Sou negro
Sou mulher
Sou indígena
Sou muçulmano
Sou comunista
Me excluis porque precisas um inimigo
Uma justificativa para roubar
Um sentido para torturar
Uma moral para ocupar
Uma oportunidade para matar
Um direito que nunca te dei
Uma prece que nunca te rezei
Me excluis porque tens medo
Medo da igualdade
Medo da fraternidade
Medo do abraço
Medo da esperança
Medo de mim
Medo da vida
Me excluis e te excluis
Por tua falta de razão
Por tua solidão infinita
Por tua pobreza espiritual
Por teu atraso conservador
Por tua fealdade insepulta
Te excluis, não me excluis
Porque és minoria ínfima
Porque és odioso
Porque tramas teu labirinto
Sem portas, sem janelas
Porque teu corpo não passa
De um cartão bancário
Plástico, insípido, insensual, assexuado
Só tens vida com minha morte
Por isso te excluis,
Pois, para tua infinita dor
Eu, excluído, atravesso os tempos,
Te observo do céu, da terra,
Dos rios e bosques,
E te vejo queimando
Na inquisição da tua estatura medieval
Me segues excluindo
E desapareces na história
Até não ser nem remota lembrança.
Raul Fitipaldi.
Foto: Arquivo de internet.