As transições brasileiras e o fim do desenvolvimento

    Por José Eustáquio Diniz Alves.*

    O Brasil passou por diversas transições durante os últimos 200 anos, caracterizados pelo processo de desenvolvimento social e econômico. As principais transições e características são:

    A população brasileira cresceu quase 20 vezes entre 1872 e 2010. Atingiu o máximo de crescimento nas décadas de 1950 e 1960, reduziu o ritmo a partir de 1970 e deve continuar crescendo lentamente até 2040, para, em seguida, fazer a transição para o decrescimento;

    Os homens eram maioria da população brasileira até a década de 1930. A transição da razão de sexo ocorreu a partir de 1940, quando o sexo feminino tornou-se maioria e, progressivamente, tem aumentado o superávit de mulheres no país;

    As mulheres vivem mais do que os homens, são maioria do eleitorado, possuem maior nível de escolaridade e já são maioria na PEA com mais de 11 anos de estudo. Elas estão fazendo a transição da exclusão para o empoderamento relativo;

    A população urbana passou de 19 milhões, em 1950 para 161 milhões, em 2010 (de 36% para 84%). As regiões Norte e Centro-Oeste são as que mais crescem. A transição urbana foi acompanhada pela concentração da população nos municípios com mais de 100 mil habitantes e o interior aumentando a participação em relação às cidades litorâneas.

    Existe um processo de transição epidemiológica e de declínio das taxas de mortalidade e natalidade, sendo que a transição demográfica deve continuar até a inversão das duas curvas (TBN e TBM);

    Antes de 1970, o número médio de filhos por mulher estava acima de 6 e caiu para menos de 2 filhos. Isto quer dizer que a transição da fecundidade já chegou a níveis abaixo da reposição populacional;

    O Brasil está saindo de uma estrutura etária jovem para uma estrutura adulta e caminha para uma estrutura etária envelhecida.
    A razão de dependência era alta entre os jovens e baixa entre os idosos, porém vai se inverte nas próximas décadas. Á partir do final da década de 2030 o número de habitantes de 65 anos e mais será maior do que o de habitantes de 0 a 15 anos.

    Cresce o número de domicílios com 5 ou mais cômodos e se reduz o número médio de pessoas em cada moradia, ao mesmo tempo em que se reduz o tamanho das famílias e aumenta a diversidade dos arranjos familiares;

    O Brasil tem conseguido reduzir as taxas de pobreza, desde 1994 e possibilitado um processo de mobilidade social ascendente com o crescimento das parcelas classificadas como “classe média”; Mas este processo está em perigo de ser revertido com empobrecimento geral do país;

    A população branca passou de 54% em 1980 para 48% em 2010, deixando de ser maioria da população. No mesmo período, as pessoas que se declaram pardas (mestiças) passou de 39% para 43% e as pessoas que se declaram pretas passou de 6% para 7,6%. O Brasil caminha para uma maioria mestiça na população;

    O Brasil tinha, em 1974/75 mais pessoas com déficit de peso do que obesas. Mas em 2008/09 já havia cerca de 50% das pessoas com excesso de peso e cerca de 15% em situação de obesidade;

    Os católicos sempre foram maioria da população brasileira. Em 1970, havia 92% de católicos e 5% de evangélicos, sendo que estes números passaram para 74% e 16% no ano 2000. Os evangélicos já representam mais de 22% das filiações religiosas em 2010 e continuam crescendo.

    Em síntese: o Brasil está:

    Mais urbano;

    Ficando mais feminino e com maior autonomia das mulheres;

    Mais concentrado em grandes cidades (100 mil ou +);

    Mais interiorano;

    Vivendo mais e mudanças no padrão de mortalidade;

    Mais envelhecido;

    Caminhando para o decrescimento populacional;

    Com menos pessoas por domicílio;

    Com maior diversidade dos arranjos familiares;

    Menos hipergâmico e mais hipogâmico;

    Crescimento da classe média até 2013, mas com empobrecimento desde então;

    Com redução do superávit ambiental e biodiversidade;

    Mais miscigenado;

    Mais gordo;

    Mais evangélico;

    Passando do bônus para o ônus demográfico;

    Passando de país emergente para submergente.

    Em termos de desenvolvimento humano houve muitos avanços nos últimos 200 anos. Mas mesmo antes de se completar os dois séculos da independência (2022) o modelo de desenvolvimento encontra-se em crise terminal. Pode ser que o Brasil tenha chegado ao fim da linha, entrando numa fase de estagnação secular ou de retrocesso no desenvolvimento econômico e social. Ver referências abaixo:

    Referências:

    ALVES, JED. As transições sociais, demográficas e econômicas no Brasil, SCRIBD, 15/10/2015

    https://pt.scribd.com/doc/285233696/As-Transicoes-Brasileiras-e-o-fim-do-desenvolvimento

    ALVES, JED. O desperdício do bônus demográfico e o fim do desenvolvimento do Brasil. Campinas, “VI Programa de Capacitação: População, Cidades e Políticas Sociais”, NEPO/UNICAMP, 19/10/2015 http://www.nepo.unicamp.br/eventos/2015/capacitacao2015.html

    *José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]

    Fonte: EcoDebate

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