortalecer esta coexistência cultural e religiosa.
Durante a reunião da UNESCO, Andrés Roemer (quem, por sinal, é judeu) o embaixador do México diante deste organismo internacional, sentiu que as suas crenças tinham sido insultadas ao ver o voto mexicano em apoio à iniciativa. Foi embora do plenário e retornou quando eram lidos os discursos finais.
No âmbito pessoal não concorda com a decisão do México na votação, não só por razões religiosas, mas pelo conteúdo da resolução e a falta de informação com a que se tomou a decisão. A incomodidade que lhe causou a votação o levou a pensar na renúncia, mas decidiu não fazê-lo.[1]
Benjamín Netanyahu, o primeiro ministro israelense, explodiu, literalmente com a decisão da UNESCO, e declarou que negar a vinculação judaica com o Monte do Templo e o Muro das Lamentações é como negar o vínculo da muralha com a China ou as Pirâmides de Gizé com o Egito. Acrescentou que está na Bíblia a prova ancestral de que essa área pertence aos judeu. Esta declaração deu força às matérias que circulavam nos jornais e gerou desinformação legitimada.
A Secretaria de Relações Exteriores do México (SRE), em uma tentativa de ficar bem com a comunidade judaica do México e Israel e com o Estado “ilegal” de Israel, publicou na sua página oficial que o México e Israel compartilham valores democráticos, que a relação com o povo judeu vem de longa data e a integração no México das comunidades judaicas tem enriquecido significativamente a vida econômica, social e cultural de nosso país. Além disso, que a decisão aprovada pelo Conselho Executivo da UNESCO relativa à preservação do patrimônio cultural e religioso em Jerusalém Oriental busca “promover a preservação do patrimônio cultural e religioso em Jerusalém Oriental” afirmando assim que México sempre apoiou a preservação cultural de qualquer país (mas não de seu patrimônio cultural interno), e reconhece que esta é uma tarefa da UNESCO legítima. E que é dever das partes envolvidas preservar o local em benefício da Humanidade.
O seja, sim votaram a favor da resolução, mas como não querem ficar mal com seus sócios israelenses por isso dos investimentos, decidiram destituir do cargo Andrés Roemer como embaixador por não ter cumprido as suas funções por ter ido embora em plena discussão-votação da resolução e, ainda, foi anunciada a mudança no voto mexicano, de um voto de aprovação para uma abstenção, para não ferir os sentimentos da comunidade judaica.
O Ministério das Relações Exteriores disse que a mudança no voto “reitera o reconhecimento que o governo do México outorga ao vínculo inegável do povo judeu com o patrimônio cultural situado em Jerusalém Oriental, e reflete a enorme estima que tem pela comunidade judaica e suas significativas contribuições ao bem-estar e desenvolvimento do nosso país”[2].
Ações como essas deixam claro que os representantes de uma minoria de cerca de 50.000 pessoas consegue obrigar o Estado mexicano “livre” e “soberano” a mudar seu voto. Na terça-feira 18 de outubro durante a plenária do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a representação mexicana anunciou a sua abstenção na votação da resolução à preservação do patrimônio cultural e religioso em Jerusalém. Contudo, o México teve negada a troca do voto e a resolução foi aprovada. A votação ficou assim: 24 países a favor, entre eles o México; seis em contra, 26 abstenções e dois países ausentes.
Si hace unos días se hablaba de que México tenía um pésimo desempeño em política exterior por supuestamente não saber que se estaba votando em a UNESCO, ahora com o cambio de voto estamos comprobando que os funcionarios de a cancillería de os exteriores solo están jugando a que son diplomáticos e que realmente não saben que se está peleando o defendiendo em a arena de a comunidad internacional.
Puebla, 24 de outubro de 2016
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[1] Lo que me dijo el embajador Roemer sobre el voto en la UNESCO. Disponível em http://www.huffingtonpost.com.mx/adina-chelminsky/adina-chelminsky/sobre-el-voto-en-la-unesco-el-embajador-roemer-y-mi-opinion/
[2] SRE separa del cargo a Andrés Roemer en la Unesco, Patricia Muñoz Ríos. Disponível em http://www.jornada.unam.mx/ultimas/2016/10/17/sre-separa-del-cargo-a-andres-roemer-en-la-unesco
Tradução: Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.