Por Débora Fogliatto.
Uma parceria entre o Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs) e o Coletivo Feminino Plural possibilitará que a categoria receba formações a respeito de gênero e violência contra a mulher. O projeto tem como objetivo capacitar os profissionais para prestar atendimento completo a vítimas de violência que procurem os hospitais ou postos de saúde onde eles atuam, visto que os estabelecimentos de saúde são normalmente os primeiros a serem procurados por mulheres nesta situação.
O projeto recebeu o nome de Enfermagem Lilás e será realizado em duas fases. A primeira em uma grande oficina no modelo de pesquisa-ação, em Porto Alegre, e a segunda por meio de questionários online, com maior abrangência. A duração prevista é de três meses e, ao final, serão produzidos um relatório e uma campanha com os principais resultados, entre outras ações.
A parceria também leva em conta o fato de 84% dos 19 mil profissionais de enfermagem do Estado serem mulheres, as quais possivelmente enfrentam situações de machismo em seu dia a dia e no trabalho. “É um número muito grande de mulheres na categoria, e a gente percebia que as próprias enfermeiras não sabiam bem como lidar com as vítimas de violência, não têm formação específica. O papel do profissional que vai receber essa formação é fundamental, vamos orientar que eles devem encaminhar para denúncia”, explicou Ariane Leitão, consultora e coordenadora do projeto.
O objetivo da pesquisa-ação, primeira etapa da parceria, é “compreender como a enfermagem enxerga, percebe a violência contra as mulheres, tanto enquanto mulheres, como na sua atuação profissional”, conforme explicou Télia Negrão, coordenadora do Coletivo Feminino Plural. Ao mesmo tempo em que se estará buscando essa compreensão, o projeto também irá formar as profissionais a partir da legislação, normas técnicas e protocolos existentes para o trabalho com violência física, psicológica ou sexual. “A ideia é obter da categoria uma elevação maior da sua consciência sobre seu papel, tanto na prevenção quanto na oferta de atendimento qualificado às mulheres que procuram o sistema de saúde e se encontram em situação em violência”, resumiu Télia.
Ariane destaca que, além do atendimento prestado às mulheres, deve ser dada também atenção especial a crianças e adolescentes que passam por situações de violência. “O maior índice de violência sexual é em relação a meninas, não a mulheres adultas. E por que isso acontece? São abusos dentro de casa e que não são denunciados”, lamenta. Ela lembrou ainda que as próprias enfermeiras diversas vezes encaram assédio moral e são sexualizadas pela sociedade, com seus uniformes sendo considerados “fantasias sexy” em época de carnaval.
A presidente do Sindicato, Cláudia Silva, destaca que, por se tratar de uma categoria majoritariamente composta por mulheres, há muito tempo discutem essas questões internamente. “Isso surgiu da própria categoria, de conversar questão da violência contra a mulher, tanto que nós sofremos por sermos mulheres, como a maneira que nós tratamos essas mulheres, olhar para fora e para dentro”, relata. Ela afirma que os profissionais de enfermagem que trabalham nas emergências já auxiliam e informam as vítimas de violência diariamente e, com a pesquisa, será possível analisar como isso está sendo encarado pelos profissionais. “Muitas vezes ela nem se identifica como vítima, é o profissional da saúde que vai acabar alertando ela, sentimos necessidade de conversar sobre isso e iniciar um debate”, aponta.
O projeto, que foi lançado oficialmente nesta segunda-feira (14), terá duração de três (3) meses, tendo com produto principal um relatório de pesquisa que contará com indicações para produção de publicação e material indicativo para elaboração de uma campanha publicitária, destacando e valorizando o papel das mulheres enfermeiras.
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Fonte: Sul21