3 declarações que indicam como o PT se descolou de Dilma

Rui Falcão e Dilma durante a festa de 32 anos do PT.  Foto: Uéslei Marcelino/Reuters - 11.02.2012
Rui Falcão e Dilma durante a festa de 32 anos do PT. Foto: Uéslei Marcelino/Reuters – 11.02.2012

Por Lilian Venturini e José Roberto Castro.

A presidente afastada Dilma Rousseff está a uma votação de perder definitivamente a Presidência da República. A poucas semanas do julgamento, previsto para o final de agosto, Dilma se dedica ao texto de uma carta na qual se compromete a convocar um plebiscito sobre novas eleições caso seja absolvida do crime de responsabilidade pelas manobras fiscais e retorne ao Palácio do Planalto. A ideia, porém, não tem sequer o apoio de seu partido, o PT.

Dilma e sua legenda sinalizam, mais do que nunca, que tomaram caminhos diferentes. As divergências existem desde que a ex-pedetista emergiu como força no governo Luiz Inácio Lula da Silva e se agravaram em 2015 – com a crise econômica e o ajuste fiscal.

Publicamente, parlamentares do PT no Senado continuam defendendo Dilma. Mas a ausência de uma mobilização mais forte nas ruas somada a declarações recentes de nomes representativos reforçam a sensação de que o partido não só já considera improvável reverter o impeachment, como já se dedica a pensar no futuro sem Dilma.

Dias depois de a presidente afastada dizer que o PT precisa “reconhecer todos os erros que cometeu”, numa referência aos episódios de corrupção que atingem o partido, ao menos três declarações sinalizam o descolamento.

A principal preocupação da presidente afastada no momento é com sua biografia. Já os cálculos do PT incluem uma preocupação mais imediata: as eleições de outubro. Correndo risco de encolher sob impacto da impopularidade e do afastamento de Dilma, o partido traça suas estratégias.

O uso da palavra golpe

Candidato à reeleição em São Paulo, prefeito Fernando Haddad diz que o processo de impeachment de Dilma é “casuísmo”, mas evita comparar a um “golpe”, principal mote da defesa da petista.

“Golpe é uma palavra um pouco dura, que lembra a ditadura militar. O uso da palavra golpe lembra armas e tanques na rua”

Fernando Haddad

prefeito de São Paulo, em entrevista ao “O Estado de S. Paulo”, em 10 de agosto

Carta é gesto pessoal

Humberto Costa, líder do PT no Senado, Casa que julgará o futuro de Dilma, sinaliza que o partido não tem ligação com a carta que presidente afastada usará para pedir que senadores votem a favor dela. O texto deve ser uma de suas últimas ações antes do julgamento.

“A carta será o pensamento dela, o sentimento dela. O certo é que ela fará uma defesa da democracia. A presidente não vai perder o apoio do PT ou do MST se defender a posição do plebiscito. Dissemos isso a ela”

Humberto Costa

senador e líder do PT no Senado, em declaração ao “O Globo”, em 10 de agosto

Contra novas eleições

Rui Falcão, presidente nacional do PT, se declara contra a ideia de antecipar as eleições presidenciais, a principal estratégia de Dilma para tentar derrotar o impeachment.

“[Sobre a proposta de antecipar as eleições presidenciais] Não vejo nenhuma viabilidade para esse tipo de proposta”

Rui Falcão presidente nacional do PT, em declarações à imprensa em 4 de agosto

Embate entre biografia e futuro do partido

A crise política e o processo de impeachment não têm se mostrado suficientes para unir polos que pouco dialogaram enquanto Dilma esteve na Presidência.

A escolha de Dilma como candidata do PT em 2010 foi uma decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda assim a petista nunca foi considerada pela militância um nome representativo dentro do partido.

Para o cientista político Leonardo Avritzer, esse distanciamento explica a reação da legenda no atual momento. Segundo ele, foi determinante também a percepção, dentro do PT, de que a volta da presidente afastada não vai resolver a crise política que afetou o governo.

Ao pedir que o PT reconheça seus erros, Dilma reforça a leitura de que sua estratégia de sobrevivência não envolve o partido. O PT, por sua vez, ao relativizar a narrativa do golpe e ao sinalizar que a defesa da Dilma é pessoal, demonstra estar voltado para a necessidade de se recuperar do desgaste provocado pela crise política.

A tendência agora, na avaliação de Avritzer, é Dilma continuar focada na defesa de sua própria biografia e o PT, em formas de resgatar sua credibilidade.

“O PT não vislumbrou mudanças por parte dela que pudessem sinalizar para determinados atores decisivos no Senado a tentativa de ganhar os votos necessários [para derrotar o impeachment]. Ela se ocupou mais no discurso, na questão da injustiça, e deixou em segundo plano os elementos políticos”, afirma Avritzer.

Fonte: Nexo.

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