Por Ivson Carlos Barros de Nunes.
Atualmente escutamos muito falar-se de pós-modernidade, principalmente no meio acadêmico. Muitas interpretações são dadas a esse termo, mas o que ele quer dizer de fato é quebra de valores, o termo pós remete a uma quebra, no caso, da modernidade, ou seja, uma quebra de valores da modernidade. Mas há quem diga que esse termo represente um avanço na modernidade, como se fosse uma época posterior, ou mais avançada; ainda há quem diga que é uma representação da relatividade da realidade; outros que é uma tendência literária. Bom, diante de tantos conceitos o melhor é entende-la como a relatividade da realidade, pois o próprio termo é relativo a quem o diz, assim, fica evidente qual é a principal questão do termo.
A nossa sociedade tem se globalizado, podemos compartilhar de diversos saberes e diversas culturas que antes era impossível de serem conhecidas, isso, claro, devido ao avanço dos meios de comunicação. Isso tem possibilitado que muitas pessoas adotem costumes que não estão presentes na sua realidade, assim, por exemplo, um indígena pode cantar rap, e um carioca pode se vestir de índio, vemos essas coisas acontecerem no nosso dia-a-dia. Isso porém, nem de longe é uma tendência global, mais são particularidades de alguns indivíduos. Mas é justamente essa onda de afirmação cultural que tem dado condições dos pós-modernos afirmarem que isso se dá devido a uma quebra de valores tidos como absolutos. Esses valores que são o da modernidade. O que é modernidade? A modernidade não está ligada ao mero uso de tecnologias avançadas, como pensam muitos, e é justamente esse pensamento que tem levado alguns a pensar que estamos na pós-modernidade devido a diversas revoluções tecnológicas e rápidas mudanças de hábitos. Na verdade essas mercadorias só estão fortalecendo a modernidade. Ainda existem aqueles que acreditam que a pós-modernidade se configura como uma realidade escorregadia e relativa devido também a essas rápidas mudanças, porém as mudanças que ocorrem na sociedade devido ao avanço da tecnologia estão todas ligadas ao mesmo propósito que existia na modernidade. Ou seja, o fato de uma pessoa mudar de celular constantemente não quer dizer que ela esteja mudando a sua cultura, a sua cultura é a mesma, quer dizer, de consumismo. O fato de as pessoas mudarem seus hábitos quando, por exemplo, surge um programa como face book, é fruto da necessidade de consumir o que é oferecido pelo mercado. Respondendo à pergunta que fiz, a modernidade é a concepção de mundo que surgiu com o iluminismo, a ideia de um projeto de progresso para toda a humanidade, os positivistas acreditavam que todos os povos iriam chagar ao estágio mais avançado mais avançado da humanidade, tinha também os liberais que acreditavam que a livre iniciativa iria trazer progresso para todos, ainda tem o marxismo que pregava que a humanidade se encaminhava para o socialismo. Em outras palavras modernidade é uma totalização da humanidade, é uma crença de todos os homens são guiados pelas mesmas leis e que por isso a verdade é a mesma para todos eles. Isso fez surgir diversas políticas públicas voltadas para a população, como saneamento, vacinas contra doenças, educação obrigatória, cadeias para reprimir ociosos, leis que proibiam prostituição, combate ao homossexualismo, etc., vemos que os modernos viam tudo com as mesmas lentes, quem estivesse fora dos padrões tinha que ser corrigido.
Os avanços das políticas modernas começaram a causar desconforto nas culturas dos povos vistos como não modernos, houve várias resistências, n Brasil houve lutas contra o recolhimento de lixo por parte do Estado, lutas contra a construção de cemitérios, que era visto como assunto das Igrejas, a Revolta da Vacina, todos esses movimentos eram de encontro aos movimentos de modernidade. Os negros resistiam na cultura, pois perceberam que os seus valores estavam sendo destruídos, aí surge os primeiros movimentos em defesa do maracatu. Esse mesmo movimentos ocorre em diversas partes do globo. A culminação do modernismo se deu na Segunda Guerra mundial, onde as potências modernas se enfrentaram, o nazismo era uma ideologia que pregava o progresso com eliminação de raças inferiores, a União Soviética pregava o progresso pela tomada de poder pelo proletariado, e o liberalismo norte americano, acreditava no progresso pela produção de riqueza.
Quando a União Soviética venceu o nazismo, a crença no marxismo se tornou hegemônica na sociedade, as universidades foram tomadas por marxista, e o que estava posto é que o avanço pela modernidade guiada pelo proletariado era inevitável. Os EUA produzem a cultura de massas, a música pop, essa música se espelhou pelo o mundo, ela era o reflexo do liberalismo burguês. Surgi movimentos de contra cultura no Estados Unidos, os jovens protestavam contra as guerras e os valores dominantes, assim, crescem os movimentos gays, feministas, punk, etc., Era uma forma de subverter a cultura. Para alguns, como Olavo de Carvalho, essa contra cultura era fruto de influência da KGB para derrubar os valores do capitalismo e enfraquecer os Estados para a tomada de poder pelo proletariado nesses países. Mas há quem acredite que a própria burguesia fez uso disso para questionar os valores do proletariado como globais. Penso que isso foi fruto da própria degeneração do capitalismo que fez muitos jovens acreditarem que os valores vigentes eram atrasados, mas não descarto a possibilidade da burguesia fazer uso disso. Com a queda do muro de Berlim os intelectuais que pregavam o progresso do socialismo se viram fragilizados e isso contribui para que suas ideias não tivessem mais tanta influência. Outros autores como Foucault começam a se tornar mais atraente a alguns estudantes. Daí surge uma onda de questionar tudo como se tudo fosse relativo. Nada é real, mas apenas fruto de nossos valores crenças.
Mas isso não se tornou uma tendência global e inevitável, mas a burguesia se favoreceu disso para retirar da ordem do dia a luta da classe operária. Na verdade, alguns projetos de modernidade foram derrotados pelo liberalismo, mas isso não quer dizer que esses projetos estejam mortos, na verdade, surgem diversos partidos ligados ao socialismo, justamente por perceberem que essa tendência é inevitável. Mas o liberalismo também é filho da Razão e do Iluminismo, ele é uma vertente do modernismo. Em outros termos a crença em um projeto global ainda está em vigor. A capitalismo não entra na vida das pessoas com repressão direta (não apenas), mas entra através da sua ideologia, o capitalismo pode seduzir as pessoas e molda-las conforme as suas necessidades. Cada vez mais as pessoas vestem os mesmos tipos de roupa, falam as mesmas línguas, cantam as mesmas músicas, etc., isso é uma globalização ou totalização, pode não ser como a do Estado-Nação, mas é um processo civilizador. O diálogo entre as culturas está rompendo as barreiras e homogeneizando o mundo, a classe operária continua crescendo. É claro que vemos as leis em defesas de gays e minorias, mas isso não representa um estancamento da homogeneização. As pessoas estão cada vez mais iguais, mas ninguém percebe isso, pois a igualdade se dá numa cultura que é tida como não cultura, ou seja, na cultura de adaptação as mudanças, o consumo, o desejo de carreira, o individualismo. Assim, a modernização não parou, os seus agentes não são os mesmos, mas ela está avançando como antes.
Parece ser assustador essa totalização, mais é que a humanidade tende a se tornar uma grande nação. Hoje é o capitalismo que está no comando desse processo, mas ele gera em sua base o proletariado que tende a se tornar uma classe universal, pois a relação do homem com a máquina destrói as tradições, essa classe se tornará cada vez mais unidade, pois em todos os lugares viveram nos mesmos padrões de vida. Isso tornará inevitável que o proletariado se levante contra o regime de exploração. Assim, para concluir, não vivemos nenhuma crise de paradigmas, pois a sociedade segue o mesmo rumo que foi pensado na modernidade, além disso, o proletariado não tem nenhuma dúvida de sua exploração, ele não acha isso relativo, a sua luta continua acontecendo, tal como foi no século XIX. Essa visão é uma tentativa de desacreditar no progresso e na melhoria para humanidade, não é primeira vez que ela aparece, mas esteve presente em os momentos de progresso da humanidade, Kant falou da uma relatividade contra os filósofos da Razão, depois veio outro relativismo contra o positivismo, agora vem a pós-modernidade contra o marxismo. Quando eles dizem quebra de paradigmas e utopias se referem única e exclusivamente ao marxismo, pois às outras teorias não lhes importa muito. Relativizar é a melhor forma de esvaziar o debate, de impedir o progresso do entendimento humano, em outras palavras é o medo do progresso. Esse pensamento serve não apenas a burguesia mais a outras classes que temem qualquer mudança, pois estão acostumadas a viver das sobras da mais-valia.
Ivson Carlos Barros de Nunes é estudante de Direito da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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Fonte: O Comentarista Político.