Por Marcos Alexandre Capellari.
Estamos em março. O cerco se fecha, após um longo período de instabilidade política, econômica, crise de confiança mesmo. Não se sabe exatamente qual a direção dos ventos, ou melhor, sabe-se que os ventos são impulsionados por forças estranhas, artificiais.
Globo repercute os pequenos, açula, faz papel de promotor, advogado, juiz. O povo, calado, apenas assiste. É um espetáculo. Sim, faz tempo é um espetáculo. De um lado a batuta; diante dela a massa dos “informados”, inocentes úteis alguns, gente de mau caráter outros. Na retaguarda, a tropa da elite, fardada ou de paletó e gravata. Armada.
Quem sabe faz a hora? Ninguém realmente sabe, supõe-se. Há grande expectativa no ar, medo mesmo. E a torcida, lá no fundo, para que as trevas se dissipem. Ansiosas e solitárias, almas clarividentes aguardam, impotentes, temendo pelo futuro incerto, ou melhor, de certezas terríveis.
Há cheiro de conflito no ar. E quem suponha, com base em falsos testemunhos, que a Senzala resistirá. Mas não, a Casa Grande é secular, tentacular, detém a pena, da tinta e das algemas. Nada ocorre, a não ser o transitar lento, quase bovino, de veículos pelas ruas e avenidas, sequer um tiro de canhão.
É um dia de março, como sempre.
É quando o Golpe eclode, desfazendo sonhos de um mundo um tiquinho melhor. Dizem que foi no último dia de março, 31.
Mas sabemos que foi no dia da mentira.
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Fonte: Candeia