Coletivo estuda o Feminismo Classista e propõe no debate a ruptura do Capitalismo

    Por Claudia Weinman, para Desacato. Info. 

    A mulher sempre foi vista como sujeito secundário e inferior. A sociedade machista fez questão de evidenciar que lugar de mulher devia e deve ser na casa, na propriedade e na comunidade, a ela foi negado muitos saberes”.

    Com as palavras da Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), Jociani Pinheiro Hammes, teve início mais uma etapa do curso de Formação Feminista, no município de São Miguel do Oeste-SC. O encontro que já aconteceu outras vezes, traz a retomada de uma discussão imprescindível para a organização de meninas e meninos, militantes da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

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    Encontro Feminista Em São Miguel do Oeste-SC

    Jociani explica que o objetivo é fazer um estudo sobre o movimento feminista classista, o qual segundo ela, propõe um processo de reeducação do mundo para novos valores. “É tarefa também dos homens compartilharem destes conhecimentos para coletivamente construirmos outras relações de gênero e com a natureza”.

    Nas palavras da militante, destaca-se que discutir as novas relações de gênero e feminismo classista, traz para o centro o debate da liberdade e autonomia não só das mulheres mas a libertação de toda a humanidade, das relações de opressão, submissão e exploração. “O feminismo classista se coloca no centro de nossos debates, pois questiona a estrutura social e econômica, propondo a ruptura do capitalismo, para a construção de uma sociedade onde a classe trabalhadora tenha o comando e o controle dos meios de produção”.

    Para Jociani, estudar, debater e construir o feminismo classista entre as militantes da PJR e PJMP é uma tarefa revolucionária. “Essas meninas subversivas, indignadas e indóceis sonham com um outro mundo, livre de preconceitos e opressão, e lutam pela superação das classes, para a total libertação de todos os humanos, este sonho que também foi do jovem Camponês e Operário de Nazaré”.

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    Discussão sobre o Feminismo Classista

    Em nome de um projeto coletivo maior, Jociani explica que este coletivo de meninas e meninos seguirá estudando. “Somos mulheres da classe trabalhadora, somos proletárias, e seguiremos construindo coletivamente o feminismo classista, com clareza política enfrentando todas as adversidades, nos misturando aqui e ali com outras tantas companheiras, porque como diz Rosa Luxemburgo ‘para a mulher burguesa proprietária, sua casa é o mundo. Para proletária, todo o mundo é a sua casa, o mundo com o seu sofrimento e sua alegria, com sua atrocidade fria e seu tamanho’”.

    Feminismo e a luta de classes

    A militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular, (PJMP), Maura Letícia Tesser, detalha ainda que durante o encontro de formação feminista, foi trabalhado o tema: “Feminismo e a luta de classes”, começando com um momento de partilha, e posteriormente, foi assistido o filme, “No Tempo das Borboletas”. “O filme fala sobre o período de ditadura militar (1930-1961) na República Dominicana, onde por 31 anos o povo esteve refém das atrocidades cometidas pelo general Rafael Leónidas Trujillo, sendo responsável pelo assassinato de mais de 30 mil pessoas incluindo as irmãs Mirabal”.

    Maura detalha que nesse contexto do filme, a luta tem início, quando Minerva é assediada pelo ditador e revida com uma tapa na cara. “A partir daí ela busca estudar e compreender como funcionava a sociedade, posteriormente, suas irmãs María Teresa e Patria também ingressam na luta. Por ordem de Trujillo, as irmãs Minerva, Patria e María Tereza Mirabal foram covardemente assassinadas em 25 de novembro de 1960. Em homenagem à luta das irmãs Mirabal foi o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher na data de 25 de novembro de cada ano. E em um terceiro momento, partilhamos momentos de nossas vidas”.

    Para Maura, o coletivo da PJMP e PJR compreende que momentos de estudos são importantes para o crescimento e a formação de consciência da juventude. “Nos compreendemos quanto classe trabalhadora e explorada, e buscamos entender que as lutas feministas travadas nos séculos, nas décadas anteriores, e mesmo atualmente, contribuem para que tenhamos muitos dos direitos já conquistados”.

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    Feminismo e o debate sobre a Luta de Classes

    Após formação, coletivo sofre assédio em rede social

    Em sua rede social, Maura Letícia Tesser, companheira da PJMP e militante feminista, publicou uma foto sobre a Formação Feminista. Logo em seguida, vários comentários preconceituosos com teor de ataque foram escritos por jovens que se mostram não conhecer o Feminismo e as contribuições históricas dessa luta. Alguns deles diziam:

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    Uma longa discussão acabou sendo fomentada em decorrência de que várias companheiras e companheiros da PJMP e PJR responderam a tais ataques. Camila Beatriz, que faz parte do coletivo Feminista, destacou um dos comentários preconceituosos e argumentou. “Na hora de pagar a conta, elas adoram meu machismo opressor”.  “É por esses e muitos outros comentários que o mundo necessita do feminismo. O feminismo luta justamente para desconstruir esse tipo de pensamento, para que as mulheres tenham o direito de trabalhar, tenham o direito de receber e o direito de pagar as suas próprias contas como qualquer outro ser humano”, destacou.

    Para Camila, não é esse machismo opressor que vai indicar o que uma mulher deve ou não fazer. “Muito pelo contrário, ele indica o que não devemos fazer, o que não devemos aceitar e pelo que devemos lutar. Esse machismo opressor, assim como os milhares de comentários ridículos e desprezíveis que recebemos todos os dias, não nos intimida mais, não nos limita mais, porque somos mulheres lutadoras, que estudam, trabalham, vivem. Iremos acabar com toda forma de machismo, opressão e violência, porque somos mulheres e temos o direito de fazê-lo”, indignou-se.

    A militante da PJMP, Maire Hoffmann, também argumentou salientando que o Feminismo é um movimento social de “quebra” da hierarquização dos sexos, do sexismo e do machismo, reivindicando igualdade de direitos entre homens e mulheres. Feminismo segundo Maire, não significa Femismo que seria o contrário de Machismo. “Ao contrário do que prega o machismo, como um movimento de repressão e repúdio aos direitos igualitários entre homens e mulheres, o feminismo funciona não como uma tentativa de sobrepor o “poder feminino” sobre o masculino, mas sim de lutar pela igualdade entre mulheres e homens em todos os setores da sociedade”.

    Coletivo diz que não aceitará comentários machistas e ameaças

    Segundo Maire, estudar o Feminismo se faz importante e necessário. “É por esses e tantos outros motivos que nós enquanto mulheres que estudam sobre o Feminismo e buscamos uma sociedade feminista e sem opressões de gênero, não aceitamos qualquer tipo de repressão, amedrontamento e ameaças quanto à classe trabalhadora. Estamos cansadas de sermos humilhadas e submetidas a homens e mulheres machistas que menosprezam e ignoram aquilo somos e estudados, acima de tudo deve haver respeito. Não queremos impor nada, queremos expor nossos saberes, nossas utopias”.

    A militante da Pastoral da Juventude Rural, Daniele Casagrande, acrescentou ainda que diante desse cenário, é necessário que o coletivo inteiro passe a estudar e compreender o feminismo, organizando toda a classe de pessoas pobres e exploradas frente ao capitalismo. Segundo ela, é preciso trabalhar a desconstrução das classes. “Nossa tarefa é de nos unirmos com as demais organizações e lutarmos contra todas as formas de opressão, inclusive essas em redes sociais”, finalizou.

    Por fim, o coletivo repudia todo tipo de comentário machista, preconceituoso, que tem sua reprodução baseada em resquícios da Ditadura Militar. A PJMP e PJR coloca-se em posição de enfrentamento a tais amedrontamentos, prometendo inclusive, proteção judicial caso esse tipo de acontecimento persista, seja em redes sociais ou em outros espaços onde a PJMP e PJR sempre estiveram dispostos a dialogar.

    Fotos: Claudia Weinman e Claudia Baumgardt (PJMP-PJR-SC).

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