A naturalidade do golpe

Natureza Morta de Paul Cézanne

Por Ulysses Ferraz.

À medida que o tempo passa, o Golpe se naturaliza. O vento venta, a chuva chove, e o Golpe… golpeia. O cotidiano se ajeita. A rotina prevalece. O esquecimento se estabelece. Nem parece que o País está submetido a um Golpe de Estado. Vivemos como se fôssemos parte de um quadro de natureza-morta. Peças estáticas, cuidadosamente arranjadas para que se mantenham naturalmente imóveis. Da última vez, ficamos quase todos paralisados por 21 anos. E os efeitos da paralisação ainda perduram, 52 anos depois. Por quanto tempo mais viveremos passivamente sob esse novo Golpe velho? Uma das maiores tragédias do ser humano é a sua capacidade de se adaptar à opressão.

Fonte:Ulysses Ferraz