Lançado exclusivamente para a televisão, A Onda é um filme intrigante para trabalhar questões contemporâneas sobre educação, filosofia e política.
Foi baseado em um incidente real ocorrido em uma escola secundária norte-americana em 1967, em Palo Alto, Califórnia. Antes de virar filme, foi romanceado em livro.
Há duas versões deste acontecimento: uma versão norte-americana, lançada em 1981, e uma alemã, lançada em 2008. Ambas contam a mesma história com poucas diferenças.
O filme norte-americano tem início com o professor de história Burt Ross explicando aos seus alunos a atmosfera da Alemanha, em 1930, a ascensão e o genocídio praticado pelos nazistas. Os questionamentos dos alunos levam o professor a realizar uma arriscada experiência pedagógica que consiste em reproduzir na sala de aula alguns clichês do nazismo: usariam o slogan “Poder, Disciplina e Superioridade” e um símbolo gráfico para representar “A onda”. O professor Ross se declara o líder do movimento da “onda”, exorta a disciplina e faz valer o poder superior do grupo sobre os indivíduos. Os estudantes o obedecem cegamente. A tímida recusa de um aluno o obriga a conviver com ameaças e exclusão do grupo. A escola inteira é envolvida no fanatismo da “A onda”, até que um casal de alunos mais consciente alerta ao professor ter perdido o controle da experiência pedagógica que passou ao domínio da realidade cotidiana da comunidade escolar. O desfecho do filme é dado pelo professor ao desmascarar a ideologia totalitária que sustenta o movimento d’A onda , denuncia aos estudantes o sumiço dos sujeitos críticos diante de poder carismático de um líder e do fanatismo por uma causa.
FICHA TÉCNICA:
Ano: 1981
Duração: 46 Minutos
Direção: Alex Grasshoff
Assista ao filme:
No filme alemão, Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já saiu de seu controle.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Todd Strasser (romance), Dennis Gansel (roteiro), Peter Thorwarth (roteiro)
Gênero: Drama
Origem: Alemanha
Duração: 101 minutos
Assista ao Trailer:
A Onda nos abre caminhos para discutir o papel do professor na sala de aula e sua capacidade de formar opinião e abrir mentes. Neste filme, as coisas infelizmente ganham um rumo inesperado.
“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”. (Discurso final do professor Wegner)
UMA ESCOLA EM RUÍNAS
A Onda aborda todas as questões já recicladas pelo cinema contemporâneo: separação de grupinhos (o famoso buylling), desafetos trocando farpas em sala de aula (e nas ruas) e o fanatismo dos grupinhos fechados.
A Onda trabalha com terminologias ligadas aos estudos das ciências sociais e filosofia, possui alta carga histórico-cultural alemã, tornando a simples disposição do espectador num exercício crítico incrível.
Ao formar o grupo “A Onda”, dentro da escola, o professor vai ter a turma de seus sonhos. Todos engajados, com o assunto sempre na ponta da língua, portanto, a situação vai ganhar status desagradável quando os alunos trocam a inserção “dentro da sala de aula” por fanatismo fora da sala de aula.
A ONDA E OS FATORES DA EQUAÇÃO NAZISTA
O primeiro ângulo a iluminar neste tópico é o fato de que o diretor/roteirista buscou trazer a baila as principais características do facismo.
O nacionalismo é uma delas. De acordo com pesquisas, pode ser considerado como doutrina ou filosofia política que prega valores tais como: bem estar social, e que o individuo deve guardar lealdade e devoção à nação. Assim, o Estado nacional é entendido como um conjunto de pessoas unidas num mesmo território por interesses comuns. Portanto, o nacionalismo pode ser entendido como um movimento político social que visa uma organização social que se fundamenta na coesão social, a identidade coletiva e a cultura das nações (Encina, 2004).
Segundo Benedict Anderson, os conceitos de nação e nacionalismo são fenômenos construídos dentro da sociedade e são condições necessárias para o advento das ideias nacionalistas a presença da prensa e o desenvolvimento do capitalismo. Cultuado dentro dos estudos culturais, Anderson é descendente de irlandeses e de ingleses, mudou-se ainda criança para a Califórnia, já adulto foi para a Inglaterra e formou-se na Universidade de Cambridge. Registrou-se no programa de estudos sobre a Indonésia da Universidade Cornell, foi para Jacarta e para Tailândia. Atualmente é professor de estudos internacionais em Cornell e sua principal obra é Imagined comunities, publicada pela primeira vez em inglês no ano de 1983 e já traduzido para 21 idiomas. Sua última tradução brasileira é de 2008 com o nome de Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e difusão do nacionalismo.
Durante uma aula, o professor comenta sobre a copa do mundo, onde havia nas cidades várias bandeiras alemãs pelas ruas e um sentimento profundo de pertença à nação.
Apesar de em alguns momentos a trama apresentar dados que tornam espinhosa a sua compreensão, temos na citação acima, algo para ser estudado em paralelo com a teoria de Benedict Anderson, mundialmente conhecida como Comunidades Imaginadas. Segundo dados da pesquisa para desenvolver este especial, encontramos que no desenvolver de suas teorias, a noção que Anderson observa da “nacionalidade” vem, nos anos recentes, transformando-se uma força principal em muitos aspectos do pensamento moderno. Tanto o desenvolvimento das Nações Unidas, dos conflitos existentes e gerados pelas “subnações”, do fim das dinastias européias e asiáticas em proveito de uma unificação estatal e lingüística são evidências de que o nacionalismo é, certamente, reconhecido como uma moral hegemônica no mundo político moderno. Contudo, apesar da influência que o nacionalismo teve na sociedade moderna, Anderson acredita que suas origens conceituais são inadequadamente explicadas. Sua finalidade em escrever Comunidades Imaginadas é, então, fornecer um fundo histórico para o emergente nacionalismo e seu desenvolvimento, evolução, e recepção. A grande contribuição desta obra está em discutir o surgimento do nacionalismo não enquanto resultado da transformação histórica Européia, mas sim enquanto contribuição original dos países colonizados e asiáticos, rompendo assim com as interpretações “europocêntricas” no estudo das nações.
Os fascistas eram totalmente contrários ao sistema socialista. Defendiam amplamente o capitalismo, tanto que obtiveram apoio político e financeiro de banqueiros, ricos comerciantes e industriais alemães e italianos. No filme, um dos rapazes vai obter ajuda financeira do pai para criação de buttons, cartazes, camisas e outros suportes para exibição da logomarca do grupo A Onda, mostrando mais uma vez a cumplicidade do roteiro em relação aos ideais fascistas. Outro fator digno de exclusividade aqui é o militarismo, pois no fascismo, havia alto investimento na produção de armas e equipamentos de guerra. Fortalecimento das forças armadas como forma de ganhar poder entre as outras nações. Objetivo de expansão territorial através de guerras. Trazido para o contexto do filme, essa necessidade de ganhar poder entre outras nações pode ser relacionado com o desejo de dominar toda a escola, tornando-se uma turma altamente poderosa, impondo seus ideais como únicos e exclusivos.
Assim, perceba como dentro de apenas um só filme, extraímos diversos assuntos como nacionalismo, instâncias de legitimação de poder, educação e relações pós-colonialistas, temas favoritos nas principais provas de vestibulares em todo país.
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Fonte: ESCUnicamp.
alguem pode me dizer 3 diferenças entre o filme de 2008 e o de 1981?
Achei muito interessante o filme a onda ele fala A Onda trabalha com terminologias ligadas aos estudos das ciências sociais e filosofia, isso é muito interessante
Resumo
Segundo Benedict Anderson, os conceitos de nação e nacionalismo são fenômenos construídos dentro da sociedade e são condições necessárias para o advento das ideias nacionalistas a presença da prensa e o desenvolvimento do capitalismo.
o nacionalismo pode ser entendido como um movimento político social que visa uma organização social que se fundamenta na coesão social, a identidade coletiva e a cultura das nações (Encina, 2004).
Eu lembro do quanto tais afirmações se enquadram na antiga União Soviética, que era EXTREMAMENTE NACIONALISTA, expondo seu estandarte em tudo o que os soviéticos faziam, especialmente nas Olimpíadas.
Que piada: “Os fascistas eram totalmente contrários ao sistema socialista”.
Basta reconhecer que empresas como Wolks, Krupp, Adidas, entre outras, apoiavam ardentemente o nazismo. Basta reconhecer que o nazismo perseguiu, prendeu e lotou os campos de concentração de socialistas, comunistas, sociais-democratas, testemunhas de Jeová, mas só teve marketing os judeus.