Debate: “Quão democráticos têm sido os meios de comunicação em Santa Catarina?”

    Por Ana Carolina Peplau Madeira, para Desacato.info.

    O debate sobre a Democratização da Comunicação em Santa Catarina, aconteceu ontem, dia 28 de outubro, às 19 horas, no auditório da Fecesc, em Florianópolis. O tema escolhido foi “Quão democráticos têm sido os meios de comunicação em Santa Catarina?” para ser discutido entre representantes das mídias pública, privada e comunitária, do CDC/SC, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), do Sindicato dos Jornalistas (SJSC), do Conselho Regional de Psicologia e do Ministério Público do estado.

    Durante o evento, foi distribuída a Carta aos Proprietários dos Meios de Comunicação para ser refletida entre os meios representados. O jornalista Renato Igor, representante do Grupo RBS, abriu o diálogo, onde afirmou que nunca recebeu orientação para falar mal ou bem de qualquer pessoa ou entidade. “Falo o que penso, sem restrições. Trabalho com liberdade”, declarou. Defendeu o grupo em que atua, salientou que há um Conselho de Ouvintes na empresa opinando sobre conteúdos.

    “O lucro é essencial ao bom jornalismo”, disparou Renato Igor com a continuação “esta frase é minha”. Segundo o representante do grupo RBS, se há dinheiro, há estrutura de trabalho consolidada. No momento econômico e tecnológico atual, considera lucro essencial para empresas manterem funcionários trabalhando com autonomia.

    O diretor do grupo Ric Record/SC, jornalista Luis Meneghin disse que acredita no papel social da mídia e que a sociedade permite que esta função de interlocutor entre fatos e o público. De acordo com Meneghin, “não há liberdade de imprensa sem ganho econômico. Para manter bons profissionais é caro, custa dinheiro. Se fôssemos ligados há partidos ou igrejas, teríamos dificuldade de informar com imparcialidade, iria enfraquecer as redações. Se temos jornalismo fraco, a sociedade perde”.

    O jornalista Sílvio Smaniotto, da emissora comunitária TV Floripa ressaltou o conteúdo de ódio que tem sido veiculado na grande mídia há anos. Na TV que representa, não se divulga violência. Citou que a mídia pode crescer sem tanta competitividade, com mais colaboração, sem essa lógica do comércio, ao que chamou de matriz. Mesmo assim lembrou que há canais que não falam dos envolvidos na Operação Zelotes, ou do lado negativo das privatizações, como se estivessem alinhadas. “Podem falar de ódio, mas o amor liberta desta matriz”, acreditou Smaniotto.

    O presidente do SJSC Aderbal João da Rosa Filho respondeu à pergunta principal do debate com um contexto histórico brasileiro, “tão democrático quanto o processo de consolidação das empresas de comunicação do estado. Não só de Santa Catarina, mas do Brasil, pois sabemos que RBS e RIC Record são repetidoras de sinal de empresas que assumem posturas políticas”. Concordou com o exemplo de Sílvio, onde a Rede Globo faz leitura do processo com filho do Lula (ex-presidente do Brasil), mas não menciona a própria RBS envolvida.

    “Não sou contra as empresas de comunicação terem lucro”, devolveu o presidente do SJSC. A prioridade dele é que os conglomerados passem por um controle social, assim como defendeu a exigência de diploma para que seja possível desempenhar o jornalismo, o marco regulatório do artigo 5º da Constituição, a nova Lei de Imprensa e o Conselho Federal como um órgão de regulação “nada a ver com censura. Há uma judicialização (sobre a regulamentação do jornalismo) que prejudica os meios de comunicação, as empresas ficam com dificuldades para se enquadrar em categoria, a profissão e os próprios profissionais sofrem mais”, explicou Aderbal Filho.

    A presidente da CUT/SC Anna Júlia Rodrigues comentou que os meios de comunicação do estado deveriam informar, “mas sabemos que quando o assunto é sobre movimentos sociais, sindicais, sempre somos criminalizados. A mídia tradicional tem posição contrária aos trabalhadores. Já fizemos a quinta Marcha dos Trabalhadores e conquistamos só três frases. A Imprensa tem lado sim”. Salientou que são apenas duas famílias que mandam na comunicação de Santa Catarina e arrematou, “queremos que mais empresas tenham esse espaço. A CUT é chamada de governista por muitas empresas que são justamente as que mais recebem verbas públicas. Os meios de comunicação são responsáveis porque reproduzem esses e outros discursos de ódio”.

    O jornalista Cássio Giovani Turra, voluntário da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) relembrou que ninguém estava contra a liberdade de expressão e dos problemas enfrentados pelas rádios comunitárias, desde interpretação de leis, funcionamento, impedimentos burocráticos e apoio cultural. “A radiodifusão comunitária é muito abrangente. Uma emissora de rádio vai catalisando os debates locais/regionais. Tem uma potência muito inferior às comerciais e mesmo assim são processadas pelas rádios comerciais”, reclamou Turra.

    O presidente da Fenaj, Celso Augusto Schröder ressaltou que, “a comunicação não é exclusivamente para atender demandas minhas, é para ouvir a palavra do outro também. É de natureza pública. Fazer este debate é fundamental e com a presença de representantes das empresas”. Registrou a redução de número de leitores de jornais e audiência da televisão como culpa do país que não produz leitores. “Monopólio não é debate socialista ou capitalista. Se há monopólio não há competição, é ausência de mercado por falta de legislação. Veja que nenhum projeto de comunicação foi aprovado pelo Congresso Nacional há 20 anos”, definiu Schröder.

    Debate 4

    Debate 5

    Debate 6

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