Por Claudia Weinman, para Desacato. Info.
“Às vezes a gente comunica mesmo sabendo que está errado”. Essa foi uma das primeiras afirmações apresentadas durante o encontro de base da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), do município de Descanso/SC, no final da tarde de quinta-feira, dia 11. Falar sobre Comunicação Popular foi a sugestão do próprio grupo, que tem percebido a importância das palavras na vida do coletivo e a necessidade de rever algumas condutas quanto a comunicação em suas comunidades e nas redes de internet.
Em um cartaz, os jovens escreveram sobre o que querem comunicar. Também refletiram sobre como têm se comunicado nas redes sociais, conteúdos que costumam ler e quais sites de notícias acompanham. Uma das pessoas do coletivo perguntou sobre quem havia lido alguma notícia relacionada ao menino Vitor, Kaingang, de dois anos, que fora degolado em Imbituba/SC. Dos 15 jovens presentes no encontro, três responderam que não acompanharam e não ouviram comentários sobre a notícia. Os demais leram-na em redes sociais ou então, ouviram ‘alguma coisa’ pela rádio de sua cidade.
Mediante esta constatação, o grupo entende que fatos como este precisam receber maior atenção e que a juventude tem papel fundamental na divulgação em resistência a crimes como esse, ocorrido contra uma criança indígena.
Quem tem o poder da comunicação?
“Nós temos. Podemos falar, nos expressar. Mas muitas vezes falamos sobre comunicação sem saber exatamente o que ela é, o que a gente faz com ela”. As dificuldades existem neste processo de fazer com que a comunicação seja colocada em pauta nos grupos de base de movimentos e pastorais sociais. A fala acima, dita pela jovem Claudia Ciconet, de 17 anos, mostra como uma parcela da juventude tem se sentido quando questionadas sobre o ato de comunicar, a quem comunicar e o que, necessariamente é importante comunicar.
Claudia salienta que a PJR de Descanso/SC quer poder falar para a sociedade o que pensa a organização da Pastoral da Juventude Rural, suas pautas, reivindicações. “Queremos comunicar quem somos, o que a gente faz. O respeito, a vida das gentes, a música, poesia, as dores, os esquecidos, luz, nossas lutas, verdade e justiça, nossa união, os esquecidos. Como foi colocado no cartaz”, disse ela.
A jovem também citou a marcha do Grito dos Excluídos\as realizada no ano passado, durante o sete de setembro em São Miguel do Oeste/SC. Para ela, ainda falta muita comunicação entre sociedade, movimentos populares e pastorais sociais. “As pessoas olhavam para a gente como se fôssemos desmontar a cidade. Achavam que a gente era baderneiro e mandaram inclusive a gente tirar a tinta que cobria o nosso rosto. A gente é diferente do que a mídia fala”.
O Jovem da PJMP, Vinícius Czarnobay, de 18 anos, complementou ainda dizendo que é preciso que as juventudes trabalhem com a contrainformação. “No grupo de base que é onde temos mais aproximação com nossos amigos e companheiros\as da PJMP e PJR, precisamos falar sobre essa forma de comunicação diferente. É este o espaço onde todo mundo pode colaborar”, defendeu ele.
Para Vinícius, é preciso começar de alguma maneira a encontrar formas de contrapor o que a mídia tradicional fala a respeito das juventudes e organizações populares. “Temos que mostrar o nosso lado e também despertar o senso crítico”.
Acompanhe:
Jovem da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Keila Jaine Wronski, 18 anos, do município de Descanso/SC, falando sobre a importância da comunicação na vida coletiva do grupo de base da PJMP e da Pastoral da Juventude Rural (PJR).