Por Márcio Papa, para Desacato.info.
Ontem, dia 14 de agosto, às 16hs, no do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, ocorreu a Plenária Popular, por uma Frente Única Ampla Democrática e Popular.
A coordenação da Frente para Prefeito e Vereadores de Florianópolis, junto a docentes da academia e lideranças dos movimentos sociais, testemunharam, o que pode ser a última instância de uma unidade política capaz de deter a escalada política, da direita oligárquica, que há duas décadas, mantém-se hegemônica na capital catarinense.
A relação próxima da candidata à prefeitura, Ângela Albino, (que não compareceu) com o afastado governo, na forma de golpe midiático- parlamentar e jurídico, traz no âmbito municipal, coligações inaceitáveis. Isso, na análise dos próprios companheiros de partido.
Após a costura da aliança com o PT de Florianópolis ter sido acertada durante suas duas convenções, o tempo estendido na propaganda eleitoral será usado em defesa do governo Dilma.
A matemática de partido, que se volta apenas para o pleito, sem a legítima representação da sociedade, não alcançando o campo democrático popular, (fortalecida pelos movimentos sociais) pode apenas dificultar ainda mais, a justa luta contra o grande capital, tornando as oportunistas alianças de eleição um prenúncio de uma futura confecção de conciliação de classes. O que não interessa às massas de trabalhadores, (vendo seus direitos retirados pela elite dominante), utilizando-se de mecanismos de repressão e exclusão política, uma agenda bem planejada, e implementada pelo neoliberalismo local e mundial.
De um lado, a presença do vereador, candidato pelo PSOL, a re-eleição, Afrânio Boppré, – representando a direção executiva do PSOL- indicou impossibilidade de uma candidatura única. De outro, o também vereador Lino Peres do PT, (disposto a sacrifícios) induz a pensar também, que sua atuação no processo de resistência no plano diretor atual, consagra a importante participação política de ambos.
A defesa da cidade, apresentada também como parte da pauta mínima, que rearticulou os movimentos sociais, dentro dos coletivos e grupos organizados, justifica a questão política nacional estar diretamente vinculada ao período eleitoral, que direciona o município, também, no foco central dos acontecimentos atuais. A base parlamentar, vereadores eleitos, também figura entre as prioridades para a sustentação de um eventual governo de esquerda, em Florianópolis.
Há, portanto, ligação direta entre os programas de governo, de cada uma das duas chapas: Ângela/ Gabriel Kazapi (PC do B-PT); Elson Pereira/Fábio Botelho (PSOL-PV) e a necessidade da vitória de uma Frente Única Ampla Democrática e Popular para Prefeito e Vereadores de Florianópolis, em reconhecimento ao apoio das organizações de esquerda, como o Pólo Comunista Luís Carlos Prestes, as Brigadas Populares e a Esquerda Marxista.
A convicção de todos em se redefinir para concorrer em apenas uma candidatura pela unidade reafirma o erro na divisão de forças. A proposta pelas duas candidaturas trará a derrota de ambas. Para a direita, que embora também dividida, golpeará logo no primeiro turno, e reduzirá notavelmente as chances de qualquer uma das chapas de esquerda.
Durante o curso da reunião, chamadas das executivas dos partidos iam soando nos telefones dos vereadores candidatos. Com a preocupação com a declarada via da campanha do voto nulo, (ameaça real feita pelos coletivos e movimentos sociais) mediante a falta de generosidade das candidaturas, urge que haja a maturidade política, alcançada nas resistências de luta. Nas próximas horas, exigem o distendimento, para uma aliança política, perante a gravidade dos fatos recentes.
O vereador Lino Peres (PT), que tem posições antagônicas ao seu partido, ventilou uma impressão sua, na orientação do Advogado Gabriel Kazapi, vice na chapa de Ângela Albino, em defender o legado do governo da Presidente petista como diretriz de seu discurso. Já, seu colega Afrânio Boppré sinalizou com muita preocupação, e como inapropriada, a campanha do voto nulo. E fez mensão, sem polemizar, a desistência da candidatura PCdoB/ PT, em busca da unidade.
O PSOL não aceita o PT como vice na majoritária. Já o PT, não aceita Elson Pereira; ou mesmo Ângela, (que não concorda em ceder) com sua pretensão na cabeça da chapa. O fato de os partidos não estarem abertos e desarmados é o gerador de tamanha dificuldade de costura de um acordo (que já dura um ano) em torno de uma candidatura única. Isto, sempre foi visto como um único caminho para a vitória nestas eleições. Mesmo, o partido da Rede de Sustentabilidade e o PV, sendo considerados golpistas, e tendo sido ligados ao PSOL, no município.
O presidente municipal do PCdoB, João Ghizoni, que também não compareceu à reunião, esteve em contato com o vereador Lino Peres. E no intervalo entre as chamadas telefônicas refletiu sobre o fato das chapas “estarem prontas”e da impossibilidade da criação de uma terceira.
É certo que os partidos terão de “lidar” com o descontentamento dos movimentos sociais, já que as bases convocam as cúpulas e estas permanecem omissas diante de tal gravidade, que a realidade apresenta.
A indagação que sobressai ao desentendimento das esquerdas é: O que decidirão fazer os movimentos sociais frente à resistência das duas chapas de esquerda?
Em meio à crise de representação política da cidadania e o distanciamento dos movimentos sociais, de partidos políticos (sem o crédito da população) na união pelo futuro da participação popular nos rumos da Cidade, parece não ter acontecido.
Foi considerado consenso antes do fim da Plenária Popular, o fechamento deste ciclo de proposição, de uma única candidatura, cobrando uma posição explícita e por escrito das executivas dos partidos, para eximir o aparente oportunismo eleitoreiro, que abreviou-lhes a coragem em reunir-se neste domingo na UFSC.
O arquiteto e urbanista Loureci Ribeiro, ativista pela Reforma Urbana e Ponta do Coral 100% Pública, coordenador da Plenária Popular declarou ao Portal Desacato durante o encontro:
“A Frente Única Democrática e Popular Ampla tem como objetivo unir o que já se consolidou entre os movimentos sociais. A possibilidade de união está dada nas próprias ações dos movimentos sociais, dentro do Plano Diretor. Vinculados ou não, à seus partidos. Os eleitores destes partidos tem feito alianças, para combater aos ataques, que as administrações nos últimos 20 anos, em Florianópolis tem feito.
Amanhã -15/08- é o prazo limite, para que os partidos políticos possam de fato fazer essa aliança mais ampla. Ou seja: Não termos Ângela Albino e Elson Pereira “pavimentando” vitória da direita em Florianópolis. Mas sim, compondo uma ampla aliança, que ofereça possibilidades eleitorais de seguir ao primeiro turno com um nome ‘viável’ e no segundo turno das eleições para prefeito da Capital, com um nome de vitória”, concluiu.
A se confirmar a irresponsabilidade das chapas, diante do abissal quadro que se observa, com a completa aniquilação de partidos de oposição, unir-se em uma única candidatura, é o estratégico lance final para vencer Gean Loureiro, Angela Amin (PP), Murilo Flores (PSB) e Cesar Souza.
Será enviada logo pela manhã uma carta assinada pela Plenária Popular, à todas as direções de partidos. Que aguarda até o prazo até às 12:00 hs de hoje (15/08), a manifestação positiva da candidatura única, como última tentativa de unidade para criação da Frente Única Ampla Democrática e Popular, e assim, vencer nas urnas, a direita golpista, no município de Florianópolis.
O prazo para registro de candidatos pelos partidos políticos e coligações nos cartórios, deve ocorrer até às 19h de hoje 15 de agosto de 2016.
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Referências: