Pensando a integração a partir da Revista Latinoamérica

Latinoamérica RevistaPor Elissandro dos Santos Santana, Porto Seguro, para Desacato.info.

Quando se pensa em integração e em desenvolvimento na América Latina, automaticamente, vem-nos à mente questões de ordem política, relações exteriores e outras possibilidades nesse âmbito, como se somente instâncias governamentais fossem capazes e responsáveis por discussões e decisões nesse sentido. O fenômeno é mais complexo, por isso, é importante pontuar que nenhum governo se faz sem o povo e é no seio deste que os imaginários, ideários, discursos, sentidos e fatos se constroem, se desconstroem e se reconstroem.

Esses imaginários sobre a integração podem ser alimentados e retroalimentados a partir da comunicação e da informação científico-técnico-cultural e é ai que entra a Revista Latinoamérica para desempenhar, assim como a Desacato e outras, o papel crucial no tangente às reflexões em campos amplos de saberes latino-americanos, pois em tempos de desmantelamento do MERCOSUL e da América Latina como um todo, cada texto, artigo, resenha, reportagem e palavra nessa revista vem revestido da poesia necessária para o sonho de que a integração e o desenvolvimento latino-americano são possíveis.

A Latinoamérica possui edições bimestrais e, atualmente, está na quinta edição. Estrutura-se como revista plural com origem e ponto de partida em torno do fomento, da promoção e da ampliação dos debates e embates latino-americanos, buscando, sempre, por meio de olhares, análises e vertentes múltiplas de observação e estudo, apresentar caminhos para a reflexão acerca do integrar e do desenvolver o continente para além das temáticas meramente políticas, atingindo a dimensão do social nesse imenso projeto que é a integração.

Além das edições bimestrais, na página oficial da revista há seções de grande relevância divididas por áreas do conhecimento como: Economia e Desenvolvimento, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Arte e Cultura, Política e Sociedade e Integração. Nesse espaço, são apresentados artigos, matérias e análises, em geral, em destaque na rede mundial de informação com relação direta com a América Latina.

Como já mencionado, a revista se configura como espaço de discussão acadêmico-cultural-técnico-científica na vertente da integração e do desenvolvimento latino-americano. Para tanto, reúne um corpo editorial que, na teoria e na prática, possui vínculos identitário-formativos com os temas latino-americanos. O referido corpo editorial pertence a universidades e a outras instituições que, direta ou indiretamente, concebem a integração latino-americana como objeto de estudo ou algo nessa linha.

Um ponto importante e que, por isso, merece destaque, é o fato de que o projeto Revista Latinoamerica tomou corpo e voz, em especial, por meio do percurso acadêmico-profissional e da empiria de vida da Profa. Dra. Luísa Maria Nunes de Moura e Silva, a editora-chefe. Ela é Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Estudou sobre desenvolvimento e dependência da América Latina com Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos e Vania Bambirra na Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM. Concluiu o mestrado em Sociologia e a licenciatura em Ciências Sociais em Pernambuco. Na Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, instituição na qual trabalhou durante 10 anos com Gilberto Freyre, especializou-se em Métodos e Técnicas da Pesquisa Social. Mudou-se para Brasília onde atuou em Extensão Universitária no MEC e depois para Campo Grande, MS onde, em 1987-1988 coordenou a Comissão de Implantação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul para a qual foi elaborado o Projeto UILA – Universidade de Integração Latino Americana. Na UFMS, nos anos 1990, criou o Programa de Estudos Latino-Americanos sob o qual coordenou várias ações de ensino, pesquisa e extensão. Em São Paulo trabalhou em ensino e pesquisa em várias instituições, destacando-se como professora de Relações Internacionais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo onde coordenou o CEMPPRI (Centro de Estudos, Monografias, Pesquisas e Projetos em Relações Internacionais).

Na sua militância pela integração da América Latina foi, em 2009, ser Professora Visitante da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA, contribuindo para a estruturação da instituição e onde ministrou aulas de sociologia latino-americana. Posteriormente, exerceu o cargo de Pró-Reitora de Extensão e coordenou a produção do musical “Nuestra América” em parceria com o Projeto Ópera Studio da UNB. Em pesquisa, coordena o Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD da UNILA (www.teoriadadependencia.blogspot.com) e participa do Grupo de Estudos da Dialética da Dependência – GEDD da USP, certificados pelo CNPq. Tem livros e artigos publicados sobre desenvolvimento, dependência e integração latino-americana. Feminista, participa dos movimentos sociais pela igualdade de direitos da mulher desde que regressou do México em 1980, tendo assessorado a Presidência da Federação Democrática Internacional de Mulheres – FDIM nos estudos sobre Mulheres Marítimas e Tráfico Internacional de Mulheres. Foi membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e do Conselho da CMB – Confederação das Mulheres do Brasil. Atualmente, edita a Revista Latinoamérica.

Além da editora-chefe, cabe destacar outro fator que também é deveras importante: a composição da equipe de trabalho, pois, em parceria, coletividade, companheirismo profissional e intelectual, a chefe de redação – Mariana Moura, a secretária de redação – Lia Bressan, o TI responsável pelo site – Alexandre Andreatta, o TI responsável pela arte e pela diagramação – Alexandre Souza, e a tradutora Angela Garofali, a cada edição, tornam possível a execução do sonho de discutir problemas no tangente à integração no continente latino-americano. Ademais, não podem ser olvidados os colaboradores que, com seus trabalhos e resultados de pesquisa, possibilitam o enriquecimento da temática integrativa a cada editorial.

Acerca das quatro edições anteriores, em todas elas foram abordados temas importantes sobre a Integração e as veias do desenvolvimento do continente, a partir de problemas e questões pontuais latino-americanos que despontam como aberturas discursivas para compreender as realidades das nações latinas nas regiões fronteiriças, em especial, na Fronteira Trinacional Brasil-Paraguai-Argentina, bem como em outras zonas de fronteira, como também de países que fazem parte da América Latina, mas que não possuem fronteira com o Brasil.

Dentre as temáticas que foram discutidas nas quatro primeiras edições, merecem destaque artigos como “Capitalismo dependiente inviabiliza integración solidaria”, texto no qual o leitor, de alguma forma, começa a perceber a importância de entender o que é a teoria da dependência e como a América Latina, ao longo de anos, esteve mergulhada nesses processos de dependência do Norte, sem pensar o Sul a partir do próprio Sul, por meio das próprias epistemologias sulistas; “Integração e nacionalismo na América Latina: notas preliminares” com a possibilidade de reflexão acerca das contribuições para o desenvolvimento integrativo a partir do reconhecimento de nossos valores e culturas locais; “Fatos relevantes sobre o petróleo na América Latina” com discussões que nos fazem entender nossas riquezas e carências; “Integração e dependência: a alternativa latino-americana” em que o leitor se vê diante da necessidade de refletir sobre a integração como alternativa para o desenvolvimento; “Tzvetan Todorov e a crise identitária original da América Latina” espaço de saber e subjetividade acerca da identidade do ser latino-americano; “La Amazonia es nuestra” e “Orgânicos e Cia entrevista Nelton Friedrich diretor de coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional”.

Na quinta edição, a atual, entraram em debate temas importantíssimos como “A volta do golpismo do FMI” texto que nos leva a refletir sobre as veias abertas da América Latina pelo imperialismo capitalista e “Quais as contribuições da Unila para a formação da identidade latino-americana”, texto no qual discuto a importância e papel da universidade da integração para  latino-americanizar a consciência do brasileiro, para que, assim, o Brasil possa se perceber como latino-americano e o sonho da integração se concretize.

Como considerações finais, é oportuno informar que a referida revista surgiu com o objetivo de divulgar informações científicas que possam contribuir para políticas de integração regional e de desenvolvimento, ancorando-se em concepções de inclusão da informação, atingindo nichos de leitores diversos, podendo ser apreciada e analisada tanto dentro como fora da academia. Por tudo isso, ela se transforma em um lócus sócio-político-cultural de discussão latino-americana.

Também é necessário apresentar que, por seu caráter inclusivo informacional, está aberta a todos  os pesquisadores  vinculados, de alguma forma, ao mundo Latino-Americano, desde estudantes a professores universitários, passando por assessores ou adjuntos dos órgãos de governo, bem como por quaisquer outros profissionais relacionados com o universo da integração e do desenvolvimento continental latino-americano.

Por fim, pode-se externar que a Latinoamérica contribui para que leitores interessados nas temáticas latino-americanas possam se apossar dos saberes que a revista fomenta e, desta forma, consigam, no processo de coautoria, conforme apregoam algumas correntes das teorias do texto e da Linguística Textual, ampliar as discussões nas redes informacionais virtuais e em outras dimensões. Pela via da informação, teias de críticas e cooperações poderão propiciar a latino-americanização a partir da criação de uma identidade latino-americana brasileira.

Diante de tudo o que fora pontuado, só me resta dizer o seguinte: visite e colabore com a revista através do link http://www.revistalatinoamerica.com/ e amplie seus campos de visão a respeito da grande e amada e, por que não, polêmica, América Latina.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.