Chavannes Jean Baptiste. Foto: Wálmaro Paz.
Por Wálmaro Paz, de Porto Príncipe.
A menos de 15 dias da data marcada para as eleições, cinco dos 54 candidatos que estão concorrendo à presidência do Haiti denunciam um golpe de Estado eleitoral e propõem a anulação total das eleições. Além da dissolução do Conselho Eleitoral Provisório, o afastamento do atual presidente e a criação de um governo de transição.
Simon Derras, Edmonde Supplice Branzile, Wesner Policarpe, Judy C. Roy e André Michel compõem a direção deste fórum que se autodenomina “Espaço de Resistência Contra o Golpe de Estado Eleitoral”.
O grupo conta ainda com o apoio de Myrlande Manigat, que foi a oponente nas ultimas eleições do atual presidente Michel Martelly, e que sonha em fazer parte do governo de transição.
Fanmi Lavallas – do partido do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide – também denunciou a existência de um golpe em andamento, porém sua candidata Marise Narcise continua em campanha política tradicional.
Líder dos camponeses
Posição diferente têm o candidato do Kontrapepla (Mutirão de Trabalhadores e Camponeses para a Liberação do Haiti), Chavannes Jean Baptiste. Para ele, o governo de transição pode ser o início do processo de recolonização do Haiti com a intenção de dominar o potencial turístico e mineral das ilhas que compõem o país.
“Não aceitamos uma transição que não sabemos do que se trata e isto vem da comunidade internacional. Para mim, isso pode ser o primeiro passo para a recolonização do país”, afirma o líder camponês.
Chavannes ainda aponta que não está em uma campanha tradicional, mas utilizando do espaço político para organizar e mobilizar os camponeses na resistência ao golpe.
“Organizar os camponeses para a resistência é a chave para a saída do túnel”, afirmou ele e justificou que está utilizando todos os espaços possíveis para isto. Entre essas construções, já foram reunidas cerca de 6 mil lideranças camponeses nas diversas regiões do país. Ele espera agora reunir os trabalhadores da região de Porto Príncipe.
O líder da Via Campesina entende que o povo deve lutar para assumir o controle do processo eleitoral, independente dos interesses internacionais, e que apoiar um governo de transição no atual momento é extremamente perigoso, “pois pode ser justamente o que os Estados Unidos pretendem no caso da eleição de um candidato anti-imperialista”.
Ele ainda pontua que “o secretário de Estado norte-americano John Kerry já deu o recado a Martelly para conter a violência e que deve sair a sete de fevereiro deixando o mandato para seu sucessor”.
Ele justificou continuar participando do processo por causa dos mais de 130 candidatos a outros cargos de seu partido que resolveram continuar na disputa depois de dois dias de discussões no início de outubro.
Lógica do golpe
De acordo com Chavannes, a lógica do golpe em andamento é a seguinte: Se eleito algum dos candidatos que apoiam a permanência da Minustah e a dominação, por exemplo Jovenel Moise, do PHTK, ou Jude Celestin, do Lapeh, não haveria problemas.
Porém, se for eleito um candidato de oposição ao sistema atual, a “comunidade internacional” poderá dizer que houve a pequena participação popular nas eleições, tornando-a ilegítima. “Isto acontecerá por causa da intimidação e da violência, daí a necessidade de um governo de transição escolhido por eles”, explica Chavannes.
Fonte: Brasil de Fato.