Perante essa situação, não há dúvidas de que pressionarão o governo para continuar recebendo recursos extraordinários e tratamento especial
Por Ariel Noyola Rodríguez.*
A partir da crise econômica de 2008, os bancos de investimentos de Wall Street passaram a ser os principais beneficiados pelas políticas aplicadas pelo sistema da Reserva Federal e do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Não obstante, instituições como o J.P. Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, entre outras, sofreram quedas significativas em seus níveis de lucro durante o terceiro trimestre deste ano. Apesar do enorme apoio governamental, foi impossível para os gigantes financeiros norte-americanos registrar números altos e positivos de forma estável, já que se encontram encravados numa economia que ainda está longe de alcançar a recuperação absoluta.
Sob o capitalismo, nada dura para sempre. As crises econômicas se sucedem uma após a outra. As contradições do sistema não são nunca resolvidas, somente transferidas de um setor a outro, de um país a outro. Se trata, portanto, de uma “crise circular”, segundo definição do marxista britânico David Harvey. O Estado desempenha um papel crucial, mas ao mesmo tempo ajuda a gerar as condições para a acumulação capitalista. Quando a crise estoura, só a intervenção do Estado pode aliviar os danos sofridos pelas empresas e pelos bancos.
Publicamente, os empresários preferem advogar pela liberdade absoluta do mercado, mas a verdade é que quando estão em problemas, quando estão a ponto de quebrar, são os primeiros a pedir ajuda aos seus respectivos governos.
É o que se observa nos Estados Unidos, a principal potência capitalista do planeta. Ao longo dos Anos 90, as inovações financeiras serviram para gerar a ilusão de que as crises econômicas já não seriam tão dramáticas como antes. Colapsos de um tamanho similar ao da Grande Depressão de 1929 pareciam superados.
Segundo a perspectiva dos investidores, a intervenção governamental deve estar limitada, caso contrário podem gerar distorções nos preços dos títulos financeiros. Contudo, essa percepção mudou depois da quebra do Lehman Brothers, já que se algo evitou que os demais bancos tivessem o mesmo destino foi precisamente a agressiva intervenção estatal.
Desde então, JP Morgan Chase, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Bank of America, entre outros, são como afilhados do governo de Estados Unidos. Como esquecer que em pleno desastre financeiro global, em setembro de 2008, Henry Paulson, que nesse momento era responsável pelo Departamento do Tesouro, exigiu que os congressistas do seu país aprovassem imediatamente um pacote de resgate de 700 bilhões de dólares.
No começo, os parlamentares estadunidenses resistiram, mas finalmente, com algumas pequenas alterações, o projeto foi aprovado. Assim, centenas de bilhões de dólares dos contribuintes foram destinados à aquisição de ativos hipotecários que não valiam nada (o chamado subprime) para salvar os bancos da insolvência.
Em dezembro daquele mesmo ano, Ben Bernanke, então presidente do sistema da Reserva Federal (Fed, por sua sigla em inglês), diminuiu a taxa de juros dos fundos federais (federal funds rate) a um nível próximo de zero, e meses depois iniciou um programa de estímulos monetários, também conhecido pelo nome de “Quantitative Easing”.
Entretanto, o mercado de trabalho continua estancado, e os investimentos massivos não aparecem. A dívida pública disparou: enquanto que, em 2006 era de 10,6 bilhões de dólares, agora está por cima dos 18 bilhões de dólares. A dívida das famílias, embora tenha diminuído um pouco, ainda se encontra longe dos níveis registrados antes de 2005. Isso porque os bancos utilizam seus capitais mais para investir na bolsa de valores de Nova York e menos para outorgar crédito às atividades produtivas.
Agora, a prosperidade bancária se esgota. Os lucros dos grandes bancos de investimentos estão em queda livre, segundo o revelado por informes corporativos do terceiro trimestre deste ano. A exceção do Wells Fargo e do Bank of America, o grosso dos bancos estadunidenses registrou números decepcionantes. Diante das incertezas globais, os agentes do mercado se desfizeram dos seus investimentos nos mercados cambiais, de bonos e de matérias-primas (commodities).
Antes de agosto de 2015, quando o índice Dow Jones – que aglutina as maiores empresas industriais dos Estados Unidos – caiu mil pontos, os mercados financeiros pareciam calmos. Como o produto interno bruto (PIB) da economia estadunidense crescia por cima das expectativas, e as políticas de austeridade foram impostas na Grécia meses antes, os agentes de investimentos estavam tranquilos.
Pelo contrário, as últimas semanas deixaram em evidência que essa tranquilidade é muito frágil. Uma das principais preocupações mundiais é a China. Apesar do gigante asiático conservar níveis de acumulação de capital superiores aos que se observam nos países industrializados, a desaceleração de sua manufatura vem golpeando severamente os países emergentes, em especial os exportadores de matérias-primas (commodities).
Nos Estados Unidos, o panorama continua sendo obscuro. O crescimento do PIB no período entre julho e setembro é deprimente, uma expansão de apenas 1.5 % em termos anuais. O mesmo acontece com as cifras do mercado de trabalho.
Nada permite concluir que a recuperação do nível de emprego será sólida, e muito menos que o processo será de crescimento estável. O que pode-se observar como evidência é que o nível de rentabilidade geral se mantém baixo demais, por isso os bancos estadunidenses tiveram seus lucros diminuídos.
É impossível especular nos mercados de renda variável (ações, imóveis, matérias-primas, etc) e obter altos rendimentos eternamente. Os bancos de investimentos dos Estados Unidos se encontram num impasse, já que foram muito beneficiados pelas políticas econômicas dos anos recentes, e agora essa abundância parece que se acaba.
Perante essa situação não há dúvidas de que pressionarão com todas as suas forças para continuar recebendo recursos extraordinários e tratamento especial por parte do governo dos Estados Unidos. Buscarão sabotar qualquer reforma financeira que pretenda por fim à sua exuberância. Por essa razão, a possibilidade de mudar o estado das coisas dependerá, em última instância, da capacidade de resistência dos de baixo.
* Economista da Universidade Nacional Autônoma do México.
Imagem e Fonte: Contralínea/Tradução: Victor Farinelli/Carta Maior