Por Jaqueline Silveira.
A passagem do deputado federal Jair Bolsonaro (PP), na tarde desta terça-feira (26), pela Assembleia Legislativa foi tumultuada. A convite do PP, o parlamentar veio à Capital para palestrar sobre “O atual cenário político brasileiro” no Teatro Dante Barone. Mas antes de iniciar a atividade, ativistas dos direitos humanos e apoiadores de Bolsonaro acabaram trocando socos, pontapés e até rolaram no chão. A confusão foi controlada com ajuda dos seguranças da Assembleia.
No começo da tarde, um grupo de representantes de coletivos e entidades ligadas aos direitos humanos, às mulheres e à causa LGBT, além de partidos de esquerda, concentram-se na Praça da Matriz e fizeram um protesto pacífico contra o deputado do PP. Com bandeiras nas cores LGBT e com cartazes com frases como “PP do Bolsonaro, o campeão da Lava Jato”, os manifestantes gritavam “Eu beijo homem, eu beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser.” Os ativistas fizeram, ainda, um beijaço e manifestações ao microfone. “O nosso ato é um contraponto às ideias dele (Bolsonaro) e ao que ele representa”, explicou Lucas Maróstica, representante da União Nacional de Estudantes (UNE) no Conselho Estadual de Juventude.
Ainda em frente à Assembleia Legislativa, os integrantes do protesto não sabiam se entrariam no Teatro Dante Barone. “Vamos avaliar, os seguidores do Bolsonaro são muito raivosos e a gente não quer, em momento nenhum, colocar em risco a integridade dos nossos manifestantes”, comentou Maróstica, precaução que não funcionou mais tarde. Do lado de fora, ocorreram algumas provocações por meio de palavras de ordem e cantos entre os movimentos que estavam na Praça e a fila de apoiadores de Bolsonaro, que aguardava para acessar ao teatro.
“Guerreiro, orgulho brasileiro”
Já no Dante Barone, os apoiadores do deputado tomavam seus lugares, enquanto isso os manifestantes seguiram em direção à Assembleia ao canto de “A luta é todo dia, contra o racismo, o machismo e a homofobia.” Todos os participantes da atividade eram identificados no acesso ao teatro e, ainda, era feito o registro fotográfico. Os ativistas passaram e aguardaram perto do Dante Barone. Já na parte interna, os apoiadores do progressista balançavam a bandeira do Brasil e cartazes com frases como “Vai pra Cuba, lá não tem homofobia. #Bolsonaro 2018” e “O Rio Grande pede desculpa pela Maria do Rosário”, além de cantarem “Bolsonaro, guerreiro, orgulho brasileiro.”
Racistas, fascistas não passarão
Acompanhado dos deputados estaduais Sérgio Turra, Adolfo Britto e João Fischer e dos deputados federais Luis Carlos Heinze e Covatti Filho, Bolsonaro entrou sob aplausos e respondeu com acenos no melhor estilo candidato da direita para as eleições de 2018. Depois que as lideranças progressistas foram mencionadas e começariam seus pronunciamentos, um grupo de ativistas entrou no Dante Barone abafando os cantos dos apoiadores do parlamentar. Aos gritos de “Fascistas, racistas, machistas. Não passarão” e “A luta é todo dia, contra o racismo, o machismo e a homofobia”, eles fizeram um beijaço no local. Passado alguns minutos, os ativistas diminuíram o tom dos cantos e os apoiadores do deputado começaram a responder: “Fora, PT”, “Fora, comunistas” e a “Minha bandeira jamais será vermelha.”
Socos, empurrões e xingamentos
No momento que em que os manifestantes contra o deputado já deixavam o Dante Barone ocorreu um tumulto depois de uma troca de provocações verbais. Uma das ativistas foi empurrada na escada e sofreu uma tentativa de agressão por um apoiador de Bolsonaro, quando outro militante saiu em defesa dela, gerando umagrande confusão. Teve empurrões, socos e alguns até rolaram no chão. No meio do tumulto, alguns jornalistas que cobriam a atividade foram empurrados e, pelo menos, um levou um soco quando tentava apartar uma das brigas, além de ouvirem xingamentos dos apoiadores de Bolsonaro. Os seguranças da Assembleia apareceram e tiveram trabalho para conter os ânimos exaltados de ambos os lados àquela altura.
Com a saída dos ativistas e os ânimos mais calmos, os deputados do PP começaram a falar e foram só elogios às posições conservadoras do companheiro de partido. Anfitrião do evento, Sérgio Turra deu as boas-vindas a Bolsonaro e aos participantes do ato, ressaltando que o país precisa de políticos com “atitude” como o parlamentar carioca. O deputado estadual Marcel van Hattem, que está numa agenda na Holanda junto com secretário estadual de Transportes, Pedro Westphalen (PP), mandou um vídeo e também exaltou as ideias defendidas por Bolsonaro.
Apresentado como “ícone do conservadorismo” no Rio Grande do Sul, Heinze fez um dos discursos mais contundente da tarde. Logo no início, o parlamentar gaúcho disse que “tenho o Bolsonaro como parceiro” na Câmara dos Deputados e avisou: “Alguém tentou tumultuar, mas não vão atrapalhar”, referindo-se à confusão ocorrida pouco antes. “Eu tenho lado e sou da direita” acrescentou Heinze, orgulhoso de sua posição.
“Nós enfrentamos essa gente”
Investigado na Operação Lava Jato, o deputado gaúcho disse que o PT era o partido que apontava o dedo e mais criticava a corrupção e hoje é a sigla mais envolvida em escândalos. “Nunca vi tamanha corrupção”, afirmou, convocando seus apoiadores e de Bolsonaro a tirar o PT do governo federal. Heinze também comentou sobre os protestos que motivou, principalmente nas eleições de 2014, depois de dizer que “quilombolas, índios, gays e lésbicas são tudo que não presta“. “Esse povo que estava te chamando de racista, fascista, nós enfrentamos essa gente e fui o deputado mais votado. O Brasil tem solução”, bradou o progressista gaúcho.
Anunciado como “grande líder” ao chegar à Assembleia, na hora do seu pronunciamento, Bolsonaro colocou óculos escuro e faz graça para a sua plateia batendo no Pixuleco, boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como se o tivesse repreendendo. O deputado continuou polemizando nas declarações seguintes, ao ironizar que na mesma Cuba que não tem homofobia, o líder revolucionário “Chê Guevara matou os homossexuais.”
Simulando por mais de uma vez uma arma, o progressista, em sua fala, também defendeu a revogação do Estatuto do Desarmamento. “Povo desarmado é povo que não reage”, afirmou o deputado, que nesse momento ouviu de seus seguidores “Bolsonaro, guerreiro, orgulho brasileiro.” Ele acrescentou, ainda, que “um fuzil 7.62mm” deveria ser apresentado “aos canalhas do MST.”
O parlamentar aproveitou a oportunidade para também disparar críticas a um de seus principais desafetos na Câmara: a deputada Maria do Rosário (PT), por suas posições a favor das minorias. Enquanto se referia à deputada gaúcha, seus apoiadores gritavam “vagabunda.” Sem citar nomes, sobrou ainda para a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) e para a ex-candidata a presidente Luciana Genro (PSOL). “Essas três que estão na frente das pesquisas não vão levar. Essas três não valem a metade de vocês,” bradou o polêmico deputado, sobre as eleições à prefeitura de Porto Alegre.
Por fim, avisou que a Direita terá candidato à presidência da República nas próximas eleições. “Nós vamos ter candidato em 2018, a direita tem cara, tem proposta, tem voz e tem voto”, afirmou Bolsonaro, que negocia ser candidato pelo PP ou PSC. Ao finalizar a manifestação, ouviu gritos de “mito, mito” dos seus seguidores, que formaram uma longa fila para tirar fotos ao lado do deputado.
Em seu pronunciamento, Bolsonaro aproveitou para fazer uso de frases polêmicas, uma de suas marcas.
Confira algumas delas:
“Eles (manifestantes contra Bolsonaro) não entendem que no socialismo não terá mortadela para todos eles.”
“Nós defendemos a família brasileira, defendemos as criancinhas nas escolas.”
“Estão faltando lideranças da direita em nível nacional.”
“A grande maioria da população é conservadora.”
“Nós não admitimos o comunismo.”
“Mais importante que nossa vida é a liberdade.”
Fonte: Sul 21