Por Isaura Daniel.
São Paulo – A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bianca Graziela Souza Gomes da Silva, desembarcou no último final de semana na cidade egípcia de Assuã para colocar em prática seu projeto de pós-doutorado e dar aulas de português. O tema de estudo da brasileira é o ensino de português para falantes de árabe e ela viu em um edital da Universidade de Assuã procurando professores do idioma a oportunidade de fazer sua pesquisa de campo e desenvolver uma parceria com a instituição egípcia.
Bianca no Cairo: que árabes e brasileiros falem sem intermediários
As classes para graduandos da Faculdade de Idiomas e Tradução começaram nesta segunda-feira (28) e são vinculadas ao Departamento de Português da universidade. “Esse departamento é o primeiro do gênero no mundo árabe. Já tivemos notícias de vários cursos livres de português em países árabes e temos na UFRJ, por exemplo, o ensino de português para estrangeiros. Mas, agora, trata-se de formar profissionais de língua portuguesa no Egito. É o primeiro curso de graduação em língua portuguesa no mundo árabe”, afirma.
Bianca é uma das professoras parceiras do professor da UFRJ, João Baptista Vargens, na elaboração do livro “Português para falantes de árabe”, de 2007. “Foram decisivos a experiência do professor João Baptista e o fato dos professores de Assuã conhecerem nosso livro, que se trata de um método de português para falantes de árabe”, afirmou Bianca para a ANBA sobre a sua seleção. Segundo ela, um dos objetivos da experiência em Assuã é ampliar o método da publicação para atender um curso como esse do Egito, de graduação em português para falantes de árabe.
A carioca vai ficar no Egito até junho do ano que vem. Depois outros alunos formados no curso português-árabe do Setor de Estudos Árabes da UFRJ devem substituí-la. Bianca segue vinculada à instituição de ensino do Rio como professora efetiva, mas está licenciada para o estágio. O projeto será supervisionado e orientado pelo professor Vargens e pelo egípcio Maged El Gebaly, que coordena o Departamento de Língua Portuguesa da Universidade de Assuã.
A expectativa da professora é que a iniciativa gere uma aproximação das culturas dos dois países sem uma língua intermediária, com brasileiros falando árabe e árabes falando português. “É função da academia promover esse intercâmbio cultural. Essa pesquisa será iniciada agora e englobará muitos estudantes interessados nos dois idiomas. Quando o ensino do português se espalhar pelo Egito e o ensino árabe pelo Brasil a partir desse intercâmbio, poderemos atestar o sucesso do projeto”, afirma Bianca, ressaltando a importância do estímulo dos seus orientadores Gebaly e Vargens para tal.
O departamento ao qual Bianca estará ligada utiliza projeto pedagógico baseado na perspectiva libertária do educador brasileiro Paulo Freire. Para o ensino são adaptados métodos e manuais de português para estrangeiros, segundo as necessidades das turmas. O foco é do português do Brasil, mas alguns materiais usados são do ensino do idioma em geral. De acordo com a brasileira, os professores desenvolvem uma metodologia intercultural que considera as semelhanças e diferenças entre Brasil e Egito. “Sendo o ensino em uma cidade turística do Egito, as didáticas sempre vêm acompanhadas com atividades de campo nos locais de atração do turismo brasileiro”, conta.
Essa é a primeira vez da carioca no Egito. “Estou gostando muito”, afirma a professora, que antes de ir para Assuã, ficou alguns dias no Cairo. Ela conta que já no Brasil foi recebida com muita hospitalidade por diplomatas egípcios e no próprio Egito pelo embaixador Ruy Amaral e pelos professores da universidade. “O povo egípcio com quem estive até agora não tem poupado sorrisos e expressões de cordialidade. Foram ótimas as primeiras horas que puderam ser iluminadas pela visita às pirâmides. É ótimo estar no Egito”, afirma Bianca.
Hoje com 37 anos, a pós-doutoranda ingressou na UFRJ aos 19 anos no curso Português-Árabe da Faculdade de Letras. Ela logo sentiu que estava no lugar certo e não parou de se dedicar ao idioma desde então. “Estudei com muito ardor porque gostei do idioma e por entender que precisava criar um caminho profissional nesta área”, relata. Formada, Bianca foi incentivada por Vargens a fazer a especialização em estudo contrastivo do português e do árabe, o que rendeu o livro “Português para falantes de árabe”.
Bianca ainda fez mestrado e doutorado em língua portuguesa, deu cursos e aulas particulares de árabe. Foi professora substituta no Setor de Estudos Árabes da UFRJ e depois, com concurso feito, se tornou professora efetiva da universidade. “Meu interesse por essa cultura surgiu assim que eu ingressei no curso português-árabe. Posso dizer que tenho um novo interesse: que os egípcios, os árabes em geral, possam conhecer a cultura brasileira através da língua portuguesa a fim de que os países, Brasil e Egito, possam contar com esses futuros professores para estreitar ainda mais suas relações”, afirma.
Fonte: Anba.