Por Ernesto Carmona.
O 1% mais rico possui metade da riqueza mundial, o fracking envenena as águas subterrâneas, 89% das vítimas paquistanesas assassinadas por drones norte-americanos nem sequer eram identificáveis como militantes islâmicos, aumentam os países que agora seguem o exemplo da Bolívia na luta pelo direito humano à água, aprofunda-se o desastre nuclear em Fukushima, cientistas opinam que o excesso de metano ameaça o Ártico e a muito curto prazo põe em risco a vida no planeta (20 anos) pelo aumento de 5 a 6 graus do aquecimento global, o medo da espionagem do governo “esfria” a liberdade de expressão dos escritores de todo mundo, a polícia dos EUA mata mais que qualquer outra do planeta… e com demasiada frequência, óbvio: os pobres recebem menos cobertura dos media que os seus donos multimilionários e, por último, a Costa Rica avança na energia renovável hidráulica… desde que não haja seca. (…)
1.- O 1% mais rico possui metade da riqueza mundial
Em 2016, o 1% da população mundial possuirá mais riqueza que os 99% restantes, segundo um relatório difundido em janeiro 2015 pela Oxfam, uma organização internacional sem fins lucrativos que tem como objetivo combater a pobreza. Para o estudo da Oxfam a desigualdade extrema não é inevitável, mas nos factos é o resultado de decisões políticas e económicas estabelecidas e mantidas pela elite global do poder, os indivíduos ricos cuja poderosa influência mantém o status quomanipulado a seu favor. A proporção da riqueza mundial que pertence ao 1 por cento aumentou de 44% em 2009 para 48% em 2014 e prevê-se que atinja os 50% em 2016.
2.- O fracking envenena as águas subterrâneas
Os aquíferos da Califórnia foram contaminados ilegalmente com cerca de 11 milhões de litros de águas residuais envenenadas desde que foram utilizadas no processo chamado fracking, ou fratura hidráulica do subsolo para extrair petróleo e gás, segundo documentos do Estado da Califórnia difundidos em finais de 2014 pelo Centro para a Diversidade Biológica. Segundo esta fonte, a fuga de contaminantes produziu-se em pelo menos nove poços utilizados pela indústria petrolífera para eliminar resíduos de águas contaminadas, prática que provavelmente se repete noutras latitudes onde também é utilizada a fratura hidráulica para extrair petróleo e gás.
3.- 89% das vítimas paquistanesas de drones dos EUA nem sequer são apontadas como militantes islâmicos
Desde que Barack Obama assumiu a presidência em 2009, calcula-se que os EUA provocaram a morte de 2.464 pessoas em bombardeamentos com aviões não tripulados enviados fora do que Washington declarou como “zonas de guerra”. O número foi divulgado em fevereiro de 2015 por Jack Serle e pela equipa do Gabinete de Jornalismo de Investigação, que mantém uma base de dados com todos os ataques conhecidos – baseando-se em trabalho de campo, relatórios dos media e fuga de documentos – que proporcionam uma imagem mais clara da escala e do impacto do programa de aviões não tripulados dos EUA, em comparação com a informação episódica proporcionada pelos grandes media corporativos de informação.
4.- Muitos países seguem agora o exemplo da Bolívia na luta pelo direito à água
No 15º aniversário dos protestos de Cochabamba, a resistência popular ao controle da água pelas grandes transnacionais continua a expandir-se em todo o mundo, abarcando a remunicipalização dos serviços públicos de água privatizados, a ação direta contra bloqueios injustos à água e à recolha de águas pluviais, enquanto o acesso ao vital elemento se entroniza como direito humano fundamental.
Em janeiro de 2000, o povo de Cochabamba fechou a cidade em protesto contra a privatização do seu sistema municipal de água, que rapidamente duplicou e triplicou as faturas da água. Em fevereiro desse ano, o correspondente do Pacific News Service Jim Shultz divulgou a história na imprensa ocidental com os seus relatórios em primeira mão dos confrontos entre a polícia antimotim e os manifestantes na chamada “guerra pela água”, que hoje se prolonga entre os agricultores locais e os grandes fazendeiros, mas também implica novos “barões corporativos da água”, como o Goldman Sachs, o JPMorgan Chase, o Citigroup, o Grupo Carlyle e outros grandes grupos de investimento que estão a comprar direitos da água em todo mundo a um ritmo sem precedentes.
5.- Aprofunda-se o desastre nuclear em Fukushima
Continua por resolver a crise de 2011 do reator nuclear de Fukushima, Japão, apesar das garantias das autoridades governamentais e dos principais meios de comunicação de que a situação foi contida e, também, não obstante uma avaliação da Agência Internacional de Energia Atómica das Nações Unidas onde afirma que o Japão tem feito “progressos significativos” na limpeza do local. A verdade é que a descarga contínua no Oceano Pacífico da água de refrigeração extremamente radioativa da central nuclear destruída, já detetada ao longo da costa do Japão, tem o potencial de afetar grandes porções do Pacífico e a costa ocidental da América do Norte. Além do possível derrame de plutónio neste Oceano, a Tokyo Electric Power Company (TEPCO) admitiu recentemente que diariamente a central lança no mar grandes quantidades de água contaminada com trítio, césio e estrôncio.
6.- O Ártico está em perigo pelo crescente impacto do metano no aquecimento global
Os níveis de metano na atmosfera atingiram um máximo histórico nos últimos anos. Este gás de efeito de estufa é um dos principais contribuintes para o aquecimento global, bem mais destrutivo do que o dióxido de carbono. Num relatório para Truthout, o jornalista Dahr Jamail citou Paul Beckwith, professor de climatologia e meteorologia na Universidade de Ottawa: “Nas etapas iniciais, a alteração climática será abrupta para o nosso sistema climático, sem controle, conduzindo a um aumento de temperatura de 5 a 6 graus centígrados dentro de uma ou duas décadas”. Tais mudanças terão “efeitos sem precedentes” para a vida na Terra.
O derretimento dos gelos árticos lançará o metano na atmosfera. “O que acontecer no Ártico não ficará no Ártico”, observou Beckwith. A perda de gelo ártico afeta a Terra como um todo. Por exemplo, ao diminuir a diferença de temperatura entre o Ártico e o equador aumentará a potência das correntes, que por sua vez acelerarão o derretimento do gelo ártico.
7.- O medo da espionagem dos governos condiciona liberdade de expressão dos escritores
A vigilância massiva lança a dúvida nos escritores de todo mundo de que os governos democráticos respeitem os seus direitos à intimidade e à liberdade de expressão, segundo um relatório de janeiro de 2015 do PEN America baseado nas respostas de 772 autores de cinquenta países. Uma reportagem de Lauren McCauley em Common Dreams além de difundir o PEN América Report deu a conhecer um relatório de julho de 2014 da União Americana das Liberdades Civis e da Human Rights Watch onde se dá conta que jornalistas e advogados dos EUA evitam cada vez mais trabalhar sobre temas potencialmente controversos devido ao medo da espionagem do governo.
8.- A polícia dos EUA mata… e com demasiada frequência
Em comparação com outros países capitalistas desenvolvidos, os EUA são sem dúvida diferentes quando se trata do nível de violência estatal dirigida contra as minorias, informou Richard Becker, do Liberation, em janeiro de 2015. Usando números de 2011, Becker escreveu que numa base per capita “a taxa de mortes pela polícia dos EUA foi aproximadamente 100 vezes maior do que a dos polícias ingleses em 2011”, 40 vezes mais letal que a taxa dos polícias alemães e 20 vezes mais mortífera que a dos seus colegas canadianos. Becker disse que provavelmente este não é o tipo de “excecionalismo [norte] americano” que o presidente Obama tinha em mente quando se dirigiu aos cadetes graduados de West Point em maio de 2014.
9.- Pobres recebem menos cobertura dos media do que os multimilionários
Em junho de 2014, a Equidade e Exatidão na Informação (FAIR, na sigla em inglês) publicou um estudo onde mostra que a ABC World News, a CBS Evening News e a NBC Nightly News dão mais cobertura mediática aos 482 multimilionários dos EUA do que aos 50 milhões de pessoas que hoje vivem na pobreza. Além disso, transmitem quase quatro vezes mais histórias que incluem o termo “multimilionário” do que notícias utilizando vocábulos como “pessoas sem casa” ou “bem-estar”.
10.- A Costa Rica avança na energia renovável
Em 75 dias consecutivos dos primeiros meses de 2015, a Costa Rica não queimou nenhum combustível fóssil para gerar eletricidade. Graças às fortes chuvas atribuídas às alterações climáticas, as centrais hidroelétricas geraram quase a totalidade da eletricidade do país, que juntamente com os recursos geotérmicos, o vento e as fontes de energia solar anulam a dependência de fontes fósseis como carvão e petróleo.
Um relatório de Myles Gough em Science Alert indica que os primeiros setores da Costa Rica são o turismo e a agricultura, que requerem pouca energia, em comparação com extração mineira ou a indústria. A nação também tem características topográficas (incluindo vulcões) que facilitam a produção de energia renovável. O problema pode colocar-se perante eventuais secas originadas pelas alterações climáticas.
Artigo de Ernesto Carmona, jornalista, escritor chileno e jurado internacional do Project Censored, publicado em Proyecto Censurado. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
Fonte: Esquerda.net