Por Shimenny Wanderley, Campina Grande, e Rennata Muniz, Natal.
Desde a última sexta-feira, os ataques nas diferentes cidades do Rio Grande do Norte (RN), incluindo Natal e Mossoró, continuam. Estamos na quinta noite de ataques. A medida repressiva, mas que foi apresentada como administrativa, no Presídio de Parnamirim (RN), com a instalação de bloqueadores de celulares, foi o estopim. Hoje chegaram ao RN as tropas que foram convocadas pelo governador, afirmando que não vai recuar e dará continuidade a instalação dos bloqueadores de celulares nos presídios. O colegiado do STF proibiu o governo do estado de bloquear os sinais.
O governo Temer enviou as Forças Armadas tratando de transformar o RN num grande “laboratório” repressivo, inaugurando neste estado os métodos que tentará generalizar ao país, e especificamente ao RJ durante as Olimpíadas.
Homens do Exército e da Marinha chegaram ao estado às 8h desta quarta. Integrarão as forças de segurança pública estaduais reforçando a militarização. Mil homens chegaram nesta quarta (3), os quais foram recepcionados com incêndio na BR 101, ataque registrado na manhã de hoje. O envio das tropas foi autorizado pelo presidente golpista, Michel Temer para atender ao pedido do governador Robinson Faria (PSD). Durante 15 dias estarão no Rio Grande do Norte, podendo ser prolongado com o decorrer dos dias.
Os militares cumprirão atividades similares às que ocorrem em eventos de grande porte, como no caso atual, dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. A tropa fará segurança em terminais rodoviários, turísticos e bancários, assim como no aeroporto internacional Aluízio Alves, em São Gonçalo Amarante, além do centro comercial do Alecrim.
Desde Esquerda Diário entendemos que a militarização não é a solução aos gravíssimos produtos da barbárie capitalista que explodem hoje no Rio Grande do Norte.
Neste estado, desde que o governador Robinson declarou urgência à noite de sexta-feira, 29 de Julho, no seu gabinete de Gestão Integrada, acionando assim, o Ministério da Justiça para controlar a situação, a qual como já foi afirmada na matéria anterior publicada neste jornal.
Os grupos vinculados ao Sindicato do Rio Grande do Norte seriam os aptos de peitar o Estado, uma das frações descendentes do Primeiro Comando Capital (PCC) de São Paulo, mesmo que seja a “Massa Potiguar” quem aparece de forma mais espetacular controlando os presídios no RN. Os ataques seriam, principalmente, com incêndios de ônibus, que deixaram de circular este domingo em diversas cidades do estado e na capital Natal (RN), além de ataques a alvos da Policia Militar.
A crise no Rio Grande do Norte continua. Nas últimas horas a Secretaria Estadual de Segurança Pública notou que desde sexta-feira (29) já foram registrados 90 ataques em 31 cidades do RN, consequentemente, mais de 24 horas sem transporte público no último final de semana. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Seturn), os prejuízos já passam dos R$ 2 milhões. Apenas 70% da frota de ônibus voltou a circular nas últimas 24 horas com reforço policial.
Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, até segunda-feira (1º) foram presas 65 pessoas suspeitas de estarem envolvidas nos ataques. Mas o fato político central é que pretendem aplicar a lei antiterrorista. Nas palavras do secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte (Sesed), general Ronaldo Lundgren considerou os ataques que o estado vem sofrendo como “atos de terrorismo”.
Cresce a militarização também nos presídios. Detentos do pavilhão I da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, maior presídio do RN, perderam o direito a TVs, ventiladores e equipamentos de som. Segundo o secretário do Estado, não vai recuar: “Sabemos o que estamos fazendo e em nenhum momento pensamos em recuar”, disse. Mas, mesmo com a ofensiva os ataques continuam pelo qual o aumento da repressão se mostra como uma falsa solução a problemas sociais gravíssimos.
O presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, desembargador Cláudio Santos, declarou que apóia as providências tomadas pelo Estado no combate aos ataques. O TJ defende a designação de três procuradores estaduais para atuação direta junto à área de segurança pública, com o objetivo de trabalhar na conclusão rápida dos processos que tratem de questões essenciais, como a construção de novos presídios e a instalação de bloqueadores em todas as penitenciárias, conta com cerca de 20 milhões, inicialmente liberados pelo Judiciário e aguardando aprovação do Executivo. Rapidamente todas as instituições do Estado organizam e a poiam a militarização.
O governador do RN continua fazendo de desentendido e afirma que a reação dos detentos mediante a instalação dos bloqueadores de celulares no presídio, era esperada, mas o poder de mobilização foi maior que o imaginado. Para ele, o estado vivia em situação de vulnerabilidade e não sabia, mas ele disse que não vai retroceder nas ações dentro do sistema prisional. O repressor Robinson Faria, que como Temer quer experimentar a militarização como forma de contenção durante as Olimpíadas, espera que a chegada das Forças Armadas garanta o retorno da “normalidade”.
Precisamos de uma saída de fundo.
Como afirmamos na mencionada matéria do dia 01 de agosto, a militarização do estado de RN não é uma solução, não se colide contra os traficantes, mas se alia a eles para aplicar “corretivos” aos jovens que ousam desobedecer às ordens das forças repressivas. A militarização só reforça a ação ilegal do chamado “Estado de Direito”, através de prisões arbitrárias, torturas e execuções nos quarteis e delegacias.
Nos bairros mais pobres é onde se aprofundará a sangrenta política repressiva do Estado.
Portanto, reforçamos que não temos condições de organizar em cada bairro milícias operárias e do povo pobre, que simultaneamente dissolvam a polícia, o exército como instituições repressivas do Estado burguês e acabem com o crime organizado, justamente porque os próprios trabalhadores ainda esperam que este Estado garanta sua segurança. Mas tampouco podemos, por maior que seja a pressão social e que nos empurre a isto, aceitar saídas repressivas que não resolvem a crise.
Os partidos de esquerda devem organizar nos sindicatos e bairros comitês de trabalhadores e moradores. O tráfico de drogas continuará a alistar jovens e a polícia, vai continuar reprimindo aos trabalhadores e o povo negro das favelas e das periferias, enquanto os problemas de fundo, do Brasil, do racismo, da concentração de terras e do desemprego não forem resolvidos. Por isto, esses comitês de bairro devem se transformar na base de uma ampla campanha por salário e emprego digno para todos, por moradia, por educação de qualidade em todos os níveis, assim como, pelo não pagamento da dívida interna e externa para deixar de investir os bilhões nos bolsos dos capitalistas e passar a investir na saúde, na educação, no lazer e na cultura para a juventude.
Para nós, uma saída de fundo para acabar com o tráfico de drogas e a violência social, tem relação com uma solução operária e socialista para a violência social. Por isso, para oferecer a possibilidade de uma vida digna para os filhos dos trabalhadores e a juventude das favelas e evitar que estes sejam utilizados pelo tráfico.
Por isto, entendemos que devemos lutar contra a militarização do Estado, por Fora o Exército e a Marinha do RN, já que esta política de “segurança” só fortalece as instituições repressivas do Estado e simultaneamente as frações criminosas.
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Fonte: Esquerda Diário.