Já não sei há quanto tempo estou aqui.
Passo as horas contando os ladrilhos do piso; trato de pensar em outra coisa e não ver o que acontece ao meu redor.
Por sorte, minha família não sabe que estou aqui. Que acreditem que ando pela rua, caminhando tranqüilo, olhando vitrines ou fumando em uma esquina.
Os ladrilhos do meu cubículo são dezesseis e são vermelhos.
– “Para dissimular o sangue” – me disse um.
E agora, o que penso? Que tipo de engenheiro desenha um edifício com um sótão de ladrilhos vermelhos para dissimular o sangue? Será como aquele que desenho o Empire State?
Na minha frente está esta desordem. É um calabouço grande, onde jogam as pessoas depois de torturá-las no andar de cima. Aqui não existem relógios nem janelas, não se sabe se é de dia ou de noite. Uma lampadazinha acesa as vinte e quatro horas.
Uma vez falei com um rapaz.
Não nos deixam falar: o silêncio é outra forma de tortura. Mas senti pena dele, não deixava de me olhar. A compaixão também está proibida.
Nesse dia, no entanto, me animei e lhe perguntei em voz baixa:
– Por que te trouxeram?
Pensei que ele ia dizer que não sabia de nada, que era inocente. Porém, o que respondeu me deixou pensando:
– Por ver um filme – disse, olhando-me nos olhos – de um orangotango que não fazia mal a ninguém, que era livre – até que um dia veio gente de outro lugar, com poder, com armas, gente que tinha de tudo mas que ambicionava mais, e o seqüestraram. Aqueles que tinham de tudo tiraram dele a única coisa que tinha, e o escravizaram. Exploraram-no para ganhar dinheiro e o feriam para que gritasse, porque existe gente que gosta de ouvir gritos e ver sofrer.
Involuntariamente eu olhei para a escada. Porém ele seguiu falando e olhando-me fixamente.
– Até que um dia o orangotango escapou. Queria ser livre e voltar à sua casa. Então os que o prenderam disseram que era um perigo e atiraram nele com pesadas armas e o mataram. Bem no centro da cidade, no Empire State, para que todos vissem que com eles não se pode. Por isso me trouxeram.
Fez-se um silêncio incômodo e nós dois nos afastamos da grade.
Voltei ao meu lugar, a contar os ladrilhos, a pensar em engenheiros e a esperar que termine meu turno de guarda.
Tradução: Urda Klueger.
De monos e ingenieros
Por Luis Ramirez 678.
Ya ni se cuanto tiempo llevo acá.
Paso las horas contando las baldosas del piso, trato de pensar en otra cosa y no ver lo que pasa a mí alrededor. Por suerte mi familia no sabe que estoy aquí. Que crean que ando por la calle, caminando tranquilo, mirando vidrieras o fumando en una esquina. Las baldosas de mi cubículo son dieciséis y son rojas.
– Para disimular la sangre – me dijo uno. Y ahora que lo pienso. ¿Qué clase de ingeniero diseña un edificio, con un sótano con baldosas rojas, para disimular la sangre? ¿Será como el que diseño el Empire State?
En frente mío esta la leonera. Es un calabozo grande, donde arrojan a la gente después de torturarla en el piso de arriba.
Acá no hay relojes ni ventanas, no se sabe si es de día o de noche. Una lamparita está encendida las veinticuatro horas. Una vez hable con un pibe. No nos dejan hablar, el silencio es otra forma de tortura. Sentí pena por él, no dejaba de mirarme. La compasión también está prohibida. Ese día sin embargo me anime y le pregunte en voz baja:
– ¿Por qué te trajeron?
Creí que iba a decir que él, no tenía nada que ver, que era inocente.
Pero lo que respondió, me dejó pensando.
– Por ver una película – dijo mirándome a los ojos – de un mono que no molestaba a nadie, que era libre. Hasta que un día, vino gente de otra parte, con poder, con armas, gente que tenia de todo, pero que ambicionaba más. Y lo secuestraron. Ellos que lo tenían todo, le quitaron a él lo único que tenia. Y lo esclavizaron. Lo explotaron para ganar plata y lo lastimaron para que grite, porque hay gente a la que les gusta, oír gritar y ver sufrir.
Involuntariamente, yo mire hacia la escalera. Pero el siguió hablando y mirándome fijo.
– Hasta que un día, el mono se escapó. Quiso ser libre y volver a su casa, entonces ellos dijeron que era un peligro y le tiraron con todo y lo mataron. En el centro mismo de la ciudad, en el Empire State, para que todos vean que con ellos no se jode. Por eso me trajeron.
Se hizo un silencio incomodo y los dos nos alejamos de la reja.
Yo volví a mi lugar, a contar las baldosas, a pensar en los ingenieros y a esperar que termine mi turno de guardia.
Na foto: Hospital Psiquiátrico Borda, de Buenos Aires.