Ahmad al-Mahdi, primeiro acusado de crimes de guerra pela destruição de patrimônio da humanidade em Timbuktu, em Mali, se declarou culpado perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) no julgamento que começou nesta segunda-feira (22/08) em Haia, na Holanda.
Entre os monumentos que al-Mahdi – que seria integrante do movimento terrorista Ansar Dine, segundo a promotoria – teria destruído ou ajudado a destruir em 2012 figuram nove mausoléus e a mesquita de Sidi Yahya, do século 15.
“Com grande pesar devo apresentar minha culpabilidade. Todas as acusações contra mim são precisas e corretas”, afirmou em uma declaração o acusado, que garantiu que sente uma “grande dor” pelos fatos cometidos e pediu perdão à população do Mali e à humanidade.
Al-Mahdi, de 40 anos, é acusado pela promotoria do TPI de ser o líder dos ataques em Timbuktu e de participar fisicamente em vários deles.
“Busco o perdão de vocês e peço que olhem para mim como um filho que perdeu seu caminho”, disse ele. “Precisamos ser justos também com nós mesmos. Temos que ser verdadeiros, mesmo que isso nos prejudique.”
“Espero que a pena imposta seja suficiente para conseguir o perdão” de todos os afetados, acrescentou Al-Mahdi, que poderia pegar uma sentença máxima de 30 anos de prisão, mas que, devido a um acordo entre advogados de defesa e acusação, deve ser sentenciado a uma pena de nove a 11 anos de prisão.
A Corte acredita que este processo inédito seja um precedente para outros casos similares.
Na audiência de confirmação das acusações contra Al Mahdi em março, a promotora do TPI, Fatou Bensouda, disse que os mausoléus e a mesquita destruídos “eram importantes não só desde um ponto de vista histórico e religioso, mas também de identidade para o povo do Mali”.
O TPI foi criticado por julgar o crime de destruição de patrimônio em lugar de processar as violações de direitos humanos sofridas por vítimas civis no Mali. “Embora este caso seja um marco para o TPI, não podemos perder de vista a necessidade de garantir a responsabilização por outros crimes sob a lei internacional, como assassinatos, estupros e tortura de civis que têm sido cometidos no Mali desde 2012”, declarou Erica Bussey, da Anistia Internacional, ao jornal britânico The Guardian.
Para Bensouda, o julgamento ajuda a promover a reconciliação na “antiga e vibrante cidade”. “[O julgamento] traz verdade e catarse e é crucial para vítimas de Timbuktu”, disse a promotora.
Em janeiro de 2012, começou no Mali um conflito armado durante o qual a cidade de Timbuktu esteve sob o controle de vários grupos terroristas, incluído Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) e Ansar Dine.
*Com Agência Efe
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Fonte: Opera Mundi.