Por Renato Santana.*
Aos Guarani, ‘palavra’ tem um significado plural; voz, linguagem, alma, nome, vida, cura, poesia, canto, nome, origem, projeto. Paulo Suess, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), explica e interpreta que ‘palavra’ é a afirmação da vida. Na Guatemala, ou para os indígenas Panajachel, desde o dia 25 até ontem, dia 30, ocorreu o VII Encontro Continental de Teologia Índia sob o tema: “A palavra de Deus na palavra dos Povos Indígenas”.
O encontro foi organizado pela Articulação Ecumênica Latino Americana da Pastoral Indígena (Aelapi) e pelo Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai) e reuniu cerca de 200 lideranças indígenas e agentes pastorais das mais diversas igrejas e denominações religiosas. Do Brasil, além de missionários e assessores do Cimi, indígenas dos povos Pataxó Hã-Hã-Hãe (BA), Xavante (MT) e Puruborá (RO) participaram da reunião.
“Tivemos o dia de “ouvir” o clamor dessa humanidade crucificada que “vem da grande aflição” (Apc 7,14). Como articular o “princípio da realidade” com o “princípio da esperança”? Parece que princípios não funcionam nessa sociedade sem princípios. Discernimos também a voz de Nãnderu na voz dos povos indígenas”, afirma Suess. Para o teólogo e escritor, “esta é uma parte significativa da humanidade crucificada. Sua vida é a glória do nosso Deus!”.
Para a Teologia Índia, porém, o aspecto cosmológico das crenças e religiões em comunhão – a ‘palavra’ quando espraiada em significados – se traduz na luta pela vida dos povos. O encontro, portanto, discutiu os projetos de vida dos povos originários da Abya Yala frente aos novos desafios do continente Latino Americano – em choque entre projetos desenvolvimentistas à esquerda e o entreguismo neoliberal assediando o Continente aos interesses do Capital e Mercado estrangeiros.
“Esta reunião ocorreu em um momento em que de fato é inegável que o contexto econômico, social e político imposto pela globalização do mercado neoliberal afeta negativamente a vida de nossos povos ao ponto de pôr em risco a sobrevivência e reprodução da cultura e fé deles”, defende em nota o Conselho LatinoAmericano de Igrejas. Para a entidade latina, existem duas opções: ou nós salvamos e cuidamos da natureza, ou morreremos todos.
Todavia, isso se trata de um projeto revolucionário e de transformação. Conforme os organizadores do VIII Encontro de Teologia Índia, é preciso aprender com os povos indígenas e ouvir a ‘palavra’; cuidar da Casa Comum e o Bem Viver com a Mãe Terra. E isso envolve a demarcação de terras indígenas, reforma agrária, equidade social, socialização dos meios de produção e utilização equilibrada e não consumista dos recursos naturais, entre outros.
Para o pastor Miguel Salanic, coordenador da Pastoral Indígena do CLAI e membro da equipe organizadora do VIII Encontro, o objetivo da reunião foi ainda “compartilhar a força e o poder da Palavra de Deus na Palavra dos Povos para a análise global da Aurora da Vida, e assim desfrutar e fortalecer nossas esperanças de resistência e luta. Em outras palavras, procuramos mostrar na luta milenar de povos indígenas e povos da Bíblia a palavra e a esperança ativa”.
*Assessoria de Comunicação do Cimi
Fonte: CIMI